quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A espera de um milagre

Semana de 03 a 09 de agosto de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Com a avaliação de que a presidente Dilma Rousseff perde as condições para governar o país, Michel Temer, vice-presidente, passa a ser, na visão de líderes políticos, a última garantia de governabilidade. A transição negociada já é a principal solução encontrada para abreviar a saída do governo eleito no ano passado. A tônica dos protestos marcados para o dia 16 de agosto continuará sendo o processo de impeachment e o movimento por novas eleições que tem sido encabeçado, principalmente, por aliados do senador Aécio Neves (PSDB). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), continua com seus atritos como o poder Executivo. Além da briga com Rodrigo Janot, procurador-geral da República, o novo alvo do peemedebista é o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams.
            Nos últimos dias, os resultados econômicos vêm perdendo espaço para a crise política e o possível afastamento da presidente Dilma. Até mesmo jornais especializados em economia têm dado mais atenção ao desenrolar das discussões em Brasília. Mesmo assim, alguns resultados, nada animadores, foram divulgados. O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,62% em julho, maior taxa para o mês, desde 2004. No ano, o acumulado é de 6,83%, enquanto que nos últimos doze meses a inflação brasileira avançou 9,56%. Já a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) do IBGE voltou a recuar em junho e caiu 6,3% no semestre. O índice mostrou redução de 0,3% frente a maio e de 3,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. As montadoras de veículos tiveram queda de 14,9% na produção, em julho. A Marcopolo, fabricante de carrocerias, manterá a redução de jornada por mais três meses. A Volkswagen renegociou acordo de reajuste salarial e congelou os salários dos operários, em Taubaté. O índice de inadimplência da indústria de componentes automotivos cresceu 32,6%, em comparação a igual período do ano passado.
            Não faltam críticas ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e endossado pela presidente Dilma. Para o economista da Unicamp, Pedro Paulo Zahluth Bastos, o governo “não tem como fazer o ajuste que eles haviam imaginado. Os cortes que eles fizeram e continuam fazendo já são maiores do que era previsto e não houve reversão. Ajuste fiscal em meio à desaceleração é contraproducente. O que eles fizeram foi um desajuste fiscal.” e complementa, dizendo que “se a dívida pública for aumentar, é melhor que aumente por um programa de gastos que tire a economia da recessão, do que por um programa de corte de gastos que produza uma recessão”.
            No que concerne à política monetária, a expectativa era a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). A questão central era a utilização ou não do termo “vigilante”, o principal protagonista da decisão. As apostas do mercado financeiro se concentravam na sua aparição, pois indicaria uma política monetária mais dura. Não demorou a tardar e “vigilância” apareceu, o que na linguagem “bancocentralez” é traduzido como a existência de uma possibilidade de nova elevação da Selic. Na visão de analistas do mercado financeiro, o BC apontou o fim de alta do juro, mas continua “vigilante” (obviamente) e preparado para responder a qualquer percalço apresentado pela taxa de inflação.
                        Para concluir, vale a pena apresentar alguns contrassensos do atual momento político brasileiro. Dos 27 senadores que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que irão votar a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, 13 deles possuem inquérito aberto pelo próprio procurador. O relator da CPI do BNDES na Câmara, José Rocha (PR), teve 69% de todo o dinheiro utilizado em sua campanha doado por quatro empresas que deveriam ser investigadas. José Dirceu, um dos principais nomes do PT foi preso, mais uma vez, com a suspeita de ter continuado recebendo dinheiro ilegal enquanto já cumpria pena por ter sido condenado no escândalo do Mensalão.
            E, por fim, sai Lula, entra João Santana. O marqueteiro do PT é, atualmente, a principal esperança do Partido. Sua grande missão no momento é convencer a todos que as coisas vão melhorar.
            Na falta de ações concretas pelos líderes do partido, vale apelar para todos os possíveis salvadores e continuar a “espera de um milagre”.



[i] Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).