sábado, 7 de março de 2009

Charge


Novo espaço do progeb.blogspot.com, com exposição de charges referente aos acontecimentos ocorridos durante a semana no Brasil e no mundo.

Esta charge do Iotti foi feita originalmente para o

quarta-feira, 4 de março de 2009

Batom: antídoto para a crise econômica

Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2009


O déficit comercial dos EUA diminuiu, em dezembro, menos do que o previsto, atingindo o menor patamar em quase seis anos. O aumento das demissões, a falta de crédito e a crise mundial indicam que as importações e as exportações deste país, que caíram em dezembro pelo quinto mês consecutivo, devem se contrair ainda mais.
E os efeitos foram sentidos do outro lado do mundo com as exportações chinesas tendo a maior queda em 13 anos, uma vez que a demanda dos EUA e da Europa encolheu. As importações tiveram um declínio recorde, mostrando o agravamento da crise na terceira maior economia do mundo. Os embarques para o exterior declinaram 17,5% em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, e as importações caíram 43,1%. E tinha quem apostasse na China como novo motor da economia mundial, e que sozinha sustentaria o crescimento global. Estavam redondamente enganados.
No Brasil o consumo de eletricidade no segmento industrial, em janeiro deste ano, caiu 15,73%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse forte recuo na demanda demonstra os efeitos da crise sobre a atividade industrial brasileira.
A conseqüência dessa maré ruim é uma onda de demissões. Mas o presidente Lula afirmou que as negociações entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise econômica. Nas suas palavras: “O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar”.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, anunciou ontem três medidas para evitar as demissões no mercado de trabalho, causadas pela crise econômica, que, apenas em dezembro, provocou a perda de emprego para 654 mil trabalhadores, no Brasil. A primeira medida é que o montante inicial da linha de crédito de capital de giro às revendedoras de carros usados, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será de R$ 200 milhões. Outra medida é o acréscimo de dois meses no limite máximo do pagamento do seguro-desemprego para os trabalhadores que foram demitidos por empresas de setores prejudicados pela crise. O teto agora passa a ser de sete meses. A terceira medida é a regulamentação da Bolsa Qualificação Profissional que estabeleceu a carga horária de 60 horas mensais, no mínimo, para realização dos cursos oferecidos por empresas aos trabalhadores com contrato de trabalho suspenso.
Mesmo sem querer ser pessimista algumas questões tornam-se pertinentes. E se essa linha de crédito for insuficiente para aquecer o mercado de revendedoras de veículos? E se, mesmo com o crédito, não houver quem queira tomá-lo? E se depois que acabar o seguro desemprego o trabalhador não conseguir um novo emprego? E se depois do curso de qualificação o emprego não aparecer?
O presidente Lula já pensou em tudo isso e admitiu que, para impulsionar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – menina dos olhos do governo e plataforma política da candidatura de Dilma Roussef à presidência - se propõe até a cortar gastos do governo. Abusando um pouco da retórica e no entusiasmo do discurso o presidente declarou: “Nós cortaremos o batom da dona Dilma, nós cortaremos o meu corte de unha, mas não cortaremos uma obra do PAC”.
É um excelente exercício para a imaginação estimar quanto o governo gasta com o batom da Ministra Dilma e o corte de unhas do presidente e imaginar como o corte desses gastos, por parte do governo, seria capaz de estimular a economia, através de obras do PAC. Agora continuando no exercício, imagine o tamanho do estímulo que sofreria a economia se o governo, em vez disso, cortasse a taxa de juros Selic e, consequentemente, passasse a pagar menos juros da dívida. O problema é que a ministra pode comprar o batom com seu próprio dinheiro e o presidente pode ficar com as unhas grandes, mas o mercado financeiro, este sim, não pode ficar sem os milhões que lhes são pagos, de juros, todos os anos.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 3 de março de 2009

A Solidez do Sistema Bancário Nacional

Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2009


A crise econômica internacional atingiu a economia brasileira em cheio, no final do ano passado,encerrando o último trimestre com uma redução de 12,4% na produção industrial, entre novembro e dezembro. Foi a maior queda já registrada, desde 1998. No mesmo período, o número de horas trabalhadas na indústria caiu 8% e o nível de emprego foi reduzido em 0,5%. O índice de utilização da capacidade instalada também recuou de 81,4% para 80,2%. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aposta em uma retomada do crescimento econômico somente a partir do segundo trimestre de 2009.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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