quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Não dá para ficar de fora da crise

Semana de 12 a 18 de janeiro de 2009

No decorrer dos primeiros dias do ano de 2009 foram divulgados dados econômicos sobre as manifestações da crise que, a partir dos países ricos, passaram a se apresentar no território brasileiro. São informações sobre demissão de trabalhadores, fechamento de empresas, queda da produção e das vendas, fatos que começaram a ocupar as agendas dos governantes, empresários e trabalhadores.
Uma pesquisa realizada pelo IBGE no comércio varejista brasileiro afirma que houve queda nas vendas, no último trimestre de 2008, especialmente em outubro e novembro (após ajustes sazonais). Os setores que mais reduziram suas vendas estão ligados ao crédito, como Móveis e eletrodomésticos e Equipamentos de informática, com quedas de 3,3% e 9,8%, sobre outubro, respectivamente. No segmento de veículos e motos, as vendas caíram 20,3%, em comparação a novembro de 2007.
No final do ano verificou-se queda na produtividade industrial. Até setembro de 2008, a taxa acumulada da produtividade chegou quase a 4%, e depois diminuiu para 3,2%, em outubro, e 2,5%, em novembro, conforme cálculos da consultora Tendências. Diante disso, os analistas consideram que, nos próximos meses, além da diminuição da demanda e dos investimentos haverá aumento da taxa de desemprego.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, os impactos da redução da produção industrial, sobre o emprego, devem aparecer mais intensamente nos primeiros meses de 2009. “A desaceleração já estava em curso antes da crise. O que agora preocupa é o sinal”, completa Rogério.
Já ocorreram demissões em torno de 4,5 mil postos de trabalho na Zona Franca de Manaus, no ano passado, e algumas empresas desse pólo esticaram as férias coletivas e outras negociam redução de jornada. No setor automobilístico, a General Motors do Brasil anunciou dispensa de 744 funcionários na unidade de São José dos Campos (SP), em 13 de janeiro último.
Com o fim das férias coletivas dos empregados ligados às montadoras de carros, houve início das negociações entre as entidades trabalhistas e o empresariado, no intuito de procurar propostas alternativas para evitar demissões. As entidades Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical defendem o aumento da concessão de férias coletivas ou a redução do número de horas trabalhadas; mas divergem entre si quanto as hipóteses de cortes salariais e da suspensão temporária dos contratos de trabalho, opções colocadas pelas entidades patronais, como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
O que aparece como unanimidade entre todas as representações, citadas no parágrafo anterior, é a opinião sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic. Na reunião com o presidente Lula, no dia 19 de janeiro, os representantes das principais centrais sindicais pediram uma redução de dois pontos percentuais na taxa Selic, atualmente em 13,75% anual. Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, “se a taxa de juros não baixar, parte da culpa do desemprego será do governo”.
Com a divulgação dos principais índices de inflação, como o IPCA (Índice Nacional ao Consumidor Amplo), o qual ficou, em dezembro, em 5,9%, dentro do intervalo da meta do governo, especialistas concordam que não há motivos para que a taxa Selic continue no atual nível. Dentre os principais motivos para a desaceleração dos índices de inflação estão as quedas da atividade econômica e do preço das commodities.
Acuado por todos os lados, o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, tenta justificar a política de juros altos ao afirmar em dias anteriores: “A política monetária adotada pelo Banco Central é adequada para preservar o poder de compra da população e a manutenção do ganho real dos salários. Estes são os principais dividendos da estabilidade”.
Enquanto isso, e para agravar a situação, a fuga de divisas do país, nos primeiros seis dias úteis de 2009, atingiu a cifra de US$ 353 milhões. Tal saída foi intensificada pela crise internacional, em um movimento de migração de dinheiro do Brasil para cobrir buracos no caixa das empresas, no exterior.
No dia 21 de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) finalmente decidiu reduzir a taxa Selic em um ponto porcentual, para 12,75% ao ano, após uma semana de especulações por vários setores da sociedade. A última redução do juro de pelo menos um ponto porcentual aconteceu há mais de cinco anos, em dezembro de 2003, quando a taxa Selic caiu de 17,5%, para 16,5%.
Com relação às demais economias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou, na última quinzena, que o panorama econômico mundial, para 2009, é “triste”. O Fundo informou também que poderá precisar de outros 150 bilhões de dólares para ajudar os mercados emergentes e nações mais pobres a lidar com os efeitos ocasionados pelo agravamento da crise econômica.
Ao mesmo tempo, o governo da Alemanha apresentou seu primeiro pacote de estímulo econômico com um orçamento de 50 bilhões de dólares. A Alemanha obteve, em 2008, o menor crescimento econômico, em três anos, puxado pela forte desaceleração das exportações. Analistas concordam que o país deve passar pela pior recessão desde o pós-guerra.
O plano prevê investimentos, corte de impostos (como forma de incentivar compras de carros novos), formação de um fundo de garantias para as empresas com problemas, e um prêmio de 100 euros, por filho, para as famílias.
O mau resultado da Alemanha fez com que a China se tornasse a terceira maior economia do mundo, pois, enquanto o país europeu cresceu 1,3%, a China expandiu seu produto em 2,5%, após correção de cálculos do governo chinês. Além de ser a nação que mais contribui para o crescimento mundial, a China é a maior compradora de títulos do Tesouro norte-americano, ao deter 652,9 bilhões de dólares desses papéis.
Contudo, a China também sente as pressões da atual conjuntura econômica. Houve queda das exportações chinesas, em dezembro, por causa da redução na demanda externa por produtos eletrônicos, brinquedos, roupas e aço. A importação também caiu, cerca de 21,3%, como resultado da menor procura por matérias-primas usadas na indústria de transformação. As conseqüências de tais fatos são demissões nas fábricas, protestos, taxa de desemprego urbano chegando a 9% e queda de investimentos estrangeiros.
Para contornar a situação, o governo chinês prepara um pacote de ajuda para proteger suas indústrias siderúrgica e automobilística. As propostas incluem redução ou isenção de tributos sobre a compra de carros, e assistência de 585 milhões de dólares para os setores industriais.
Não apenas as grandes economias, como as dos Estados Unidos, da China e da Alemanha, formularam planos de ajuda financeira. Países importantes como Rússia e França, seguidos por outras nações, como Argentina, Equador e Indonésia, também planejam seus “pacotes”. O que há em comum entre estes planos são as medidas protecionistas. Para a Organização Mundial do Comércio (OMC) a recessão deverá gerar uma reação protecionista, o que ameaça a recuperação da economia mundial. Tal como afirmamos na análise da semana passada, com a intervenção estatal de tipo keynesiana introduzida no cenário, a dúvida que continua a pairar é quanto à forma que ela assumirá.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda de Economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O regresso a Keynes

Semana de 05 a 11 de janeiro de 2009

A crise, que vem fustigando a economia mundial, com manifestações específicas em cada região do globo, conforme o ritmo e graus de desenvolvimento de cada economia local, ou até mesmo nacional, parece ainda longe do fim.
Nos Estados Unidos, todos aguardam um pacote de estímulos, não inferior a US$ 1 trilhão, que virá com a administração Obama. Ali, a situação caracteriza-se pelas dificuldades de negócio e principalmente pelo crescimento assustador da taxa de desemprego. Somente em dezembro último, detetou-se um corte de 524 mil postos de trabalho, o que elevou a taxa oficial de desemprego para 7,6%, o pior índice em 16 anos. Durante todo o ano de 2008, 2,6 milhões de empregos desapareceram, sendo que 73% deles aconteceu nos quatro últimos meses. O crescimento do desemprego é mais acentuado para trabalhadores latinos. Esse foi o pior resultado anual de desemprego desde 1945.
Todos os setores têm sido atingidos e esse fenômeno não é uma exclusividade americana, mas tem sido comum a todas as economias nacionais, tais como China, India, e as economias europeias, onde as preocupações dos empresários e dos consumidores parecem convergir, pois cresce a taxa de desemprego, que, em novembro último, atingiu os 7,8%.
Ainda nos EUA, o New York Times divulgou que as siderúrgicas aguardam o pacote salvador de Obama. Esse segmento, que entrou em crise no melhor de sua saúde, passou a ser o melhor indicador da evolução da recessão. A produção do aço despencou 50%, desde Setembro. Ou seja, de 2,1 milhões de toneladas por semana, em 30 de Agosto, para 1,02 toneladas por semana, no fim de Dezembro.
Na Áustria, a notícia em destaque foi o controle do Bank Medici, em Viena, pelo órgão regulador da economia das instituições financeiras do país.
Na China, o grupo Lenovo, quarto maior produtor mundial de computadores pessoais, planeja demitir funcionários no centro de operações, em Pequim. A perspectiva da Dell e Lenovo são semelhantes. A Dell, segunda maior produtora mundial de computadores, planeja cortar entre 1,9 e 3 mil postos de trabalho.
Os indianos falam em 10 milhões de demissões e no Chile é anunciado um plano de ajuda financeira de US$ 4 bilhões.
Na Europa, o industrial alemão, Adolf Merckle, endividado, suicida-se.
Economistas, em geral, mesmo aqueles que custaram a admitir a possibilidade de uma crise do sistema mundial capitalista, dividem-se apenas quanto a longevidade do fenômeno. Uns, como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, que foi dos primeiros americanos a anunciar o desastre da economia de mercado, em 2008, em recente comentário na Bloomberg News, prevê “uma retração profunda e prolongada que vai durar pelo menos até o final de 2009” com uma fraca recuperação, em 2010. Alguns otimistas, no entanto, julgam e difundem a idéia de que se os dominós caírem corretamente, o fundo do poço aproxima-se com mais velocidade e a economia entrará em recuperação, até julho deste ano. Num caso, ou no outro, todos esperam a intervenção do Estado para que a economia encontre um novo ponto de equilíbrio, que, espontaneamente, nunca seria alcançado ou somente o seria, através de um processo lento e doloroso para as populações.
Um pouco por todos os quadrantes do globo apresenta-se o mesmo enredo, muito embora com cenários diferentes, como não podia deixar de ser.
Assistimos o desenrolar de uma crise de superprodução, nada que teoricamente não se conheça e que na adulta vida do capitalismo já não se tenha manifestado anteriormente. No Brasil, no setor exportador, enfrentam-se dificuldades, que prometem ser agravadas em 2009, em consequência da queda da demanda mundial. Lembrem-se que o saldo da Balança Comercial sofreu um duro recuo de 38,2% apresentando um saldo de US$24,735 bilhões. Para 2009, segundo a visão da Associação dos Exportadores do Brasil, pela voz do seu Vice-Presidente, José Augusto de Castro, os embarques brasileiros vão conhecer uma queda no volume de exportações de US$ 29 bilhões com relação a 2008. A CONAB, por sua vez, prevê uma safra 4,9% menor do que em 2007/08. Em um cenário otimista, a produção brasileira de grãos será de 140,2 milhões de toneladas e, em cenário pessimista, 137 milhões de toneladas. Na Bolsa de Valores, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. Segundo dados divulgados, o mercado interno teve um crescimento muito aquém do esperado. O setor de alimentos, que tinha expectativas de crescimento de 4% inicialmente apresentou um crescimento das vendas da ordem dos 1,4% a 2%. Quanto ao mercado de trabalho, por maior que seja a consciência da nação, o desemprego persiste e cresce. O setor financeiro, respondendo aos estímulos e as imposições do soberano mercado, centraliza-se, concentra-se, ao mesmo tempo em que, através dos financiamentos da crise, arranca lucros inimagináveis. As fusões e aquisições seguem o seu rumo inevitável, Nessa semana que passou, o Banco do Brasil anunciou oficialmente (sexta feira, 09.01.09) a compra de 49,99% do capital, com direito a voto, do Banco Votorantim, por R$ 4,2 bilhões. O Banco não foi estatizado por diferença de 0,02% nas ações. Esse foi apenas mais um passo no caminho da concentração desse mercado, que no momento já se apresenta de tal forma, que os dez maiores bancos do país respondem por 94% das 18,9 mil agências bancárias existentes. Se considerarmos, apenas os cinco maiores bancos, a concentração chega a 90,1%, contra 57,4% das agências, em 1999.
Mesmo com um quarto trimestre muito fraco para os negócios, em geral, o Brasil apresentou um novo recorde do volume de fusões e aquisições, cujo volume somou os US$ 95,34 bilhões, 62,25% mais do que o volume apresentado em 2007. O desempenho foi oposto aos resultados somados no mundo, onde foi observada uma retração de 29,2% no ano.
Entretanto, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. A superprodução atinge vários setores. Dados do desempenho da indústria brasileira, de acordo com a Pesquisa da Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dão conta da quebra física da indústria nacional em Novembro com relação a Outubro, de 5,2% e uma retração de 7,9%, entre Setembro e Novembro. A previsão para 2009 é de que o setor de alimentos vai ser muito afetado.
O desemprego no Brasil é cada vez mais preocupante. Somente a Renault suspendeu, na semana em análise, o contrato de 1000 metalúrgicos, durante cinco meses, e a Philips anunciou medida semelhante, ambas empresas protegidas por uma base legal, garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT artigo 476). Com a preocupação de evitar cortes a Força Sindical reuniu-se com a Fiesp, aceitando negociar redução de salários.
Espera-se algumas medidas de intervenção econômica, principalmente mudanças na política financeira. O mercado espera queda na taxa de juro como resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que se deve realizar entre 22 e 23 desse mês. O Ministro Guido Mantega já afirmou, que o recuo da inflação abre espaço para um corte na taxa de juro e até o presidente da Febraban apelou para que a redução desta taxa seja efetivada mais rapidamente, sugerindo inclusive a antecipação da reunião do Copom.
Com esse quadro típico de uma crise cíclica de superprodução, as atenções voltam-se para a personagem principal: a crise. O grande centro emissor de idéias, os Estados Unidos da América, vai dando o mote e as economias em todos os cantões do mundo, vão introduzindo um outro modo de pensar e de agir. Com o Brasil não acontece diferente e, dessa forma, abrem-se as cortinas para a entrada triunfal do keynesianismo, na passarela. A intervenção keynesiana, aclamada de pé, é introduzida na cena, a política econômica avança e está expulsando dos governos, oficialmente, o Consenso de Washington, sem protestos e sem argumentos contrários.
A discussão passa a outro plano. Não se discute liberalismo versos intervencionismos, mas somente o “como intervir”.

Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb .
progeb@ccsa.ufpb.br.

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A Crise Econômica e o Mundo do Trabalho

Semana de 29 dezembro de 2008 a 04 de janeiro de 2009

A redução do nível de atividade econômica mundial, a restrição ao crédito e o colapso do sistema financeiro internacional, estão afetando de maneira significativa o rendimento dos trabalhadores e o emprego. No final do ano passado, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um relatório sobre a “Desigualdade de Rendimentos na Era da Globalização”, com dados reveladores sobre o atual mundo do trabalho. Segundo o Relatório, em 51 dos 73 países pesquisados, a proporção dos salários, como parte total dos rendimentos, diminuiu, nas últimas duas décadas. A maior redução foi registrada na América Latina e no Caribe (-13%), seguida da Ásia e Pacífico (-10%) e das Economias Avançadas (-9%). Durante o mesmo período, verificou-se também que a diferença entre os 10% dos assalariados, com rendimentos mais altos e os 10%, com rendimentos mais baixos, aumentou em 70%. Somente para se ter uma idéia, em 2007, os diretores executivos das 15 maiores empresas dos Estados Unidos receberam salários 500 vezes superiores ao do trabalhador médio norte-americano, quando esta diferença, em 2003, era de 300 vezes.
Essa desigualdade entre os rendimentos é fruto da atual organização institucional das grandes corporações que dominam a economia mundial em diversos setores. Tal sistema permite que os altos executivos disponham de uma posição de negociação privilegiada dentro da empresa, enquanto que os operários de chão de fábrica ficam em uma posição debilitada, com muito pouca, ou quase nenhuma capacidade de negociação, mesmo estando organizados em sindicatos. O mesmo Relatório da OIT mostra que houve uma considerável diminuição da sindicalização, nas últimas duas décadas. Entre 1989 e 2005, a densidade de sindicados diminuiu nos 51 países pesquisados, com exceção de sete deles: Brasil, China, Hong Kong, Índia, Paraguai, Singapura e Espanha, nos quais houve um aumento no número de sindicatos. Fato que já era de se esperar, pois, excluindo a Espanha, todos os outros são países ditos emergentes, onde os trabalhadores ainda estão se organizando institucionalmente para efetuar negociações coletivas. Na Europa Central e nos demais países europeus, a densidade de sindicatos foi drasticamente reduzida. Em alguns países da antiga Europa de Leste, como República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia e Lituânia, onde, nos anos do regime socialista, havia quase 100% de filiação dos trabalhadores a algum sindicato a redução foi de mais de 50%.
Assim, várias das conquistas históricas dos trabalhadores, concretizadas em uma série de direitos trabalhistas, estão sendo simplesmente varridas do ambiente de trabalho. Um caso ilustrativo disto foi o dagrande fabricante mundial de computadores, a Dell, que, em meio à crise, “pediu” aos seus funcionários, coagidos pelo fantasma do desemprego, para tirarem cinco dias de licença não remunerada.
Desde o início da crise econômica, milhões de trabalhadores já foram demitidos pelos bancos e multinacionais do mundo inteiro. Só no Reino Unido 1,8 milhões perderam o seu trabalho, em 2008, e atualmente o governo inglês é obrigado a pagar pensões a mais de 980 mil pessoas. Nos Estados Unidos, foi eliminado 1,2 milhão de postos de trabalho, entre janeiro e novembro, e na China o número de desempregados já chega a 4% da população economicamente ativa, um nível que é considerado como crítico pelo Ministério de Recursos Humanos e Estabilidade Social do país. E o número absoluto de desempregados é provavelmente ainda maior, pois os trabalhadores imigrantes não foram computados na estatística, embora representem mais de 200 milhões de pessoas.
A OIT prevê ainda que cerca de 20 milhões de trabalhadores poderão se somar às filas do desemprego mundial, como conseqüência da crise. “Necessitamos de ações governamentais rápidas e coordenadas para evitar uma crise social que poderá ser grave, duradoura e global”, declarou Juan Somavia, diretor geral da Organização. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o número de trabalhadores desempregados no planeta, passará, de 190 milhões, em 2007, para 210 milhões, em 2009. Com isso o número de indivíduos que vivem com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e os que vivem com menos de dois dólares por
dia, em mais de 100 milhões. Somavia ressaltou ainda que as novas projeções poderiam estar subestimadas, caso os efeitos da atual contração econômica não sejam enfrentados com rapidez. Enquanto o peso da crise cai sobre a cabeça dos trabalhadores, os pacotes de ajuda as grandes empresas não param de aumentar. Estima-se uma cifra em torno de US$ 7,5 trilhões. Segundo o professor Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas, a ajuda financeira dos Governos já ultrapassa a casa de 12% do PIB mundial. Com muito menos seria possível combater a pobreza e investir o necessário para acabar com o aquecimento global, lembra o professor. De acordo com a ONU, seria possível exterminar a pobreza com apenas 1,5% do PIB mundial, o que demonstra, por um lado, o tamanho do desespero das autoridades governamentais na tentativa de salvar o sistema capitalista mundial e, por outro, o profundo descaso dos mesmos em relação à fome e à pobreza mundial.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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