Semana de 04 a 10 de junho de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Segundo os jornais, este foi o título que o ministro
Mantega se auto-concedeu. Até que ele se tem mostrado jeitoso para este tipo de
atividade. Com algumas leituras marxianas, nos tempos de juventude, e
keynesianas, na maturidade, o nosso ministro tem demonstrado ter aprendido
alguma coisa da cartilha mais recente. Daí considerar-se “levantador de PIBs”. Caiu
na ilusão dos economistas que pensam que controlam a economia e enganam os
capitalistas, comandando suas ações.
De fato, a política econômica, posta a serviço dos
partidos políticos, tem criado esta ilusão, sedimentada pelas declarações dos
mercenários, que a ignorância e a propaganda transformam em realidade.
Às vezes, porém, a realidade se apresenta de forma tão violenta
que não se consegue mistificá-la.
No caso presente, estamos diante de uma profunda crise
internacional que tem a particularidade de ser muito intensa e estar se
arrastando por um tempo inusitado. Se os padrões normais do ciclo, nas
economias capitalistas, estivessem em vigor, ela deveria ter sido superada. A
sua persistência nos indica que estamos diante de um fenômeno com
características novas. Há algo muito perigoso em marcha.
Outra conclusão obvia é que, em um mundo globalizado,
esta crise envolve e arrasta todas as nações do planeta e, consequentemente, o
Brasil. Como já temos dito, não ficaremos de fora. Nestas circunstâncias, as
tarefas do nosso “levantador de PIB” tornam-se hercúleas. Precisaremos da ajuda
de todos os anjos e santos do céu.
Infelizmente, todos os
prognósticos sobre o crescimento do PIB, neste ano, estão sendo reduzidos. Os 4,5% previstos pelo governo foram
reduzidos para 3,5% e depois para 3%, diante do crescimento de 0,2% observado
no primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre de 2011. Várias entidades
reviram suas previsões. O BNP Paribas e o Credit Suisse reviram de 2,5% para
2%; o JP Morgan, de 2,9% para 2,1%; a Nomura Securities, de 3,5% para 1,9%; o
Votorantim Corretora, de 2,9% para 2,2%. A própria sondagem do Boletim Focus,
do BC, mostra uma queda de 2,99% para 2,72%, diferentemente da previsão oficial
da Fazenda, que se mantém em 4%.
O Palácio do Planalto está nervoso, o que se evidenciou
na reunião convocada pela presidente com ministros da área econômica e
representantes do BC e do BNDES, e na declaração da própria presidente de que o
Brasil adotará uma “política pró-cíclica de investimentos”.
As medidas adotadas até agora não têm sido suficientes.
Se as novas medidas não surtirem o efeito esperado, a presidente Dilma se
consagrará como “a presidenta do pibinho”. Eis a dificuldade a ser enfrentada
pelo nosso “levantador de PIB”!
E a situação internacional continua a agravar-se.
Aguarda-se, a cada momento, a saída da Grécia da zona do euro, apesar dos 240
bilhões de euros que lhe foram destinados como ajuda. O país está no seu quinto
ano consecutivo de recessão, com uma taxa de desemprego de 21,9% e sua economia,
no primeiro trimestre deste ano, contraiu-se 6,5%, em relação ao mesmo período
do ano passado. A bola da vez é a Espanha, que, finalmente, resolveu apelar
para o BCE pedindo ajuda. Fala-se que são necessários 90 bilhões de euros para
salvar o sistema bancário do colapso, assunto que foi tratado em uma reunião de
emergência dos ministros das finanças da zona do euro.
O
Fed, BC americano, frustrou as esperanças quando, em sua reunião, não anunciou
nenhuma medida para recuperar a economia, que se arrasta, e o BC chinês reduziu
sua taxa de juros em reconhecimento de que a economia está desacelerando.
Enquanto
isto, os principais banqueiros do mundo, em sua reunião da primavera, organizada
pelo Instituto internacional de Finanças (IIF), no castelo de Kronborg, próximo
de Conpenhague, afirmam que “Está todo mundo pessimista com a falta de
perspectivas”. Eles estimaram em 1,5 trilhões de euros a sua exposição em
países problemáticos. Segundo o Banco Internacional de Compensações (BIS),
evaporaram as esperanças de recuperação da economia mundial.
É mesmo difícil, a situação do ministro Mantega!
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).