sábado, 25 de abril de 2009

Charge


O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa bateram boca nesta quarta-feira no plenário do tribunal. Barbosa acusou o presidente da Corte de estar "destruindo a credibilidade da Justiça brasileira" durante o julgamento de duas ações --referentes ao pagamento de previdência a servidores do Paraná e à prerrogativa de foro privilegiado. Veja o vídeo da discussão.
"Vossa excelência me respeite. Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país e vem agora dar lição de moral em mim. Saia à rua, ministro Gilmar. Faça o que eu faço", afirmou Barbosa.
Em resposta, Mendes disse que "está na rua". Barbosa, por sua vez, voltou a atacar o presidente do STF. "Vossa Excelência não está na rua, está na mídia destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro."
"É uma intervenção normal regular. A reação brutal, como sempre, veio de Vossa Excelência. Eu simplesmente chamei a atenção da Corte para as consequências dessa decisão", afirmou Barbosa.

Trecho retirado de:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u554762.shtml

Esta charge do Solda foi feita originalmente para o


segunda-feira, 20 de abril de 2009

A nova obsessão do Presidente Lula

Semana de 06 a 12 de abril de 2009

Na primeira quinzena de abril, a mudança da presidência do Banco do Brasil, foi o assunto que mais se destacou no cenário econômico do país. Na verdade, as razões para a saída de Antonio Francisco Lima Neto, da presidência da instituição, é que provocaram mais polêmica. Conforme a Gazeta Mercantil (9, 10, 11 e 12/04/2009), a principal delas foi a resistência de Antonio Lima, aos pedidos do presidente Lula, para reduzir o spread bancário (a diferença entre os juros que os bancos pagam aos aplicadores e o que cobram dos tomadores).
Ainda, segundo a Gazeta Mercantil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o novo presidente da instituição, Aldemir Bendine, assumirá o posto com um contrato de gestão específico cuja finalidade é “adotar uma política de crédito mais ousada e agressiva, para reduzir os juros e ganhar clientes”.
Acossado pela iminência real e imediata de uma recessão no país, na segunda metade do mandato, e como a escassez do crédito no mercado continua, apesar das medidas já tomadas, a equipe do presidente Lula vê-se na situação de pressionar o setor bancário considerado até agora como blindado.
Conforme dados do Banco Central, em média, os bancos pagavam 13,9% ao ano para captar recursos e cobravam 44% ao ano para emprestar. Esta diferença piorou nos últimos meses, com o agravamento da crise, apesar da queda da taxa Selic.


Taxas de juros e spread para pessoas jurídicas - Brasil(*)
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Taxas de juros e spread para pessoas físicas (*)
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Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que a taxa de juro real, praticada nas operações de crédito a pessoas físicas, no Brasil, chegou a ser quase 10 vezes maior do que a de outros países. O HSBC, por exemplo, cobra dos brasileiros 63,42%, enquanto dos ingleses cobra 6,6%. Já o Citibank cobra dos norte-americanos 7,28%, e 60,84%, dos brasileiros. O Itaú aplica juros de 63,25% e o Banco do Brasil, 25,25%. Dentre as razões para valores tão elevados, na concessão de empréstimos, os bancos alegam a taxa Selic e o forte recolhimento de depósitos compulsórios no Banco Central. A percentagem chega atingir 50% dos depósitos à vista.
O estudo do IPEA revela, porém, uma outra razão: a monopolização do setor causada pela concentração do sistema bancário. Entre 1996 e 2006, a participação dos 20 maiores bancos em operação, no país, saltou de 72% para 86%. E a grande maioria das instituições concentra-se nas regiões Sul e Sudeste.
Diante de tamanha usura praticada há tanto tempo por bancos públicos e privados, nacionais ou não, por que só agora o governo brasileiro começa a bater o pé?

Brasil: evolução da participação dos 20 maiores bancos no total dos ativos dos bancários (*)
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O que se sabe é que a redução do spread bancário é considerada uma “obsessão” do presidente Lula, e que o novo gestor do Banco do Brasil, instituição do Estado com acionistas privados, será mais obediente quanto às determinações do governo.
A obsessão do presidente não é destituída de fundamentos. Com efeito, a situação econômica continua a agravar-se. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) aponta que, em fevereiro deste ano, em comparação a igual período em 2008, o faturamento das empresas caiu 10% e o nível de emprego recuou 1,5%. No primeiro bimestre, 15 segmentos industriais tiveram faturamento reduzido. As maiores quedas setoriais ocorreram na metalurgia básica (-42,6%) e nos produtos químicos (-20,7%). Contudo, o que preocupa os analistas é o baixo índice de Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que, em fevereiro, ficou em 77,8%, o pior resultado desde julho de 2003.

Pessoal ocupado e produção industrial - Brasil (*)
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O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, acredita numa possível recuperação, no segundo semestre, a partir de julho. Mesmo assim, há o temor de que essa inflexão não ocorra. “Se o restante do ano repetir o mau desempenho registrado no primeiro bimestre de 2009 será um desastre para a indústria brasileira”, informa Castelo Branco.
A sensação de insegurança acerca da extensão da crise econômica no Brasil é partilhada pelos líderes executivos de 15 empresas com faturamento anual de ate R$ 1,5 bilhão. A pesquisa da Ernst&Young verificou que 53% dos entrevistados pretendem reduzir os investimentos e 47% estão prevendo diminuir os postos de trabalho nos próximos meses. Apesar da metade dos entrevistados confiar que serão capazes de manter ou melhorar os resultados deste ano, para 73% deles a desaceleração econômica deve manter-se nos próximos 12 a 24 meses.
A queda da demanda levou o setor da fundição a cortar pela metade os investimentos previstos até 2012. O tombo do setor aconteceu em novembro e dezembro do ano passado, quando as encomendas caíram 70% em comparação ao último bimestre de 2007.
O setor de fundição tem a maior parte de sua produção vendida para as empresas da cadeia automotiva. De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de automotivos recuou 24,1% no primeiro bimestre do ano. Apesar da reação nas vendas dos veículos leves no Brasil, a partir de fevereiro e março, outros segmentos, como de ônibus, caminhões e máquinas agrícolas, tiveram desempenho muito ruins.
Para Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil, uma das poucas montadoras de carros a enfrentar a situação econômica sem maiores prejuízos, só a redução de impostos não ajuda o mercado, e o que garantirá a movimentação do setor automotivo, nos próximos meses, será a linha de crédito mais acessível ao consumidor.
Desde o início do ano, o governo federal resolveu reduzir os impostos para a atividade econômica não cair. Isentou os automóveis e a construção civil do IPI, e prorrogou esta isenção até junho próximo. A ação deu certo fôlego para a produção, como mostra o aumento das vendas de automóveis, referido anteriormente, mas, por outro lado, contribuiu diretamente para a queda na arrecadação dos tributos, o que reduziu a receita dos municípios.
Sabendo de sua importância nas próximas eleições presidenciais, de imediato, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) protestou contra a queda de 14,5%, dos recursos do Fundo de Participação Municipal, em março. Dois impostos federais, o Imposto de Renda e o IPI, são responsáveis por 22,5% dos recursos do Fundo.
Pelo visto, nos próximos meses, muitas outras obsessões deverão preocupar o presidente Lula e sua equipe.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
projeb@ccsa.ufpb.br

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Reunião do G20 enterra o Consenso de Washington

Semana de 30 de março a 05 de abril de 2009

Dentre os acontecimentos mais relevantes da semana de 30/03 a 05/4/2009, destacam-se as medidas debatidas e anunciadas pela reunião de cúpula do G20, grupo que reúne os 20 maiores países do mundo e que, juntos, representam 85% do PIB global. Esse foi mais um passo dado na direção de um plano geral capaz de articular a ação dos vários governos. Na reunião foi aprovado um pacote de US$ 1,1 trilhão para restaurar o crédito, o crescimento e os empregos. Trata-se de um plano, sem precedentes na história, que contempla, até o final do próximo ano, a quantia de US$ 5 trilhões e pretende fazer crescer em 4% a produção mundial.
A reunião do G20, que contou com momentos de fortes discussões e consequentes tensões, muito visíveis através das posturas do Presidente francês, Nicolas Sarkozy e da firme e contrária postura do Presidente americano, Barack Obama, conseguiu arrancar o compromisso das principais nações de usar incentivos fiscais, reduzir taxas de juros, pelo tempo que for necessário, recorrendo inclusive a instrumentos “não convencionais”.
O grau de intervencionismo alcançado, pelo menos nas intenções do G 20, pode ser sintetizado com a frase do ministro Guido Mantega: “Todos nós nos tornamos pós-keynesianos, e Keynes ficaria espantado com o tamanho das intervenções que estão sendo feitas”.
Na reunião, além do anunciado pacote financeiro, destacam-se as seguintes e importantes decisões:
  • pacote de US$ 250 biliões para financiar o comércio internacional;
  • fim do segredo bancário, com punições previstas para os paraísos fiscais que não respeitarem as novas regras;
  • registro obrigatório dos hedges funds e de seus gestores e compartilhamento das informações para avaliar o sistema financeiro;
  • destinar entre US$ 10 e US$ 15 biliões anuais para preservar as florestas tropicais.
Com essas decisões o G 20 confirmou o retorno do Estado forte, objetivamente deitando por terra o Consenso de Whashington.
Num momento muito infeliz, o Presidente Lula comparou o protecionismo, “com uma droga, que dá satisfação num primeiro momento e estragos depois…”
Momento feliz foi a mudança da posição do governo dos EUA, que durante os últimos 30 anos tinha a mesma tônica e agora, com Obama como Presidente, processa-se a uma grande inflexão. Obama aceitou o desafio de convencer os demais países, que embora o governo americano se comprometa com a retomada da economia, ele não idealiza um consumismo voraz nos EUA. Sabe-se que o mercado americano tem sido, ao longo da história contemporânea, uma espécie de tábua de salvação para os países que exportam ou procuram exportar para lá. Isso parece que pode mudar, embora o mercado americano continue a jogar o papel de grande líder e maior protagonista das soluções apontadas. A maior parte do dinheiro prometido pelo G-20, ainda não existe e certamente os Estados Unidos vão ter que o fabricar.
O professor da Yale School of Management, Jeffrey E. Garten, fez uma importante observação, que ilustra o tipo de mudança esperada para os rumos ainda mais intervencionists que serão seguidos pela economia mundial: "ficou cada vez mais patente, que deixamos que o capitalismo seguisse uma direção inconsequente”.
Nessa mesma semana, nos Estados Unidos, o mercado de trabalho perdeu mais de 742 mil postos, sendo o desemprego, o maior em 25 anos, com a taxa a atingir 8.5%; sendo que em sete estados americanos, Nevada, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Oregon,Michigan ( 12%),California, Rhode Island, essa taxa já é superior aos 10%. Do início da recessão até o final de 2007, o país já cortou 5,1 milhões de vagas.

Taxa de desemprego dessazonalizada - Estados Unidos (*)
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Muitos pais de família americanos pedem redução de pensões na Vara de família, um pouco por todo o país, enquanto o Presidente Obama dá um ultimato a GM e a Chrysler para apresentarem planos viáveis de recuperação. Tudo indica que se está a viabilizar a aliança entre a Chrysler e a Fiat, talvez mesmo uma fusão entre as duas gigantes. A Fiat já teve uma queda no valor de suas ações de 9,35%, certamente, como uma das consequências dos temores dos agentes econômicos sobre essa operação.
No Canadá, a Bombardier, uma das quatro maiores fábricas de aviões do mundo, anuncia que demitirá mais de 3.000 empregados, 10% de sua força de trabalho.
No velho continente, o Banco Central Europeu (BCE) fez um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juro, contrariando as expectativas dos analisas, de 0,50. Mesmo assim, colocou o juro da zona do euro em novo recorde mínimo, de 1,25% o que deve ajudar a manter a estabilidade dos preços na economia.

Taxa de juros para a União Européia(*)
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Na Ásia, excluindo o Japão, o PIB crescerá 3,4%, menos da metade da estimativa divulgada em setembro, que era de 7,2%, informou o Banco de Desenvolvimento da Ásia, através de um relatório. O Japão tem um segundo plano de retomada da economia, no momento em que sua economia vive a pior fase desde a segunda guerra mundial. O PIB do Japão despencou 12,1%, no último trimestre de 2008. Segundo a OCDE, em 2009, o PIB daquele país recuará 6,6%. Enquanto isso, a sua taxa de desemprego cresceu para 4,4%, em Fevereiro, se comparada com a de Janeiro, que era de 4,15%.
O BIRD e a OCDE anunciaram mais um corte nas projeções globais para 2009, de 1,7% abaixo do que fora previsto; os trinta países da OCDE terão redução de 4,3%, sendo que os países mais ricos terão queda na atividade económica, da ordem de 2,9%, e os países em desenvolvimento, terão forte desaceleração, embora a expectativa seja de que o crescimento permanecerá positivo, com 2,1%, contra os 5,8%, em 2008. O BIRD indica ainda uma queda histórica no volume do comércio mundial de bens e serviços. Comparado com 2008 o seu volume se reduzirá de 6,1%, representando a maior contração desde a grande depressão de 1929. Espera-se também uma recessão para o Leste Europeu e Ásia Central, sendo a previsão para a Rússia de –4,5% e para a Turquia, de -2,0%. Quanto à América latina e Antilhas, o PIB deve recuar 0,6%.
No Brasil, os destaques no setor industrial vão para a forte queda do preço do alumínio, o que provoca cortes na sua produção e para duas gigantes do ramo de alimentação (Sadia e Perdigão) que tentam negociar uma fusão. Noticia-se também a venda do controle da Medley, a maior produtora brasileira de medicamentos genéricos, para a francesa Sanofi-Aventis; o benefício fiscal concedido à Usiminas, que mantém investimento em Minas Gerais; e o corte de 11% do efetivo da Winnstal, pequena empresa nacional fornecedora da Embraer. Quanto ao comércio, anuncia-se que em São Paulo houve uma quebra de 3,2% no faturamento dos primeiros meses desse ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Todos os produtos que apresentaram retração estão ligados ao crédito, o que mostra o clima de incerteza dos consumidores. Excepção à regra é a venda de automóveis, que teve uma média diária de 12,6 mil veículos, 125 a mais que em igual mês do ano passado. Deve-se essa onda positiva à redução do IPI e da taxa de juros.
Em contra partida, o setor de bens de capital registrou uma queda de 24,4%, em Fevereiro, se comparado com o ano passado e tem o seu pior desempenho desde Março de 1996.
A Votorantin registrou um prejuízo líquido de R$ 970 milhões, no último trimestre de 2008. A Aracruz teve perdas de R$ 4 biliões e resolveu rever seus investimentos. Em geral, a produção industrial fraca sinaliza um crescimento zero do PIB no primeiro trimestre de 2009. O Banco Central já apresentou uma revisão das estimativas para o ano.
Por outro lado a queda na arrecadação e o aumento dos gastos redundaram em resultados negativos. A redução do superavit primário foi de 54%. Enquanto isso, continua a expectativa do governo de que o pacote fiscal, com a redução do IPI, prorrogada por três meses, continue seus efeitos positivos no mercado de automóveis e produza também bons efeitos no mercado de imóveis. No pacote fiscal, cresceu o IPI para a indústria de cigarros, o que leva os industriais do fumo a pedir uma revisão tributária. Dentre as medidas voltadas para a reanimação da economia está a facilidade, que o governo concede, na utilização do FGTS para a compra da casa própria. Ainda falou-se essa semana em outras medidas anticrise.
O Banco Central deve facilitar empréstimos de bancos a empresas no exterior.
Com tudo isso, no entanto, anuncia-se também a queda na popularidade do governo!

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora da UFPB e pesquisadora do PROGEB- Projeto Globalização e Crise da Economia Brasileira
progeb.ccsa.ufpb.br

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