sábado, 6 de junho de 2009

Otimismo e cautela em plena crise

Semana de 18 a 24 de maio de 2009

Os dados divulgados sobre a situação econômica brasileira, nos últimos dias, nos levam a observar o otimismo das fontes oficiais, em contraposição à prudência dos homens de negócio, na leitura dos indicadores econômicos. O otimismo foi puxado pelos ministros de Estado, em especial, o da Fazenda, Guido Mantega e do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Para Mantega, o país voltou a crescer, no segundo trimestre, e a recuperação será maior nos meses seguintes. Ele admitiu o quadro de recessão técnica, mas afirmou que, no segundo trimestre do ano, a economia já está retomando o crescimento. O ânimo das declarações teve origem nas informações acerca da abertura, em abril, de novos postos de trabalho (que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged - estima em cerca de 100 mil), na queda da taxa de juros, na elevação do nível de crédito e dos preços das commodities. Tais fatos positivos levaram o ministro a declarar que “ mais importante que a fotografia (negativa) da economia brasileira, no primeirotrimestre, é o filme de todo o ano de 2009”.
O resultado positivo divulgado no último Caged também foi comemorado pelo Ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. O ministro explicou que os números dos próximos meses serão melhores devido à recuperação da construção civil, beneficiada pelos programas do governo, e graças à ajuda da agricultura, setor que, juntamente com os serviços, mais contratou em abril.
No entanto, os dados econômicos divulgados no final de maio não apóiam este otimismo, pois apresentaram trajetória de crescimento observada no trimestre que se encerrou começou a ser suavizada. Além disso, os índices continuam a mostrar resultados inferiores aos do ano passado. Esta situação pode ser constatada na balança comercial e na arrecadação de tributos federais e nos dados do próprio Caged. O saldo positivo de 106 mil empregos, comemorado pelos ministros com o número de contratações maior que o de demissões (1,350 milhão contra 1,244 milhão, respectivamente), foi o melhor do ano, mas ficou bem abaixo do saldo de 294.522 postos de trabalho, apurado em abril de 2008. A recuperação do mercado de trabalho também não foi generalizada. Segmentos de extrativismo mineral, metalurgia e mecânica, registraram perda de unidades de trabalho, em relação a março.
As exportações brasileiras registraram queda de 18,1% em relação aos primeiros 90 dias úteis do ano, enquanto que as importações reduziram-se em 23,4%, comparado ao mesmo período de 2008. As principais quedas nas vendas externas foram de produtos semimanufaturados, básicos e manufaturados. Comprou-se menos adubo e fertilizantes, combustíveis, lubrificantes e equipamentos elétricos e eletrônicos.
A arrecadação de tributos e contribuições sociais da Receita Federal registrou a sexta queda mensal consecutiva. Em abril houve um avanço de 5,19%, em relação ao mês anterior, mas uma queda real de 6,48%, em comparação aos 12 meses anteriores. A perda de R$ 13,9 bilhões foi motivada pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), pela redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Cide, além da alteração da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física.
Enquanto as autoridades faziam declarações otimistas, o setor industrial, porém, continuou cauteloso com relação aos próximos meses de 2009. A Companhia Vale do Rio Doce reduziu seu plano de investimentos, para este ano, em 36%. A indústria de autopeças, que fornece insumos para as montadoras de veículos, além de tentar diminuir custos, suspendeu alguns investimentos diante da expectativa de uma demanda menor nos mercados interno e externo. O presidente da ZF na América do Sul, Wilson Bricio, explica que, com o declínio da demanda dos caminhões nos últimos quatro meses e a elevação dos estoques de veículos, as montadoras pretendem rebaixar o volume da produção de carros comerciais no segundo semestre. Mário Buttino, presidente da Dura Automotive, é taxativo sobre a situação no setor de veículos: “Mesmo com a redução do IPI, o preço não é fator decisivo para a compra de um automóvel. A inadimplência está aumentando e quem comprou um carro não está conseguindo pagar”.
Pelo visto, o otimismo dos ministros está encontrando como resposta a cautela da experiência empresarial. Afinal, pouco adianta blefar, pois quem entende mesmo de capitalismo são os capitalistas.
A queda verificada na balança comercial brasileira, na verdade, faz parte do quadro de contração do comércio mundial e reflete o colapso na demanda de vários mercados. A Organização Mundial do Comércio (OMC) calculou que haverá neste ano uma redução de 9% no comércio internacional. Tal previsão pode ser verificada em notícias sobre o mau desempenho econômico dos países europeus, dos Estados Unidos e da Ásia, no primeiro trimestre de 2009.


Balança Comercial (FOB) - Brasil(*)
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O Produto Interno Bruto da zona do euro retraiu-se 2,5% (entre janeiro e março de 2009) em relação ao último trimestre de 2008. A Grã-bretanha, que não pertence a zona do euro, contraiu 1,9% na mesma base de comparação, considerada a pior queda desde 1979. Já a Rússia encolheu 9,5%, no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2008.

Produto Interno Bruto para países selecionados - 1º quadrimetre(*)
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Martin van Vliet, economista do banco ING, embora reconhecendo que o bloco europeu ainda não atingiu o pico do desemprego, assegura que “o primeiro trimestre foi o pior em termos de declínio”.
Os Estados Unidos apresentaram a terceira queda consecutiva do PIB, pela primeira vez desde a recessão dos anos 1970. O México, seu vizinho, também viu seu PIB recuar no primeiro trimestre. A retração foi de 8,2%, em comparação com os 12 meses anteriores.
O desemprego, umas das maiores conseqüências sociais do quadro recessivo mundial, passou a ser o tema das grandes preocupações das nações. Os governos têm atuado de várias formas na tentativa de amenizar a situação.
Nos Estados Unidos, desde dezembro de 2007, o governo vem aumentando os postos de trabalho em seus quadros. Foram criados 244 mil cargos entre as administrações federal, estadual e municipal.
Taxa de desemprego dessazonalizada - Estados Unidos (Maio 2007-Maio 2009)(*)
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Por seu lado, o governo japonês resolveu oferecer subsídios às empresas, através de reembolsos, para ajudar no pagamento dos funcionários de maneira a evitar as demissões. Em março, perto de 48 mil empresas já pediram subsídios para 2,38 milhões de trabalhadores, incluindo grandes exportadoras, como a Nissan Motor e a NEC Eletronics. O montante de recursos para esses reembolsos já atinge 624 milhões de dólares neste ano. Esta solução é decorrente da cultura japonesa onde ainda existe o chamado “sistema do emprego vitalício”. Esta é uma das razões apontadas pelos analistas para explicar por que, em abril, a taxa de desemprego nipônica, de 4,8%, foi menor que a apresentada pelos Estados Unidos e Europa (8,9%), apesar de, no primeiro trimestre, a economia japonesa ter sofrido uma contração anualizada de 15,2%, considerada a pior, desde 1955.
O interessante são as formas que as empresas japonesas encontraram para manter os funcionários ocupados. Passaram a cultivar hortas, em espaços ociosos das fábricas, ou a utilizar os trabalhadores para varrer ruas e recolher o lixo nos bairros.
Os trabalhadores temporários, no entanto, foram as primeiras vítimas das demissões. Isto atingiu particularmente os imigrantes, dentre os quais se encontravam os dekasseguis latino-americanos. Conforme estimativas do Sebrae e do Consulado do Japão, no Paraná, o número de brasileiros que ficaram sem emprego, no Japão, pode ficar entre 10 mil e 30 mil. Esse grupo de pessoas não teve outra alternativa senão aceitar os três mil dólares do governo japonês para retornar ao país de origem e nunca mais voltar para a terra do sol nascente.
Em tempos de crise, os bolsões de superpopulação relativa tornam-se tão incômodos que mais vale pagar para exportá-los. Os desempregados tornam-se assim um novo e exótico produto de exportação que é pago pelo vendedor.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sinais de uma nova fase

Semana de 11 a 17 de maio de 2009


Após a crise do início dos anos 2000, a economia mundial viveu um período de crescimento queculminou no boom de 2006 e 2007. Já no fim de 2007, porém, começou a desaceleração nesta trajetória. O Produto Interno Bruto (PIB) das principais nações cresceu menos do que nos períodos anteriores, fato que se agravou em 2008. Do ponto de vista da teoria dos ciclos econômicos, isto caracteriza a entrada na fase de crise, processo que temos acompanhado através de nossas análises. Na presente semana, os indicadores que destacamos continuam a confirmar em todos os continentes o aprofundamento deste processo.
No primeiro trimestre de 2009, em comparação com 2008, as exportações dos EUA recuaram 2,4%, no primeiro quadrimestre, e as importações atingiram o menor patamar desde 2004. Na China, em abril, o recuo das exportações foi de 22,6% e nas Filipinas, 30,9%, em relação ao mesmo mês do ano passado. As exportações de veículos brasileiros diminuíram 50,3%, no 1º trimestre, e a produção de caminhões despencou 32,4%, no primeiro quadrimestre do ano.
Essa desorganização do comércio mundial vem paralisando a frota marítima. No Estreito de Málaca, por exemplo, existem 735 navios de carga ancorados por falta de mercadorias para transportar. Além destes, mais 150 estacionam no Estreito de Gibraltar e 300 em Roterdã.
O número de fusões, aquisições e pedidos de concordata de empresas aumentou. A norte americana Chrysler foi adquirida pela européia Fiat. A General Motors analisa a possibilidade de venda de seu braço europeu (Opel). A seguradora American International Group (AIG) está entre as que se encontram com problemas financeiros. Ela está realizando “operações de captação de recursos” através da venda de alguns de seus ativos. No Japão, a empresa vendeu seus escritórios centrais por US$ 1,2 bilhão para a Nippon Life Insurance, a fim de honrar suas dívidas com o governo americano.
No Brasil não é diferente. A fusão entre as brasileiras Sadia e Perdigão é um exemplo. Daí resultará a Brasil Foods, a maior empresa de alimentos do país, com um faturamento anual em torno dos R$ 22 bilhões. A nova empresa deverá ter como maior acionista a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), com 10% da participação total (esta já é proprietária de 8,58% da Sadia e de 14,15% da Perdigão). Este anúncio ofuscou a divulgação dos prejuízos apurados nos balanços das duas empresas, a Sadia de R$ 239 milhões e a Perdigão de R$ 226 milhões.
Espera-se que o número de fusões e aquisições este ano atinja o mesmo patamar de 2006, quando houve recorde nas operações. No 1º trimestre de 2009, já foram negociados R$ 132,4 bilhões dos quais 80,7% foi referente ao negócio entre o Itaú e o Unibanco.
Outro elemento presente na crise é a elevação do desemprego. Nos EUA, apenas nos meses de abril e março deste ano, 1,238 milhões de postos de trabalho foram fechados. Os pedidos de seguro desemprego atingiram o patamar de 637 mil na semana encerrada em 9 de maio. Nos últimos seis meses, no Brasil, houve uma redução de 5,8% dos postos de trabalho o que representou mais 350 mil pessoas desempregadas.
As instituições financeiras continuam a passar por dificuldades. O Royal Bank of Scotland Group (RBS), maior banco controlado pelo governo britânico, teve um prejuízo de US$ 7,4 bilhões no primeiro trimestre de 2009.
Por aqui, o lucro do Banco do Brasil, apesar de atingir R$ 1,66 bilhão, teve uma redução de 29,1%
em relação ao 1º trimestre do ano passado. Já a Nossa Caixa ficou no vermelho, com um prejuízo de R$ 349 milhões, quando em 2008 o lucro foi de R$ 115 milhões.
Os dados globais sobre a economia também são desfavoráveis. A União Européia, abalada pelaqueda recorde no PIB da economia alemã (2,4%), teve o 4º trimestre consecutivo de retração da produção, com uma queda de 2,5% em relação ao último trimestre de 2008. Este indicador foi influenciado também pelo crescimento negativo da França (1,2%), da Espanha (1,8%), do Reino Unido (1,9%), da Itália (2,4%), da Eslováquia e da Letônia (ambas 11,2%). Na Rússia, a situação é ainda mais grave. A economia russa contraiu-se 23,3%. Nos EUA a queda foi de 1,6%.
Apesar do atual quadro, alguns influentes economistas prevêem que o pior da crise ainda está por vir. Segundo o atual Prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, a economia mundial deverá entrar numa estagnação semelhante à ocorrida no Japão na década de 90. Em suas palavras “estou muito otimista com relação à conjuntura mundial de, digamos, 2030; o que me preocupa é o período de dez anos, mais ou menos”. James Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial, hoje no Citigroup, também prevê uma desaceleração prolongada da economia.
Três outros contemplados também com o Prêmio Nobel, durante o Exame Fórum, em São Paulo, não pouparam elogios à política econômica do governo brasileiro. Joseph Stiglitz (Nobel de 2001), Edward Prescott (Nobel de 2004) e Robert Mundell (Nobel de 1999). Eles afirmaram que o Brasil está em melhores condições do que muitas economias desenvolvidas. Segundo Stiglitz, “A política monetária do governo deixou espaço para manobra”. Como explicou o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, “a política monetária errada do governo nos deu uma vantagem para agora podermos baixar os juros”. Em números: a taxa Selic anual, que atualmente está em 10,25%, girou em torno de uma média nominal de 16,75% no governo Lula.
Os três economistas partilham outro pensamento: a economia ainda não chegou ao fundo do poço. Segundo Mundell: “Não sabemos exatamente em que ponto estamos, mas ainda não chegamos na metade da crise”. Já Stiglitz descreve a trajetória de crescimento como “uma mistura de ‘V’ com ‘L’, que daria uma ‘raiz quadrada’”, em alternativa às famosas trajetórias em “V” ou “U”. Segundo ele “é difícil ter certeza quando se atingirá o auge da crise, mas a recuperação será em um ritmo bem lento”. Já Prescott foi mais comedido e apenas disse que “Definitivamente não estamos caminhando para uma nova depressão”, referindo-se aos acontecimentos de 1929.
Contrariando estas previsões, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Miguel Jorge, garante que o pior da crise já passou. Essa é a mesma concepção do diretor-presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, quando afirmou que “A crise já começa a ser vista um pouco pelo retrovisor”.
Vejamos os dados que influenciam estas opiniões.
Em abril, a produção de carros e caminhões cresceu 3% e 8%, respectivamente, quando comparada ao mês anterior. Já a venda de eletrodomésticos cresceu em torno de 25% só na primeira quinzena desse mês. Por sua vez, a atividade industrial em São Paulo teve um saldo positivo de 19 mil postos de trabalho no mês de abril. E no Brasil, a produtividade da indústria cresceu 1,6% e o custo do trabalho caiu 3,2% no mesmo mês.
Seriam dados representativos, caso não existissem estatísticas que apontam em outra direção.
Por exemplo, o motivo pelo qual a produção de carros e o comércio de alguns eletrodomésticosaumentaram reside no fato de o governo ter reduzido, ou até isentado, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para estes produtos.
O comércio varejista no Brasil teve em março seu ritmo de crescimento reduzido. Com o ajustesazonal, as vendas aumentaram apenas 0,3% e a receita nominal 0,5%, quando em março o crescimento das vendas havia sido de 1,8%.
A produção industrial, apesar de ter subido 0,7% entre fevereiro e março, registrou queda de 14,7% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período de 2008.
A Petrobras obteve um lucro de R$ 5,8 bilhões, no 1º trimestre de 2009, o que representa umaredução de 20% em relação ao mesmo período de 2008. Em relação ao trimestre anterior, a queda foi de 6%. A Marfrig registrou no balanço trimestral uma redução de 46% em seu lucro bruto quando comparado ao 4º trimestre de 2008, atingindo uma cifra de R$ 313 milhões.
Em Camaçari (BA), a fabricante de nylon Braskem anunciou a suspensão das operações no pólopetroquímico por tempo indeterminado. Os motivos seriam as “dificuldades conjunturais que os mercados brasileiro e internacional (...) atravessam”, anunciou a empresa por meio de nota. Segundo ela, o mercado nacional será abastecido a partir da utilização dos estoques existentes.
O próprio ministro de Fazenda, Guido Mantega, sempre tão otimista, parece ter desistido da queda de braço com a realidade e admitiu que o Brasil está em recessão e que irá crescer, na melhor das hipóteses, 2% neste ano. Segundo ele, o país terá um forte crescimento no 4º trimestre de 2009 que compensará os outros três primeiros trimestres.
Já a equipe econômica que revisa os números do Orçamento da União trabalha com uma projeção oficial de crescimento entre 0,5% e 1% este ano. O boletim Focus, do Banco Central do Brasil, prevê que a retração no PIB irá atingir 0,44%. A Cepal, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, espera uma redução de 1% no PIB, enquanto o Fundo Monetário Internacional prevê que a retração por aqui seja de 1,3%.
O setor industrial, por sua vez, estima um crescimento do PIB em torno de zero. De acordo com o Sensor mensal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os empresários afastaram a hipótese de aumentar os investimentos este ano, além de esperar que a utilização da capacidade instalada deva ficar entre 70% e 81% no fim deste ano.
Na cidade de Paulínea, em São Paulo, o presidente Lula, em mais uma demonstração de seusconhecimentos econômicos, criticou os empresários e montadoras que pararam a produção e preferiram escoar os estoques devido à crise. Contra as fabricantes que se beneficiaram do IPI reduzido para eliminar o excesso de mercadoria, o presidente disparou: “tem gente que na hora que aparece uma crise também pensa em tirar proveito da crise”.
O que diria ele, então, se ouvisse as palavras de Manoel Carnaúba, executivo da Braskem: “Osbenefícios obtidos com a paralisação serão muito superiores ao de continuar com a produção”.
Será que nosso presidente não sabe qual é a verdadeira razão da produção capitalista? Será que ele não sabe que a essência da criação de mercadorias é a obtenção de lucro? Que, quando um produto deixa de ser rentável, é preciso parar sua produção?
Os próprios mecanismos da acumulação do capital estão impedindo as mercadorias produzidas em grandes quantidades de serem adquiridas pelos consumidores. Os investimentos feitos no período de ascensão econômica, quando entram em funcionamento, trazem consigo um forte aumento na produtividade, o que acarreta um crescimento da oferta de bens e serviços no mercado. A demanda existente, por mais que seja estimulada, não é capaz de acompanhar os ritmos da produção. Como conseqüência, aumentam os estoques e a capacidade ociosa das fábricas, o que provoca a queda dos preços. As dificuldades de realização provocam as falências, levando à destruição de mercadorias e de capitais. É nesta fase de “saneamento” que a economia mundial se encontra no presente momento. Dentro de algum tempo, esta fase caminhará para o seu fim e outra, igualmente necessária ao ciclo econômico, terá início. Isto só ocorrerá quando a destruição completar os ajustes do mercado e os investimentos forem retomados. A produção então retornará à sua trajetória de crescimento.
Vamos esperar. O fundo do poço ainda está por vir. Já se ouvem os seus sinais.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br

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