Semana de 24 a 30 de outubro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. Não há sinais de retomada do
crescimento mundial. Os Bancos Centrais continuam impotentes diante da crise e
crescem os debates acerca da utilização dos gastos públicos em substituição às
políticas monetárias usadas recentemente. O FMI, inclusive, já vem se
manifestando a favor do uso do instrumento fiscal. Mas, antes mesmo da
recuperação, Andreas Dombret, diretor do Bundesbank, Banco Central alemão,
afirmou que as bases para uma nova crise já estão colocadas, pois os bancos
tenderão a compensar a queda das suas margens de lucro com a concessão de
empréstimos no modelo “subprime”.
Na economia interna, segundo o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged), foram encerrados 39,28 mil postos de
trabalho em setembro ante 95,6 mil em setembro de 2015, o que indica apenas uma
desaceleração da piora no mercado de força de trabalho. Dos oito segmentos
pesquisados, só dois apresentaram saldos positivos: a indústria de
transformação com geração de 9.363 postos e o comércio com 3.940. A construção
civil fechou 27.591 postos, os serviços 15.141 e agricultura, 8.198 vagas. Já a
Pnad Contínua, apurou que no terceiro trimestre, a taxa de desemprego
permaneceu em 11,8%, a mesma registrada no segundo trimestre do ano. A
estabilidade em 12 milhões de desempregados reflete a face cruel da crise
econômica. A taxa não aumentou segundo o IBGE, porque muitos trabalhadores
desistiram de procurar emprego e, portanto, não foram computados como
desempregados na estatística. Somando todos os inativos (aposentados, afastados
por questões de saúde e os que desistiram de procurar emprego), já são 64,6 milhões
de pessoas fora do mercado de força de trabalho. O IBGE reforça que a dinâmica
do desemprego começou pela queda de vagas com carteira de trabalho assinada, em
seguida vieram as demissões e recentemente registra-se a perda do trabalho por
conta própria.
Efetivamente, não há sinais de recuperação. Dados do
Tesouro Nacional informam que, no ano passado, os investimentos do governo
federal caíram a 0,9% do PIB. Entre janeiro e agosto deste ano, comparado ao
mesmo período de 2015 a queda continuou. Segundo o Tesouro, os investimentos
totais foram de R$ 34,269 bilhões o que corresponderá a 0,54% do PIB no final
de 2016. O programa Minha Casa, Minha Vida, apresentou queda dos investimentos
de R$ 9,429 bilhões para R$ 5,347 bilhões. No Ministério da Integração Nacional,
os investimentos caíram de R$ 2,473 bilhões para R$ 2,105 bilhões e o
Ministério dos Transportes manteve o mesmo nível. Economistas entusiastas da
PEC do teto dos gastos e o Ministério do Planejamento acreditam que o nível
futuro dos investimentos não será prejudicado, afinal de contas, segundo eles,
as condições estão sendo dadas para que o setor privado retome os
investimentos.
A ideia por trás desta argumentação é a de o governo
deve garantir um ambiente propício. Tal condição geraria a melhora da confiança
despertando milagrosamente o “espírito animal” dos agentes econômicos que
voltariam a investir e consumir. Mas, os postulados teóricos não se vinculam à
realidade. Os indicadores de confiança melhoraram, mas a conjuntura real, não.
Mesmo assim, esta visão continua sendo amplamente propagada. Os economistas
partidários desta teoria, perplexos, comparam os números gerados pelo modelo
econômico e os números apresentados pela realidade, e eles continuam a caminhar
na direção oposta. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre- FGV), o “... desempenho da economia real continua
surpreendendo negativamente apesar da melhoria das expectativas...”. Por isso,
o órgão reviu a projeção do PIB para o terceiro trimestre: -0,6% ao invés de
-0,3%. E o PIB de 2016 foi revisto para queda de 3,4%. A projeção anterior era
de 3,2%.
Quem em sã consciência investirá com a demanda
caindo? Que consumidor gastará mais, com o desemprego em alta? Como o Estado
contribuirá para o crescimento, se os gastos serão reduzidos? Mesmo assim,
somos convidados a esperar.
Na peleja entre a expectativa e a realidade, a
realidade continua ganhando de goleada.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br