Semana de 26 de dezembro de 2016 a 01 de janeiro de
2017
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Finalmente 2016 acabou com o brasileiro comemorando,
acanhadamente, as festas natalinas. As vendas nos shoppings, que representam
20% das vendas do varejo no país, caíram 3%. A Associação Brasileira de
Lojistas de Shopping registrou este resultado como o pior desde 2005. O
resultado era previsível. Além das turbulências políticas, a crise econômica
que parece não ter fim, já anunciava um 2016 sombrio mesmo antes de findar
2015. Foi realmente um ano para esquecer. Presidente afastada por impeachment,
presidente interino empossado, ministério corrupto, queda de ministros, tráfico
de influência, congresso corrupto, operação Lava Jato, delações premiadas, etc.
Ainda foi registrada queda da atividade econômica no primeiro e segundo
trimestres, alta no terceiro, comemoração da “equipe dos sonhos”, provável
queda no quarto trimestre e finalmente o pesadelo da “equipe dos sonhos”. As
previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 caíram de
-3% para -3,5%, em um cenário otimista, já que a maioria dos analistas prevê
queda próxima a 4%. Para piorar, a maior parte das estimativas indica que o
crescimento do PIB de 2017 será muito próximo de 0%. O Boletim Focus do Banco
Central (BC) estima uma alta de apenas 0,5% e o governo admitiu 1%.
As promessas do governo para 2016, que já foram
adiadas para 2017, não serão cumpridas. Sentimos dizer, mas o crescimento será
na melhor das hipóteses, entre zero e 0,5%, os investimentos não se recuperarão
e o consumo e o emprego também não. E, quando finalmente a PEC do teto dos
gastos públicos for implantada e a economia não se recuperar, veremos derrubado
o grande mito que relaciona a crise ao descontrole dos gastos públicos. Sinais
de que estas nossas previsões se concretizarão estão sendo dados agora. Segundo
sondagem do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(IbreFGV) após alta de 0,4%, em novembro, o índice de confiança da indústria
caiu 2,2%, em dezembro. Este recuo nesse mês é incomum já que é um período de
sazonalidade. A pesquisa apurou que o nível de utilização da capacidade
instalada do setor atingiu 73,9% na média do ano. 26,1% do nosso parque
industrial está parado. E não há sinais de recuperação dos investimentos, pois
o setor de bens de capital opera com apenas 65,4% de utilização de sua
capacidade. Os responsáveis pela pesquisa afastaram uma possível reação dos
investimentos no primeiro trimestre de 2017.
Por outro lado, o mercado das parcerias
público-privadas (PPPs) encerra 2016 com forte desaceleração. Até meados de dezembro,
apenas nove contratos municipais, foram assinados. As PPPs, consideradas a
“menina dos olhos” do atual governo envolvem projetos de infraestrutura como
saneamento, mobilidade urbana, construção de hospitais e escolas, modernização
da iluminação pública. São, junto às concessões, permissões de serviço público,
arrendamento de bens públicos e outros negócios público-privados. É por aí que,
segundo o suspeito secretário do Programa de Parcerias de Investimentos,
Moreira Franco, virá a recuperação econômica. Mas, não há sinais de que isto
venha a acontecer.
Em relação ao emprego, predomina no mercado de força
de trabalho, o desalento. Trabalhadores estão desistindo de procurar trabalho
por causa da dificuldade em encontrar ocupação. A FGV apurou que há uma
tendência de estabilidade do desemprego. Em outubro, a taxa permaneceu em
11,8%, em virtude da menor pressão da população economicamente ativa, pois
parte dela não está procurando emprego. Mas, mesmo diante do cenário sombrio, o
governo se esforça em “espalhar” o otimismo como um pó mágico que produzirá
efeitos em 2017. Somado a um pronunciamento do presidente, no Natal, o ano foi
encerrado com uma propaganda intitulada “120 dias com coragem para fazer as
reformas de que o Brasil precisa”. O documento beira o ridículo quando traz
como “reformas” já efetivadas, o prontuário eletrônico de pacientes em unidades
de saúde, a prioridade na obtenção de moradias às mães de filhos com
microcefalia e lança as reformas do Ensino Médio, da Previdência e Trabalhista
como se já estivessem aprovadas.
O Ano Novo, apesar das promessas do governo,
provavelmente não será tão feliz assim.
Aguardemos.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br