quinta-feira, 14 de junho de 2012

O levantador de PIB


Semana de 04 a 10 de junho de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Segundo os jornais, este foi o título que o ministro Mantega se auto-concedeu. Até que ele se tem mostrado jeitoso para este tipo de atividade. Com algumas leituras marxianas, nos tempos de juventude, e keynesianas, na maturidade, o nosso ministro tem demonstrado ter aprendido alguma coisa da cartilha mais recente. Daí considerar-se “levantador de PIBs”. Caiu na ilusão dos economistas que pensam que controlam a economia e enganam os capitalistas, comandando suas ações.
            De fato, a política econômica, posta a serviço dos partidos políticos, tem criado esta ilusão, sedimentada pelas declarações dos mercenários, que a ignorância e a propaganda transformam em realidade.
            Às vezes, porém, a realidade se apresenta de forma tão violenta que não se consegue mistificá-la.  
            No caso presente, estamos diante de uma profunda crise internacional que tem a particularidade de ser muito intensa e estar se arrastando por um tempo inusitado. Se os padrões normais do ciclo, nas economias capitalistas, estivessem em vigor, ela deveria ter sido superada. A sua persistência nos indica que estamos diante de um fenômeno com características novas. Há algo muito perigoso em marcha.
            Outra conclusão obvia é que, em um mundo globalizado, esta crise envolve e arrasta todas as nações do planeta e, consequentemente, o Brasil. Como já temos dito, não ficaremos de fora. Nestas circunstâncias, as tarefas do nosso “levantador de PIB” tornam-se hercúleas. Precisaremos da ajuda de todos os anjos e santos do céu.
Infelizmente, todos os prognósticos sobre o crescimento do PIB, neste ano, estão sendo reduzidos.       Os 4,5% previstos pelo governo foram reduzidos para 3,5% e depois para 3%, diante do crescimento de 0,2% observado no primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre de 2011. Várias entidades reviram suas previsões. O BNP Paribas e o Credit Suisse reviram de 2,5% para 2%; o JP Morgan, de 2,9% para 2,1%; a Nomura Securities, de 3,5% para 1,9%; o Votorantim Corretora, de 2,9% para 2,2%. A própria sondagem do Boletim Focus, do BC, mostra uma queda de 2,99% para 2,72%, diferentemente da previsão oficial da Fazenda, que se mantém em 4%.
            O Palácio do Planalto está nervoso, o que se evidenciou na reunião convocada pela presidente com ministros da área econômica e representantes do BC e do BNDES, e na declaração da própria presidente de que o Brasil adotará uma “política pró-cíclica de investimentos”.
            As medidas adotadas até agora não têm sido suficientes. Se as novas medidas não surtirem o efeito esperado, a presidente Dilma se consagrará como “a presidenta do pibinho”. Eis a dificuldade a ser enfrentada pelo nosso “levantador de PIB”!
            E a situação internacional continua a agravar-se. Aguarda-se, a cada momento, a saída da Grécia da zona do euro, apesar dos 240 bilhões de euros que lhe foram destinados como ajuda. O país está no seu quinto ano consecutivo de recessão, com uma taxa de desemprego de 21,9% e sua economia, no primeiro trimestre deste ano, contraiu-se 6,5%, em relação ao mesmo período do ano passado. A bola da vez é a Espanha, que, finalmente, resolveu apelar para o BCE pedindo ajuda. Fala-se que são necessários 90 bilhões de euros para salvar o sistema bancário do colapso, assunto que foi tratado em uma reunião de emergência dos ministros das finanças da zona do euro.
            O Fed, BC americano, frustrou as esperanças quando, em sua reunião, não anunciou nenhuma medida para recuperar a economia, que se arrasta, e o BC chinês reduziu sua taxa de juros em reconhecimento de que a economia está desacelerando.
            Enquanto isto, os principais banqueiros do mundo, em sua reunião da primavera, organizada pelo Instituto internacional de Finanças (IIF), no castelo de Kronborg, próximo de Conpenhague, afirmam que “Está todo mundo pessimista com a falta de perspectivas”. Eles estimaram em 1,5 trilhões de euros a sua exposição em países problemáticos. Segundo o Banco Internacional de Compensações (BIS), evaporaram as esperanças de recuperação da economia mundial.
            É mesmo difícil, a situação do ministro Mantega!


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

domingo, 10 de junho de 2012

Pior que está, vai ficar!


Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2012


Rosângela Palhano Ramalho [i]



            Caro leitor, em época de crise, é impossível trazer boas notícias. Como já sabemos, o continente europeu agoniza frente a uma velha dificuldade apresentada pelo capitalismo. As notícias por lá vão de mal a pior, ou seja, o circo continua pegando fogo. Constatado isto, concentrarei esta análise na conjuntura econômica interna.
            Para entendermos a dimensão da crise, basta acompanharmos o desempenho dos mais diversos setores industriais e a divulgação das estatísticas econômicas nacionais. As montadoras estão comemorando o aumento das vendas, impulsionado pela redução do IPI. Segundo a Fiat, a General Motors e a Ford, as vendas mais que dobraram, se comparadas a um fim de semana normal. A Volkswagen registrou aumento de 30%. Mas, com a queda que tem ocorrido no consumo, e consequentemente, o aumento dos estoques, as montadoras estão diminuindo a remessa de lucros para suas matrizes no exterior. Até abril as remessas caíram em 70%, comparados ao primeiro quadrimestre do ano passado.
            Há mais de 50 anos, no Brasil, a Mercedes-Benz, pela primeira vez, anunciou que vai interromper os contratos trabalhistas de 1.500 trabalhadores, na unidade de São Bernardo do Campo. A Randon, empresa produtora de autopeças, deu férias coletivas a 1.300 funcionários, que serão acompanhadas de algumas paradas gerais em datas já definidas. As montadoras de motocicletas do país, diante da queda de 11% nas vendas, no acumulado do ano, já demitiram 1.064 trabalhadores e também programaram férias coletivas, no mês de junho.
            A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), pediu novamente ao governo que as salve, reivindicando que o IPI seja fixado em 4%, para todos os produtos da linha branca, já que, para alguns, a taxa, sem qualquer isenção, atinge 20%. Segundo alguns produtores do setor, houve desaceleração das vendas. No ano passado, o crescimento atingiu dois dígitos, e, neste ano, estão crescendo a um dígito.
            Não é à toa que os mais poderosos empresários brasileiros estão avaliando estas questões. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,2%, no primeiro trimestre de 2012, em relação ao quarto trimestre de 2011, segundo o IBGE. Comparado ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB brasileiro apresentou alta de 0,8%. Houve expansão de 1,7% do setor industrial e queda da agropecuária de 7,3%. Mas, segundo o governo, o PIB brasileiro, neste período, ainda é um dos melhores do mundo, ou seja, estamos mal, mas os outros estão piores.
            O IEDI divulgou uma queda na atividade industrial, de 2,9%, no primeiro trimestre de 2012, em relação a 2011. Em maio, o estoque industrial subiu em 6 dos 14 setores pesquisados, segundo a FGV. Já a Fiesp prevê uma queda de 2% na atividade industrial de São Paulo e queda de 1% na indústria do país.
            As projeções continuam ladeira abaixo. O Boletim Focus do Banco Central já projeta uma taxa de 2,99% para o PIB, este ano. A projeção inicial era de 4,5%. Alguns já estimam em 2,3%.
            A equipe econômica, afirma estar 300% preparada para enfrentar a crise, mas, há um grande temor que a situação da Espanha contagie o Brasil, pois ela é o terceiro maior investidor no país. Por isto, o governo tem monitorado, diariamente, os dados econômicos europeus e acompanhado de perto as notícias da Europa.
            No início da atual crise, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, minimizou os seus efeitos, em nossa economia, dizendo que, se no exterior ela era um tsunami; aqui seria uma marolinha, que não daria nem para esquiar. Resultado: a força da crise se revelou em 2009 com o PIB crescendo apenas 0,3%. Com a forte intervenção que aconteceu, tanto interna quando externamente, parecia estarmos livres do incomodo, em 2010. Crescemos 7,5%. Mas o pífio crescimento de 2,7%, em 2011, mostrou que o fenômeno está mais vivo que nunca e, apesar dos esforços do governo, o cenário este ano tende a se repetir.
            Mesmo assim não faltam fórmulas mágicas para acabar com a crise. Paul Krugman, em seu novo livro intitulado “Acabem com esta depressão, agora!” determina sua extinção. Mas, a História Econômica tem mostrado que não é tão simples assim. Certamente não escaparemos dela, assim como não escapamos em 2009. Enganam-se os economistas que acham que domam a Economia.
            Pior que está, vai ficar!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)