quarta-feira, 21 de abril de 2010

Avatar, um sonho quase impossível ou simplesmente adiado?

Semana de 05 a 11 de abril de 2010



Será possível realizar a mais básica aspiração dos seres humanos que é a satisfação das suas necessidades de forma sustentável, em harmonia, equilíbrio e estabilidade?
No cenário internacional alguns destaques merecem a atenção do leitor. Nos Estados Unidos, continua débil a tendência para a recuperação do mercado de trabalho. Segundo pesquisa do Business Roundtable, entidade que reúne presidentes das grandes empresas note americanas, 29% dos associados revelam que pretendem aumentar seus quadros; 21% dizem que os vão reduzir e a metade pretende manter o número de empregados. A economia daquele país tem encontrado obstáculos significativos à sua retomada, dentre os quais a estagnação do setor imobiliário. Segundo o Presidente do Banco Central americano Ben Bernanke, numa situação ainda de estagnação, não há pressa para elevação da taxa de juro. Na economia européia, a retomada é morna, mantendo-se estável o crescimento do PIB, nos dois últimos trimestres, enquanto o Euro vem sofrendo pressões para desvalorização, um pouco por todo o mundo. Na semana em análise, sua cotação foi de R$ 2,3692, segundo as notícias veiculadas pela mídia, desde maio de 2002, foi alcançada. Na China, o terceiro maior banco em ativos, Banco Agrícola da China prepara-se para abrir o seu capital através de uma operação que poderá levantar US$ 29 bilhões e que será a maior do gênero já alguma vez registrada no mundo. Em 2009, aquela empresa financeira gerou um lucro líquido de US$ 9,5 bilhões. Até Cuba não consegue ficar alheia ao movimento de abertura que comanda a generalidade das economias do planeta. O setor açucareiro, deixará de ser estatal, para tornar-se de economia mista tentando atrair investidores.
Tudo que foge a essa regra permanece no mundo da ficção, como Avatar!
Quanto ao crescimento econômico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE prevê para os países do G7 (EUA, Japão,Alemanha, Reino Unido,França Itália e Canadá), um crescimento fraco no PIB, nesse primeiro trimestre, de 1,95%. Para a economia dos Estados Unidos projeta-se uma taxa de 2,4%, no acumulado de janeiro a março, e de 2,3%, entre abril e junho. A maior parte do crescimento da economia mundial desse ano deverá decorrer do crescimento de países, que não constaram do relatório da OCDE, como o Brasil, a China e a Índia.
China e Brasil continuam a travar forte disputa por mercados. Em 2006, o Brasil exportou para o Chile US$ 207 milhões de dólares em telefones móveis e a China, US$24,6 milhões. No ano passado as exportações brasileiras caíram para US$84 milhões, enquanto as dos chineses subiram para US$ 217 milhões. No setor agrícola, finalmente, o Brasil conseguiu a redução de subsídios do governo americano aos seus produtores de algodão.
Internamente, no senado, foi aprovado o aumento da cota de participação brasileira no Fundo Monetário Internacional - FMI, e, consequentemente, o seu poder de voto naquele organismo internacional. No campo econômico a Ford no Brasil manifestou o propósito de investir um montante de R$ 4 bilhões, entre 2011 e 2015. Foi decidido o reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras com efeitos positivos para a EMBRAER. As vendas de Pcs cresceram 33%, nesse trimestre e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADES aprovou a compra da Kaiser pela holandesa Heineken.
Em meio a isso tudo, o único elemento novo que pode alimentar um sonho de Avatar é a presença do autor da superprodução, o realizador canadense James Cameron, que veio ao Brasil e pediu ao presidente brasileiro que assuma o papel de "herói", anulando a construção, na Amazônia, da terceira maior barragem hidroelétrica do mundo, que, apesar de envolver riscos ambientais recebeu, no início de fevereiro, o aval do ministério do Ambiente.
Mas, lamentavelmente, o almejado mundo nos moldes de Avatar continua a ser um sonho quase impossível e somente alguns utopistas como o Sting, os ecologistas, além de naturalmente os índios das margens do Xingu, estão neste momento em sintonia com aquela petição.


Texto escrito por:

Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br.

domingo, 18 de abril de 2010

O Brasil às Vésperas das Eleições

Semana de 29 de março a 04 de abril de 2010



A euforia política e partidária já começa a tomar conta do cenário nacional, puxada pelas velhas estratégias preliminares de troca de acusações entre candidatos, inaugurações de obras de caráter eleitoreiro, denúncias e manipulação de dados e pesquisas.
No jogo político, os indicadores econômicos e sociais são muito utilizados, seja como meios de angariar votos, seja como armas para a crítica da oposição, e não ocorrerá de maneira diferente nas eleições que se aproximam. Mais uma vez os problemas econômicos estarão no centro do debate político. Situação e oposição já começam a preparar os argumentos que serão usados em seus discursos.
Não foi a toa, portanto, que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ganhou uma segunda versão chamada de PAC 2, formado por um conjunto de ações e medidas que, em sua grande maioria, já estavam previstas em sua primeira versão, mas que devido ao contingenciamento de recursos, e a incapacidade do governo, não foram realizadas. Dos 913 projetos previstos na nova etapa do programa para os setores de energia, transportes e recursos hídricos, 64% são provenientes da primeira fase, lançada em 2007. O PAC 1 estipulou investimentos da ordem de R$ 638 bilhões, até o final de 2010, mas, de acordo com o próprio governo, até final de 2009, apenas 40,3% das ações foram concluídas. Isto significa que em três anos, não se conseguiu realizar nem a metade daquilo que estava previsto para ser realizado em quatro anos.
Agora, no último ano, não por acaso ano de eleições, o governo lança o PAC 2 e começa a liberar de forma bem rápida os recursos que haviam sido contingenciados, em mais uma de suas estratégias de marketing político.
O afrouxamento dos gastos públicos, porém, é fonte de preocupação para o Banco Central (BC), que já espera uma taxa de inflação anual, acima do centro da meta de 4,5%, para 2010. A expectativa do BC já passou para uma taxa de inflação de 5,2%, neste ano, puxada pela demanda interna e elevação nas operações de crédito. Com isso espera-se também um aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 8,45%. De acordo com o próprio BC, ela deve encerrar o ano em 11,75%.
O setor de construção civil, por sua vez, vê com grande otimismo esse crescimento da demanda. O indicador do nível de atividade do setor registrou 53,2 pontos, em fevereiro. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), índices acima de 50 pontos indicam aumento no nível de atividade. Em janeiro a construção civil contratou 62.755 trabalhadores formais. Nos últimos 12 meses o nível de emprego no setor cresceu 11,57%.
Já os demais ramos industriais, não estão satisfeitos com os processos de fusões e aquisições no varejo brasileiro, os fabricantes temem perder seu poder de negociação com a criação de gigantes varejistas, como a que resultou da união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia. Para representantes da indústria, o aumento da concentração no varejo, deverá resultar em acordos de venda exclusiva entre indústrias e redes de lojas.
Às vésperas das eleições e em ano de copa de mundo, é provável que os problemas econômicos percam o foco e sejam tratados do ponto de vista político e eleitoreiro. Mas, enquanto isto ocorre, a economia continuará funcionando, a concorrência continuará atuando e novos fatos surgirão neste complexo processo que é o desenvolvimento, mesmo que, momentaneamente, esses problemas sejam esquecidos ou tenham a sua natureza desviada, durante este ano de acontecimentos extraordinários.



Texto escrito por:

Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br