quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Teoria e Realidade

Semana de 26 de janeiro a 01 de fevereiro de 2015


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Durante todo o ano de 2014, nas nossas análises, acompanhamos a evolução da economia mundial e nacional e identificamos a fase do ciclo econômico atual como a passagem da fase de crise para a fase de depressão. Agora, mais uma vez explicitamos que o instrumental teórico que nos serve de base é a teoria dos ciclos econômicos ou das crises cíclicas de superprodução. Lembramos que esta teoria nos ensina que a economia capitalista se desenvolve em ciclos e que estes ciclos são compostos de quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. Há uma abundante literatura sobre o assunto que, infelizmente, deixou de ser estudada nos cursos de economia por razões puramente ideológicas. Como consequência, os economistas perderam a capacidade de entender os fenômenos econômicos atuais e estão mais perdidos do que cego em tiroteio. A economia renuncia ao seu caráter de ciência e se transforma no mais puro charlatanismo ideológico sem qualquer utilidade a não ser defender o sistema atual.
Neste início de ano, os dados que vão sendo divulgados confirmam as análises que fizemos e que nos permitiu identificar a atual fase do ciclo como de depressão. Este quadro continua a caracterizar 2015, para desespero dos governos e das autoridades responsáveis pela política econômica.
Com exceção dos EUA, onde se observa uma lenta e duvidosa recuperação, o resto do mundo continua em convulsão. Embora o nosso ministro Levy não saiba, os maiores Bancos Centrais (BCs) do mundo, com exceção do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, mantêm políticas expansionistas. Servem de exemplos o Q.E. (Quantitative Easing) do Banco Central Europeu (BCE), do Banco do Japão (Boj), do Banco da Suíça, do Banco da China, etc., bem como a redução dos juros da maioria esmagadora dos países (são exceções a Rússia, Venezuela e Brasil).
Por mais que desagrade ao “homem da tesoura” (o ministro Levy), a sua austeridade, está caminhando na contra mão, pois o mundo desenvolvido continua dependente de gigantescos estímulos monetários.
A equipe econômica anterior lutou desesperadamente contra essa situação de crise e utilizou as clássicas políticas keynesianas recomendadas. O ano eleitoral criou dificuldades excepcionais e, para ganhar as eleições, o governo exagerou na dosagem. Foi difícil agradar os banqueiros (juros altos), os empresários (redução de impostos, desonerações) e os trabalhadores (salários, distribuição de renda, criação de empregos) ao mesmo tempo. O caminho escolhido foi usar o Estado, o que levou ao comprometimento do equilíbrio orçamentário e ao endividamento. Era evidente que isto estava ocorrendo. O grande erro foi tentar enganar a todos e não assumir publicamente a opção pela não criação do superávit primário. Como resultado manteve-se o emprego e a renda, os bancos nadaram na abundância e os empresários, a duras penas, sobreviveram, mas o Estado chegou à beira da ruptura.
Para complicar, caíram sobre todos, as fúrias do destino, com a crise das chuvas (e da energia), a ganância da corrupção (com o caso “petrolão”) e o prolongamento da crise mundial.
Neste início de 2015 a situação da economia global continua no impasse, a crise da Petrobras deve agravar-se e atingir empresas em cadeia (setor siderúrgico, construção naval, empreiteiras, etc.), a crise hídrica e do setor elétrico mantém-se e a nova equipe econômica, possuída pela sua ideologia liberal fanática imposta pelo chicago boy Levy, empurra a economia para o fundo do poço.
Não temos qualquer dúvida e alertamos os leitores para o agravamento da situação da economia nacional, neste 2015. Haverá desaceleração da indústria, com possibilidade de fechamento de empresas, desemprego, redução de salários, elevação de juros e queda no consumo. O Banco Central (BC) continuará com sua estúpida elevação da taxa de juros Selic que não vai conter a inflação que estourará o teto da meta, pois os juros altos não fazem chover nem afetam os preços administrados pelo governo.
O cinismo com que o governo Dilma e o PT tentam enganar o povo, escondendo as consequências da política que pretendem implementar, poderá levá-los à desmoralização e a um fim melancólico.
É isto que nos espera nos próximos meses. Preparemo-nos todos!



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).