Semana de 29 de maio a 04 de junho de
2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Afinal, o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) divulgou os dados do crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) para o primeiro trimestre deste ano (de janeiro a março). Em relação ao
trimestre anterior, o quarto trimestre de 2016, o PIB apresentou um crescimento
de incríveis... 1%. Festa, foguetes, declarações bombásticas. O milagre
ocorreu?
Para o ministro da Fazenda Henrique
Meirelles “não há dúvidas que a recessão acabou” e que ao final do ano teremos
um “ritmo de crescimento sólido, cerca de 3%”. “Isso significa que o Brasil, de
fato, retornou à rota de crescimento...” “o país está forte, o país está
crescendo, o que mostra que estamos na direção certa...”.
O ministro do Planejamento Dyogo Oliveira
acompanhou o mestre: o resultado do PIB “interrompeu a mais longa recessão da
história econômica recente do país”.
Ambos, é claro, condicionaram o sucesso da
recuperação à aprovação das “reformas” pelo Congresso.
O maior fogueteiro, no entanto, foi o
presidente Temer. Começando com um solene “o Brasil venceu a recessão” ele
botou a boca no trombone: “Há pouco mais de um ano quando assumi a Presidência,
o Brasil estava mergulhado na mais profunda recessão da sua história. O número
de hoje marca o renascimento da economia em bases sólidas e sustentáveis”.
Temer continuou atribuindo o sucesso ao “resultado de um ano de trabalho” de
seu governo que conseguiu, “em sintonia com o Congresso e ouvindo a
sociedade... promover as reformas adiadas por tanto tempo”.
A mentira parece ser um atributo dos
ministros que são pagos para justificar a ação dos governos, com destaque para
os ministros da Fazenda que pensam em criar “expectativas” com o fim de
estimular os investidores. Com os presidentes o caso é um pouco mais grave. Por
isso, os discursos do presidente Temer, embarcando no time dos mentirosos,
exigem alguns comentários.
O controle da inflação e a queda dos juros,
citados por ele, não são obra de seu governo, mas do Banco Central (BC) e seus
órgãos controladores, que se afirmam independentes.
Os saldos positivos da balança comercial
são resultados da supersafra de grãos (milho e soja) considerada a maior dos
últimos 25 anos e dos preços favoráveis do mercado mundial, ajudados pela
desvalorização do real e pelas condições climáticas. Também não são obra do
governo Temer.
Quanto ao crescimento do PIB é preciso
considerar o seguinte. Em primeiro lugar, todos sabem como se calculam
percentagens e sobre o que elas incidem. Com uma base de partida muito baixa,
depois de quedas sucessivas do PIB durante dois anos, um aumento de 1% pode ser
considerado bastante modesto. Mas, há outros aspectos a considerar. O PIB é
composto pelo somatório da produção de três setores: indústria, agricultura e
serviços. Para o proclamado 1%, os três setores contribuíram do seguinte modo:
agricultura 13,4%, indústria 0,9% e serviços 0,0%. Olhando estes dados
concluímos que sem a colaboração de São Pedro e da natureza não haveria
crescimento nenhum do PIB e, portanto, nada a comemorar.
Se olharmos para o trimestre em curso
(abril a junho) as perspectivas não são nada animadoras. Os dados até agora
divulgados mostram números negativos para a indústria e serviços e da
agricultura não se espera a repetição do feito excepcional. Parece que as bases
do crescimento não são tão sólidas e sustentáveis como proclamado.
Considerando-se que as reformas se arrastam a duras penas, a sintonia com o
congresso é comprada a peso de ouro e a sociedade ainda não fez ouvir seus
clamores, resta muito pouco das afirmações presidenciais.
Mas, não são apenas os dados econômicos que
desmoralizam o governo. Do lado político a situação não é nada confortável. A continuação
dos processos deflagrados pelas delações dos irmãos Batista traz novos fatos. A
tentativa de troca de poleiros entre os ministros da Justiça e da
Transparência, Serraglio e Torquato, resultou em um tiro no pé do governo.
Serraglio não aceitou e reassumiu sua cadeira de deputado tirando a imunidade
do homem da mala Rocha Loures que foi imediatamente preso surgindo daí a ameaça
de delação. Além disso, foi retomado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o
julgamento da impugnação da chapa Dilma-Temer.
O desenvolvimento das ações judiciais faz
aumentar os rumores de que a Lava-Jato está a caminho da extinção para que a
paz possa voltar a reinar no segundo país mais corrupto do mundo.
Com efeito, um estudo divulgado pela IMD,
uma das escolas de administração mais famosas do mundo, com sede em Lausanne,
classificou o Brasil como o vice-campeão da corrupção, em uma lista de 63
países estudados.
Aleluia!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).