quarta-feira, 14 de junho de 2017

As Características da Retomada da Economia Brasileira

Semana de 05 a 11 de junho de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Ainda não se pode afirmar com certeza se o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto, PIB, no primeiro trimestre de 2017, marca o início da recuperação da economia brasileira, que vem sendo dilacerada por grave crise nos últimos anos. Contudo, já começam a se delinear as características dessa recuperação: as bases da retomada não se encontram no mercado interno, mas sim no externo, ou seja, é o resto do mundo que nos vai “tirar do buraco”.
Quando se analisa a contribuição dos setores ao crescimento do PIB trimestral supracitado, é notável a que foi dada pelo setor agrícola, que cresceu 13,4% no mesmo período, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Tal expansão de oferta, contudo, não teve por objetivo atender à demanda interna. Ainda de acordo com o IBGE, o consumo das famílias continua caindo, embora a um ritmo bem mais lento: 0,1% nesse primeiro trimestre. Já não se pode dizer o mesmo com desempenho das exportações: elas aumentaram 4,8% no mesmo período. Neste cenário, a MCM Consultores estima um crescimento de 21,59% do saldo do balanço comercial, em 2017, o que fecharia o ano em US$58 bilhões. Já o saldo da conta corrente, que além da balança comercial, engloba o fluxo de rendas entre Brasil e resto do mundo, deve atingir no final do ano um déficit de US$23,5 bilhões. Estima-se que tal déficit, contudo, seja coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto com folga.
Analisando inicialmente apenas a situação da conta corrente, embora a saída de renda do país mais que compense o saldo positivo no balanço comercial, teoricamente, o impacto positivo do setor exportador no PIB é superior ao impacto negativo da fuga de renda, uma vez que o primeiro estimula o investimento, alavancando outros setores da economia, algo que já vem ocorrendo.
O bom desempenho da agricultura se refletiu na indústria, com a venda de máquinas agrícolas alcançando 17.262 unidades nos cinco primeiros meses desse ano, um quantum 28,7% maior que o atingido em igual período de 2016. Não é à toa que o setor automobilístico e o setor de máquinas e equipamentos, a despeito do seu comportamento errático, cresceram, respectivamente, 3,4% e 4,9%, entre março e abril desse ano, constituindo dois dos quatro principais responsáveis pelo crescimento de 0,6% da indústria nesse mesmo período. É oportuno comentar ainda que, com o real bastante desvalorizado frente ao dólar, não apenas a exportação de commodities, mas também a de outros tipos de mercadorias vem experimentando um bom desempenho no presente ano. De janeiro a maio, o setor automobilístico, por exemplo, obteve uma receita de exportações de US$5 bilhões, um crescimento de 57,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Caso o ritmo se mantenha, com mais três meses, o setor exportará a quantidade de veículos prevista para todo o ano.
Quando passamos a considerar o ingresso de investimento direito no país, a contribuição dada pelo setor externo torna-se ainda mais clara. Em primeiro lugar, é certo que pelo menos uma pequena parte desses recursos advindos do exterior constituirá um aumento do estoque de capital do país, seja porque de fato serão criados novos empreendimentos, seja porque as empresas destinarão parte dos recursos captados com a venda de ações para investimento. A outra parte, por sua vez, mesmo que se transforme apenas em renda, servirá de contrapeso para o saldo negativo do balanço de rendas. Ou seja, de uma maneira ou de outra, o setor externo estará agindo no sentido de empurrar a recuperação da economia.
Desta forma, frente às medidas restritivas que vem sendo tomadas pelo governo Temer e de outros fatores internos que impedem que mecanismos endógenos provoquem a retomada da economia brasileira, estando esta ligada indissoluvelmente ao movimento cíclico da economia mundial pelo fenômeno que conhecemos como globalização, tal retomada será certamente patrocinada pela poupança externa. Contudo, a entrada de recursos no país pela conta financeira do balanço de pagamentos, ao passo que pode contribuir para a elevação da atividade econômica, tem como contrapartida uma elevação da renda líquida enviada ao exterior em um futuro próximo, seja sob a forma de juros de dívida ou de remessa de lucros, o que perpetua e amplifica a situação de dependência da economia em relação aos países centrais.

[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O milagre ocorreu! Aleluia!

Semana de 29 de maio a 04 de junho de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Afinal, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o primeiro trimestre deste ano (de janeiro a março). Em relação ao trimestre anterior, o quarto trimestre de 2016, o PIB apresentou um crescimento de incríveis... 1%. Festa, foguetes, declarações bombásticas. O milagre ocorreu?
Para o ministro da Fazenda Henrique Meirelles “não há dúvidas que a recessão acabou” e que ao final do ano teremos um “ritmo de crescimento sólido, cerca de 3%”. “Isso significa que o Brasil, de fato, retornou à rota de crescimento...” “o país está forte, o país está crescendo, o que mostra que estamos na direção certa...”.
O ministro do Planejamento Dyogo Oliveira acompanhou o mestre: o resultado do PIB “interrompeu a mais longa recessão da história econômica recente do país”.
Ambos, é claro, condicionaram o sucesso da recuperação à aprovação das “reformas” pelo Congresso.
O maior fogueteiro, no entanto, foi o presidente Temer. Começando com um solene “o Brasil venceu a recessão” ele botou a boca no trombone: “Há pouco mais de um ano quando assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado na mais profunda recessão da sua história. O número de hoje marca o renascimento da economia em bases sólidas e sustentáveis”. Temer continuou atribuindo o sucesso ao “resultado de um ano de trabalho” de seu governo que conseguiu, “em sintonia com o Congresso e ouvindo a sociedade... promover as reformas adiadas por tanto tempo”.
A mentira parece ser um atributo dos ministros que são pagos para justificar a ação dos governos, com destaque para os ministros da Fazenda que pensam em criar “expectativas” com o fim de estimular os investidores. Com os presidentes o caso é um pouco mais grave. Por isso, os discursos do presidente Temer, embarcando no time dos mentirosos, exigem alguns comentários.
O controle da inflação e a queda dos juros, citados por ele, não são obra de seu governo, mas do Banco Central (BC) e seus órgãos controladores, que se afirmam independentes.
Os saldos positivos da balança comercial são resultados da supersafra de grãos (milho e soja) considerada a maior dos últimos 25 anos e dos preços favoráveis do mercado mundial, ajudados pela desvalorização do real e pelas condições climáticas. Também não são obra do governo Temer.
Quanto ao crescimento do PIB é preciso considerar o seguinte. Em primeiro lugar, todos sabem como se calculam percentagens e sobre o que elas incidem. Com uma base de partida muito baixa, depois de quedas sucessivas do PIB durante dois anos, um aumento de 1% pode ser considerado bastante modesto. Mas, há outros aspectos a considerar. O PIB é composto pelo somatório da produção de três setores: indústria, agricultura e serviços. Para o proclamado 1%, os três setores contribuíram do seguinte modo: agricultura 13,4%, indústria 0,9% e serviços 0,0%. Olhando estes dados concluímos que sem a colaboração de São Pedro e da natureza não haveria crescimento nenhum do PIB e, portanto, nada a comemorar.
Se olharmos para o trimestre em curso (abril a junho) as perspectivas não são nada animadoras. Os dados até agora divulgados mostram números negativos para a indústria e serviços e da agricultura não se espera a repetição do feito excepcional. Parece que as bases do crescimento não são tão sólidas e sustentáveis como proclamado. Considerando-se que as reformas se arrastam a duras penas, a sintonia com o congresso é comprada a peso de ouro e a sociedade ainda não fez ouvir seus clamores, resta muito pouco das afirmações presidenciais.
Mas, não são apenas os dados econômicos que desmoralizam o governo. Do lado político a situação não é nada confortável. A continuação dos processos deflagrados pelas delações dos irmãos Batista traz novos fatos. A tentativa de troca de poleiros entre os ministros da Justiça e da Transparência, Serraglio e Torquato, resultou em um tiro no pé do governo. Serraglio não aceitou e reassumiu sua cadeira de deputado tirando a imunidade do homem da mala Rocha Loures que foi imediatamente preso surgindo daí a ameaça de delação. Além disso, foi retomado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o julgamento da impugnação da chapa Dilma-Temer.
O desenvolvimento das ações judiciais faz aumentar os rumores de que a Lava-Jato está a caminho da extinção para que a paz possa voltar a reinar no segundo país mais corrupto do mundo.
Com efeito, um estudo divulgado pela IMD, uma das escolas de administração mais famosas do mundo, com sede em Lausanne, classificou o Brasil como o vice-campeão da corrupção, em uma lista de 63 países estudados.
Aleluia!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

sábado, 3 de junho de 2017

À espera de um milagre

Semana de 22 a 26 de maio de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

No rescaldo da delação da JBS, o clima no governo continua tenso. A cada sinal dado, mesmo que ínfimo, os resultados da conjuntura econômica são comemorados. Mas, não há sinais concretos de retomada e a divulgação dos áudios do empresário da JBS soterrou os precoces festejos. O país está em compasso de espera. À espera de um nome de consenso para substituir o então presidente Temer, e também à espera do julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer. Enquanto isso, o governo torce para que o homem da mala, o deputado Rocha Loures, não delate.
Os novos escândalos políticos afetaram de imediato as negociações realizadas na Bolsa de Valores e as cotações da taxa de câmbio. Foi o caos. Os indicadores de confiança foram abaixo e após uma semana, os efeitos ainda repercutem nas projeções. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) que já apresentava uma previsão de queda do Produto Interno Bruto de 0,1%, no segundo trimestre, e de baixo crescimento de 0,4%, para a economia, neste ano, reforça que, com este novo evento, há sérias ameaças à lenta recuperação que se desenhava.
Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), as incertezas quanto à aprovação das reformas, pode comprometer a queda da taxa de juros que estava em curso. O mercado recuou e passou a prever uma queda menor para os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
A 4E Consultoria diminuiu as suas previsões para o PIB, em 2017 e 2018. Para 2017, a queda do PIB foi alterada de -0,1% para -0,3% e, para o ano que vem, o crescimento foi revisto de 2,5% para 1,2%.
O mais grave é que, mesmo sem registrar os efeitos da delação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao divulgar os dados de abril, demonstrou que a indústria ainda não se recuperou da recessão, desmentindo as afirmações do presidente Temer. O indicador da produção caiu de 54,8 pontos, em março, para 41,6, em abril. No mesmo período, o indicador de emprego caiu de 47,5 para 47 pontos, o índice de evolução dos estoques subiu de 49,1 para 50,9 pontos e o índice de utilização da capacidade instalada da indústria caiu de 65% para 63%.
A única estatística positiva para o PIB foi a estimativa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a produção agrícola: um crescimento em torno de 6% neste ano.
E por falar no IBGE, o presidente do órgão, economista Paulo Rabello de Castro, ao tentar explicar as últimas lambanças referentes às pesquisas de Comércio e de Serviços, afirmou que “... não houve uma mudança de metodologia, pelo contrário, houve uma observância da metodologia.” Em entrevista ao Jornal Valor Econômico, frisou que uma amostra menor que a normal, o resultado ruim do mês de dezembro e a não retropolação do índice, resultou numa melhoria dos índices da Pesquisa Mensal de Comércio em janeiro. Entenderam?
Em relação à conjuntura, Rabello de Castro vai na contramão da percepção do governo ao afirmar que o ambiente econômico “não melhorou”. Quando questionado se as mudanças nas pesquisas foram encomendadas para provocar um sentimento positivo quanto à evolução econômica, esbravejou: “Que se dane o governo. Eu não ‘tô’ aqui nem para produzir dados bons nem dados ruins para ninguém. Os dados são o que são”.
Para tentar reverter os estragos, o presidente Temer reuniu o seu ministério suplicando por “agendas positivas”. O desbloqueio do Orçamento foi o primeiro ato. Foram liberados mais de R$ 3,1 bilhões para gastos este ano. Três medidas provisórias garantiram a folga: a renegociação das dívidas municipais e estaduais para com a Previdência, a reprogramação das outorgas dos aeroportos e a regularização de débitos não tributários com autarquias e fundações.
No entanto, os números continuam a mostrar que a economia não está “colaborando”. Não haverá “agenda positiva” que neutralize ou reverta o estrago provocado pela delação da JBS.
Só um milagre...

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Fez-se o caos

Semana de 15 a 21 de maio de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Com o estouro da bomba da delação da JBS os dados sobre a economia desapareceram dos noticiários. Até o berreiro do governo exaltando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro trimestre, em comparação ao quarto trimestre do ano passado, cessou. A euforia foi provocada pela divulgação, pelo Banco Central (BC), do “Índice de Atividade Econômica do Banco Central” (IBC-Br), considerado um indicador antecedente das variações do PIB. Este índice apontou um crescimento de 1,12% para o PIB do trimestre. O governo não disse que este índice é uma estimativa e não a realidade. Também não disse que este número foi afetado pela mudança da metodologia nos cálculos que alterou para cima os valores.
A Fundação Getúlio Vargas também divulgou o seu “Monitor do PIB”, outra estimativa para o mesmo indicador, sem avisar que este número também foi afetado pela mesma alteração nos cálculos. Ninguém comentou também que este elevado número foi influenciado principalmente pelo crescimento do agronegócio (safras recordes) com uma expansão de 11,3%, pela indústria extrativa mineral, que cresceu 2,62% e pelas exportações, que contribuíram com 2,78%. Internamente, porém, a situação revelou outra realidade: o consumo das famílias caiu 0,36%, o do governo, 0,23% e a formação do capital fixo (indicador dos investimentos) recuou 1,93%. Nada a comemorar, portanto. Estamos voltando à condição de uma economia primário exportadora. Isto para não falar em 14,2 milhões de desempregados, resultado de uma taxa de desemprego de 13,7%.
Outro dado comemorado com foguetes pelo governo foi a criação de 59,8 mil empregos, no mês de abril, depois de um número negativo em março. Mas, segundo os economistas do Ibre-FGV, o mês de abril é sempre o mês mais favorável para a criação de empregos e costuma apresentar um saldo que ultrapassa os 100 mil empregados.
Se a economia não apresenta sinais evidentes de recuperação, mas pequenos indícios, a política econômica do governo provoca estragos nos meios empresariais. O câmbio desvalorizado com o dólar mais barato favoreceu as importações, prejudicando a produção nacional. Qualquer início de recuperação vaza a demanda para o exterior através das importações. O discurso do secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, em Washington, provocou a ira da Confederação Nacional de Indústria (CNI), manifestada em uma carta enviada ao ministro Meirelles. No discurso, o secretário proclamou a necessidade de abrir as fronteiras e eliminar as barreiras alfandegárias para as importações o que expõe a indústria nacional à concorrência desleal.
Sem o apoio na população, com índice de aprovação menor que 10%, o governo Temer só conta com uma maioria no congresso, mantida à custa do suborno e da corrupção. Com o aumento do descontentamento da classe empresarial, ao governo só resta a aprovação das reformas, que tanto agradam ao patronato, apresentadas como a salvação do país.
É neste delicado momento que estoura a bomba das delações dos irmãos Batista da JBS. Pela primeira vez aparece claramente o que o jornalista Ricardo Boechat chama de “batom na cueca”. Foram apanhados desta vez, os ladrões, o planejamento do roubo e o dinheiro com mala e tudo, e em notas. Caiu a máscara do Michel Temer e do PSDB, com o seu líder máximo Aécio Neves apanhado negociando um suborno de dois milhões de reais. Ambos foram flagrados, não com o dinheiro na cueca, como era costume, mas na mala, pois o volume era muito grande.
Para o Aécio, suspensão do mandato de senador e abertura de investigação e para o Temer abertura de processo de investigação.
Escândalo, correria de ministros e políticos, reuniões, convocação de advogados e especialistas, o Planalto está em polvorosa juntamente com o PSDB, PMDB e DEM.
O reflexo na economia foi imediato. O “mercado” entrou em pânico. A queda na bolsa ultrapassou os 10% acionando o “circuit break”, sistema automático que desliga o pregão quando a queda do Ibovespa ultrapassa os 10% e que só havia sido acionado na grande crise de 2008. O dólar teve a maior alta desde 1999. As empresas suspenderam a oferta de ações e emissões de bônus. Os fundos de investimentos anunciam prejuízos. O “mercado” mostra sinais de desespero: adeus reformas.
Estamos diante de um governo ilegítimo, impopular, corrupto, ameaçado de impeachment e obrigado a aprovar reformas que agridem toda a população, por um congresso desmoralizado e igualmente corrupto.
Tudo isso em um momento em que a economia patina, não conseguindo sair da maior crise que o país viveu nos últimos anos.
A política domina a economia. Sem uma solução política a situação econômica tenderá a deteriorar-se.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Dois Homens e Um Fracasso

Semana de 08 a 14 de maio de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Na semana passada, precisamente na sexta-feira, dia 12, o presidente em exercício, Michel Temer, completou um ano de mandato. Logo que assumiu como presidente interino, ele e seu fiel escudeiro, o atual ministro da fazenda, Henrique Meirelles, arquitetaram um plano “infalível” para tirar a economia brasileira da crise. Embora tal plano nunca tenha sido explicado detalhadamente, ele pode ser grosseiramente resumido da seguinte maneira: era preciso implementar medidas que assegurassem a austeridade fiscal do governo para que os empresários recobrassem a confiança na economia e, assim, voltassem a investir e aumentar a produção. Para tanto, era preciso congelar os gastos do governo em termos reais (estando inclusos aí gastos com educação, saúde, segurança, etc.) e reformar a previdência social (aumentando o volume da contribuição requerida dos trabalhadores). De quebra, nossos dois aventureiros ainda adicionaram uma “modernização” das leis trabalhistas.
Um ano depois, boa parte desse plano já foi cumprida e outra parte está em execução. É, portanto, oportuno, nesse aniversário de governo, avaliar os resultados obtidos até o momento. Os dados disponíveis não são tão recentes quanto o desejado, mas com eles é possível ter uma ideia do que se passa no exato momento.
Em uma coisa nossos dois aventureiros estavam certos: tão logo o mercado tomou conhecimento das intenções de ambos, as expectativas começaram a melhorar. O Índice de Confiança do Empresariado Industrial (ICEI), calculado pela CNI, por exemplo, que estava em 41,3 pontos em abril de 2016, fechou abril desse ano com 56,6. Infelizmente, entretanto, essa foi a única parte do plano que se concretizou até o presente momento.
Primeiramente, o tão estimado aumento da confiança dos empresários não provocou uma elevação dos investimentos. Ao contrário, a Formação Bruta de Capital Fixo calculada pelo IBGE registrou queda de 8,43% e 5,44% nos dois últimos trimestres de 2016, em relação ao mesmo período do ano anterior. O clima de confiança, portanto, não alterou o resultado: ao invés de acelerarem, os empresários permaneceram com o pé no freio, o que fez com que o desemprego só crescesse durante o governo Temer. A taxa de desocupação, calculada pelo IBGE, que era de 11,2% em maio de 2016, passou para 13,7% em março deste ano.
Diante de tal situação, não se podia esperar outro resultado para a produção. No acumulado de 12 meses terminados em março deste ano, o Banco Central do Brasil (BCB) estima um PIB de R$6,3 trilhões. Trazendo esse valor para os reais de maio de 2016, utilizando a inflação medida pelo IPCA, obtemos uma taxa real de crescimento para o indicador de apenas 0,45% em 10 meses de governo. Isso se as estimativas do BCB se confirmarem. Os dados oficiais disponíveis (IBGE/SCN 2010 Trimestral) do PIB Trimestral, por exemplo, mostram quedas de 2,87% e 2,46% nos últimos dois trimestres de 2016 sobre os mesmos trimestres do ano anterior. Nem a tão falada austeridade esteve presente nesse governo, tendo o déficit primário consolidado do setor público atingido R$147,8 bilhões no acumulado de 12 meses terminados em março deste ano, o que corresponde a 2,34% do PIB.
Mas, houve por acaso alguma melhora em algum indicador? Bem, pode-se dizer que sim. A falta de demanda na economia brasileira é tamanha que a inflação de abril medida pelo IPCA ficou em 0,14%, a menor para um mês de abril desde 1994. Além dos preços, caiu também a cotação do dólar, movimento tão esperado pelas classes altas do país. Essa cotação, que chegou a R$3,61 no final de maio do ano passado, fechou o dia 15 do mês atual em R$3,10. Agora as referidas classes poderão pagar mais barato pelas suas viagens ao exterior e pelos produtos que importam de lá. Mas, não queremos nos deter muito nesse assunto, visto que isso empurra o saldo da Conta Corrente do Balanço de Pagamentos do Brasil para o negativo, o que implica necessariamente uma deterioração da sua Posição Internacional de Investimento e torna amarga essa “conquista” do governo.
Deixando as ironias de lado, vemos que não há nada para comemorar após um ano de mandato do atual presidente. A realidade, ao contrário, desmente as inverdades proferidas em seu pronunciamento oficial, no qual afirmara ter reaquecido a economia, mantendo os gastos sobre controle. A economia continua imersa na mesma crise que estava anteriormente e ainda não há sinais de recuperação.

[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).