sábado, 2 de julho de 2011

O pau vai quebrar!

Semana de 20 a 26 de junho de 2011

Nelson Rosas Ribeiro[i]

No começo de junho, afirmamos em nossa Análise que estávamos entrando em um beco sem saída. A situação continua a piorar e agora, estamos afundando num buraco sem saída. A economia mundial não consegue passar à fase da recuperação. A violenta crise não foi suficiente para cumprir o seu papel saneador dos excessos do capitalismo. É preciso mais destruição. E, na queda de braço, o capital financeiro continua a ganhar garantindo seus rendimentos enquanto o povo deve pagar a conta.

Mas, parece que o povo está ficando irritado por todo o mundo. A situação da Grécia continua a agravar-se. O FMI só libera a nova parcela de 12 bilhões de euros mediante garantias mais fortes do governo. A União Européia (UE) promete mais 120 bilhões de euros, mas também exige medidas de austeridade. O parlamento reúne-se para aprovar o pacote proposto pelo governo enquanto o povo grita e se manifesta nas ruas. Quem vai ganhar?

Mas não é só a Grécia. As medidas restritivas espalham-se por toda a Europa. Os funcionários públicos estão sendo os alvos preferidos. Seus salários foram reduzidos em muitos países: 2,5% na Alemanha, 5% na Espanha, 10% em Portugal, 13% na Irlanda, 25% na Romênia, 50% na Letônia, etc. Além disso, os salários nominais foram congelados, por um a três anos, na França, Itália, Portugal, Espanha, Bulgária, Polônia, Romênia e Eslovênia. Em um ambiente inflacionário, isto significa efetiva redução de salários reais.

Há mais medidas restritivas como a redução do número de funcionários. O Reino Unido promete demitir 490 mil trabalhadores, Polônia e Bulgária já cortaram 10% dos seus funcionários públicos, a Romênia demitirá 250 mil, a França suspendeu as contratações e a Grécia, para cada cinco aposentados, contratará apenas um. Além dos cinco milhões de empregos perdidos, durante a crise passada, a UE espera perder agora mais 1,5 a 2 milhões. Implacáveis, os governos em vários países como Dinamarca, Suécia, Alemanha, Suíça, Estônia, República Tcheca e Espanha, reduziram os subsídios desemprego. Este é o combustível que vai tornando cada vez mais explosiva a situação social dos países da UE. Grandes movimentos de massa são esperados para os próximos tempos inclusive no Reino Unido onde o maior sindicado de funcionários públicos prepara uma greve geral que poderá paralisar o país e derrubar a frágil aliança que permite manter o atual governo. A primeira batalha está marcada para o dia 30 de junho com a realização da já anunciada greve dos professores.

Nos EUA, a situação mostra-se ainda pior que na semana passada. O crescimento no primeiro trimestre, em taxas anualizadas, não ultrapassou 1,9%. O secretário do tesouro dos EUA, Timothy Geithner, estima que, no final do ano, o crescimento dificilmente ultrapassará os 2%, muito abaixo dos 3 a 4% esperados pelos analistas. Diante deste quadro, as exportações dos países asiáticos começam a desacelerar e já se fala em queda no ritmo da expansão dos preços das commodities. Na reunião do G-20 agrícola, o Brasil chocou-se com russos e chineses que se opõem à produção de etanol a partir de produtos alimentícios (cana e milho), por causa dos preços. Dizem eles que a produção de etanol, a partir destes produtos desloca as culturas, provoca o desabastecimento e o conseqüente aumento de preços que vem ocorrendo no mercado.

Nessa conjuntura o Brasil passa a correr vários riscos.

Em primeiro lugar, os déficits na conta corrente, que atualmente são financiados pelos saldos do comércio exterior (graças aos preços das commodities que exportamos) e pela entrada de capitais, pode tornar-se perigoso.

Em segundo lugar, os ritmos da produção industrial, no país, continuam a cair e o processo de desindustrialização avança.

Em terceiro lugar, a inadimplência das pessoas físicas, que vinha aumentando, já no primeiro trimestre, acelerou-se, em abril e maio, preocupando as empresas que vendem à crédito.

Em quarto lugar, a inflação reduz o ganho real dos trabalhadores o que começa a provocar movimentos de protesto como a greve anunciada pelos metalúrgicos de Porto Alegre. Lembremos que a maior parte dos novos empregos criados este ano situa-se na faixa de até dois salários mínimos.

Finalmente, enquanto cresce a dívida pública na mão dos estrangeiros, passando de 11,29% para 11,45%, o tesouro enfrentará, no dia primeiro de julho, o maior vencimento de títulos deste ano, no montante de R$ 119 bilhões. É claro que o país não conseguirá pagá-los e pretende, mais uma vez, “rolá-los” com o lançamento de novos títulos, pelo tesouro nacional, o que, certamente, aumentará a dívida pública.

Para completar o quadro, a tensão no Pará, com os assassinatos de lideranças no campo, fez o MST romper a trégua com o governo, em protesto contra o não cumprimento das promessas feitas.

Como se vê, a conjuntura não está nada favorável. Até quando os trabalhadores de todo o planeta suportarão pagar a os tributos impostos pela ganância do capital financeiro internacional?

Os próximos tempos prometem muita violência e instabilidade.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

domingo, 26 de junho de 2011

Os sinais do novo período de recessão

Semana de 13 a 19 de junho de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

De forma surpreendente para alguns (mas não para nós!), as notícias pouco otimistas se tornaram cotidianas. Depois da Grécia, chegou a vez de Portugal. O novo Primeiro Ministro eleito, Pedro Passos Coelho (líder dos sociais-democratas-PSD, de centro-direita) alertou, esta semana, para os “anos terríveis” que virão, já que o país se depara com uma recessão profunda e um desemprego recorde que impossibilitam o retorno ao crescimento e a reconquista da confiança dos investidores. Com a preocupação de voltar aos mercados financeiros, até 2013, e garantir o compromisso estabelecido com o FMI de reduzir o déficit orçamentário, de 9% do Produto Interno Bruto – PIB, apresentado em 2010, para 3% em 2011, o Primeiro Ministro garante pôr em prática um programa, ainda mais rigoroso, de austeridade e reformas estruturais. O novo governo promete: acelerar e expandir o programa de privatizações, que inclui vender a emissora estatal de mídia, privatizar até 49% das empresas de fornecimento de água e escancarar as portas aos investidores externos. Enquanto isso, manifestantes vão às ruas para contestar o atual sistema político e as medidas de austeridade econômica que o novo governo promete adotar.

Mas Portugal não conseguiu roubar inteiramente a cena à Grécia. Durante a semana o país manteve-se nos noticiários. A despeito das fortes políticas de controle fiscal adotadas, a insegurança aumentou quando o FMI ameaçou reter a parcela do que resta do plano de socorro original de 110 bilhões de euros (equivalente a 159 bilhões de dólares), pondo fim a qualquer possibilidade de estabilização da situação fiscal grega e aumentando consideravelmente as chances de default, o que repercutiria em todos aqueles que carregam uma montanha de títulos da dívida grega em seus balanços, como o Banco Central Europeu. O temor só foi amenizado quando os membros da zona do euro declararam confiar no Parlamento grego para que aprove, nos próximos dias, um plano com as novas medidas de austeridade impostas. Isto feito, o desbloqueio da próxima parcela de empréstimos, com o fim de evitar a bancarrota grega, será realizado. O primeiro-ministro grego, Georges Papandreou declarou que a aprovação das medidas mostrará as intenções do governo de assumir a responsabilidade com o país e com o povo. A população, entretanto, parece discordar do ministro. No último dia 15, cerca de vinte mil gregos, invadiram as ruas de Atenas, numa manifestação para tentar impedir a aprovação deste plano, no Parlamento. Este foi mais um dia de greve geral – a terceira deste ano - que paralisou parcialmente os serviços administrativos, os transportes e os estabelecimentos de comércio.

As más notícias vão além da zona do euro. A China, segunda maior economia do mundo, também está passando por “maus bocados”, com um índice de inflação que atingiu 5,5%, nível mais elevado em quase três anos. O governo reagiu elevando o depósito compulsório dos bancos, o que retirou do mercado 380 bilhões de yuans, equivalente a US$ 60 bilhões e inibindo o crédito. A redução da concessão de empréstimos na China é apenas um dos sinais recentes que sugerem que a super potência está desacelerando ao mesmo tempo em que o governo perde credibilidade com o povo ao ponto de acionar as polícias da tropa de choque, armados com gás lacrimogêneo, para conter os trabalhadores da cidade de Zengcheng, situada ao sul do país, que reclamavam das más condições de trabalho.

E na economia mais rica do mundo? Os últimos indicadores da economia americana foram desapontadores, ao ponto do Laurence Summers, ex-diretor do Conselho Nacional de Economia da Casa Branca, diagnosticar a realidade americana como “a década perdida”. A preocupação maior é o risco de estagflação, ou seja, baixo crescimento acompanhado de altas taxas de inflação. Entre abril e maio, o índice de preços subiu de 0,2%, para 3,6%, entre maio deste ano e do ano passado e a produção industrial cresceu apenas 0,1%, em maio.

Analisando estes fatos, até os mais “otimistas”, como o renomado economista Robert Shiller, confessam que “há uma probabilidade substancial de uma nova recessão”.

Isso já não era previsível?



[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).