sábado, 4 de dezembro de 2010

Vamos esperar pra ver no que vai dar

Semana de 22 a 28 de novembro de 2010


Há algumas semanas, o noticiário econômico vem dando indicações de um “arrefecimento” da atividade interna. Embora a projeção de crescimento para este ano gire em torno de 7%, a desaceleração começou a ser percebida no terceiro trimestre. A Serasa apurou um crescimento nulo do PIB neste período e o setor industrial avançou apenas 0,6 pontos em outubro segundo a CNI.

Na atividade industrial brasileira, um setor que merece atenção especial é o de bens de capital. A previsão é de que este comece a demitir a partir do primeiro semestre de 2011. Segundo Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a indústria que já havia demitido 20 mil trabalhadores na crise iniciada em 2008, voltou a contratar, mas a queda de 15% na receita, em virtude da concorrência estrangeira, trouxe um sinal de alerta para o setor. Segundo a Abimaq, as aquisições de máquinas de outros países cresceram 31,8% de janeiro a outubro deste ano, enquanto que as vendas subiram apenas 18,8%.

No terceiro trimestre, em comparação com o anterior, a produção de bens de capital caiu 2,2%, o consumo cresceu 3,8% e as importações se elevaram em 36,1%. Dados do BNDES constatam que as máquinas importadas ocupam atualmente 44% do mercado. A perspectiva é que este cenário persista. A Votorantim Cimentos, por exemplo, comprou R$ 225 milhões em máquinas na Dinamarca e na Alemanha, as quais serão instaladas nas suas oito novas fábricas de cimento. Já a Klabin comprará, ainda este ano, R$ 142 milhões em máquinas para a produção de caixas de papelão ondulado, valor que representa um terço dos investimentos da empresa

O fato é que, embora o parque fabril brasileiro esteja se modernizando, esta modernização acontece à custa das perdas de uma indústria importantíssima para a dinâmica de crescimento interno. As perspectivas não são as melhores para o setor responsável pelo progresso técnico. O aumento da importação em detrimento da produção interna neste setor é indiscutível e não é um fenômeno novo. Desde o início da década de 90, ou seja, após a abertura comercial, tem-se percebido uma elevação significativa dos déficits na balança comercial do setor de bens de capital. Para se ter uma ideia, em 1990, o saldo negativo foi de US$ 772 milhões, em 2001, este déficit já representava US$ 2,8 bilhões, devendo fechar, neste ano de 2010, em US$ 15,6 bilhões, conforme a Abimaq. Segundo o presidente desta entidade, que declarou já ter enviado três cartas para o ministro da Fazenda pedindo uma elevação das tarifas de importação e medidas de defesa comercial, as empresas nacionais estão desistindo de algumas atividades para se transformar em importadoras.

O que falta ao país é uma definição de política industrial que deveria passar pela desoneração tributária do setor de bens de capital, pois além de concorrermos com bens de alta intensidade tecnológica, vindos principalmente da China, Estados Unidos, Japão e Alemanha, a produção destes é protegida e estimulada pelo governo.

Mas não é só isso. A política econômica assentada no “saci macroeconômico” (regime de metas de inflação), personagem que nos foi apresentado em análises anteriores, contribui significativamente para o agravamento do problema. O pretexto de combater a inflação nos dá de presente a maior taxa de juros do mundo e, em consequência, uma participação maior dos estrangeiros no estoque da dívida pública do país. Dados de outubro mostram que R$ 155,3 bilhões em títulos da dívida pública estão nas mãos de não residentes, o que representa uma parcela de 10,29% do estoque total. A valorização do câmbio provocada pela enxurrada de moeda estrangeira no país tem facilitado as compras externas de bens de capital. Por esta razão, as perspectivas para o setor não são boas e a indústria continuará perdendo o seu papel de motor impulsionador da recuperação da economia interna, tornando esta fase do ciclo cada vez mais vinculada ao desempenho econômico mundial.

Infelizmente, com a “velha/nova equipe econômica” da nova gestão, nos chega também a velha notícia de que há um viés de alta para a taxa de juros básica, a Selic. Este será possivelmente o presente de Natal das despedidas do Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central.

Por enquanto, para a indústria de bens de capital só resta preparar-se para o pior, e esperar pra ver no que no dar.

Texto escrito por:
Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - projeto globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Nova/Velha Equipe Econômica de Dilma

Semana de 15 a 21 de novembro de 2010

Há poucos dias, nos debates dos presidenciáveis, eram quase unanimidade as questões que deveriam ser prioritárias para o novo presidente. Educação, saúde e segurança pública eram os grandes temas debatidos. Para variar um pouco, gastavam o tempo falando da Petrobrás. A política econômica era deixada de lado, em boa parte, porque não havia o que discutir, já que, para os três candidatos mais cotados, ela era basicamente a mesma. Outra razão é que a ilusão provocada pelo controle inflacionário e o crescimento econômico dos últimos anos dava uma falsa impressão, aos três candidatos citados, de que a política atualmente em curso é a melhor possível.

Passada a eleição, o que de fato interessa volta à cena: a política econômica. Ninguém na imprensa, ou nos bastidores da política, está preocupado em saber quem será o novo ministro da educação, saúde e segurança. O que querem mesmo saber é quem vai ocupar os cargos de Ministro da Fazenda e Presidente do Banco Central. Pelos rumores que correm, Henrique Meirelles, do Banco Central, deve deixar o cargo, mas a presidente eleita, Dilma Roussef, já garantiu que Guido Mantega fica na Fazenda.

E o que muda e o que permanece na política econômica? É melhor esperar para ver, pois com essa postura, tudo indicaria uma política mais desenvolvimentista. Mas, não sejamos ingênuos, o Brasil precisa de uma conjuntura externa favorável, ou seja, o mundo precisa voltar a crescer e a guerra cambial precisa ter um fim. Isto para não falar da continuidade da política fiscal expansionista e do fim do aperto monetário. Mas, será que os bons ventos vão soprar a favor do Brasil?

Vamos então aos fatos. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera uma desaceleração do crescimento mundial no ano que vem, mas uma recuperação no ano seguinte. A organização afirma, entretanto que os desequilíbrios internacionais continuam severos.

A política do Federal Reserve (Fed), banco central americano, para salvar os Estados Unidos, pode acabar matando a maior fonte de demanda no mundo atual. O Fed toma medidas para estimular a produção dos EUA. Juro zero a perder de vista e dinheiro jogado “de helicóptero” na economia. Assim o dólar perde força apoiando as exportações americanas e dificultando as demais.

Esta ação vai se constituir em mais um agravante para os maus resultados da nossa balança comercial. A participação das importações no consumo interno do Brasil chegou a 22,7% no terceiro trimestre de 2010, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O índice é recorde na série medida pela entidade. Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, a alta do coeficiente de importação foi de 4,6 pontos percentuais. Em relação ao mesmo período de 2008, houve aumento de 2,2 pontos.

Outro resultado da estratégia americana é a corrida para as commodities. Os preços sobem e a inflação nos países emergentes também. Essa estratégia já leva o Brasil a repensar sua política monetária. O aumento da pressão dos alimentos sobre a inflação levou os analistas que respondem ao Boletim Focus do Banco Central (BC) a elevar a expectativa da taxa Selic para o próximo ano, de 11,75% ao ano, na semana passada, para 12% ao ano. Essa é a primeira vez, em dois meses, que os economistas elevam a projeção dos juros para o próximo ano. O ciclo de aperto monetário esperado para 2011 passou, de um ponto percentual, para 1,25 pontos percentuais.

E, quanto à política fiscal, o menino de ouro do Ministério da Fazenda, Guido Mantega, terá sua atuação comprimida por dois preceitos básicos da política econômica do novo governo: reduzir a dívida interna líquida para 30% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014, para “permitir” juros reais de 2% ao ano no fim do mandato da presidente eleita. Nas contas da área técnica da Fazenda, com crescimento da ordem de 5% ao ano e superávit fiscal de 3,3% do PIB, será possível cumprir essa determinação.

Só nos resta desejar boa sorte à presidente Dilma Roussef e a sua equipe.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Tecnologia e Gestão Pública do CTDR/UFPB, Doutoranda em Economia pelo PIMES/UFPE, Pesquisadora do PROGEB. www.progeb.blogspot.com.