quarta-feira, 7 de junho de 2017

O milagre ocorreu! Aleluia!

Semana de 29 de maio a 04 de junho de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Afinal, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o primeiro trimestre deste ano (de janeiro a março). Em relação ao trimestre anterior, o quarto trimestre de 2016, o PIB apresentou um crescimento de incríveis... 1%. Festa, foguetes, declarações bombásticas. O milagre ocorreu?
Para o ministro da Fazenda Henrique Meirelles “não há dúvidas que a recessão acabou” e que ao final do ano teremos um “ritmo de crescimento sólido, cerca de 3%”. “Isso significa que o Brasil, de fato, retornou à rota de crescimento...” “o país está forte, o país está crescendo, o que mostra que estamos na direção certa...”.
O ministro do Planejamento Dyogo Oliveira acompanhou o mestre: o resultado do PIB “interrompeu a mais longa recessão da história econômica recente do país”.
Ambos, é claro, condicionaram o sucesso da recuperação à aprovação das “reformas” pelo Congresso.
O maior fogueteiro, no entanto, foi o presidente Temer. Começando com um solene “o Brasil venceu a recessão” ele botou a boca no trombone: “Há pouco mais de um ano quando assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado na mais profunda recessão da sua história. O número de hoje marca o renascimento da economia em bases sólidas e sustentáveis”. Temer continuou atribuindo o sucesso ao “resultado de um ano de trabalho” de seu governo que conseguiu, “em sintonia com o Congresso e ouvindo a sociedade... promover as reformas adiadas por tanto tempo”.
A mentira parece ser um atributo dos ministros que são pagos para justificar a ação dos governos, com destaque para os ministros da Fazenda que pensam em criar “expectativas” com o fim de estimular os investidores. Com os presidentes o caso é um pouco mais grave. Por isso, os discursos do presidente Temer, embarcando no time dos mentirosos, exigem alguns comentários.
O controle da inflação e a queda dos juros, citados por ele, não são obra de seu governo, mas do Banco Central (BC) e seus órgãos controladores, que se afirmam independentes.
Os saldos positivos da balança comercial são resultados da supersafra de grãos (milho e soja) considerada a maior dos últimos 25 anos e dos preços favoráveis do mercado mundial, ajudados pela desvalorização do real e pelas condições climáticas. Também não são obra do governo Temer.
Quanto ao crescimento do PIB é preciso considerar o seguinte. Em primeiro lugar, todos sabem como se calculam percentagens e sobre o que elas incidem. Com uma base de partida muito baixa, depois de quedas sucessivas do PIB durante dois anos, um aumento de 1% pode ser considerado bastante modesto. Mas, há outros aspectos a considerar. O PIB é composto pelo somatório da produção de três setores: indústria, agricultura e serviços. Para o proclamado 1%, os três setores contribuíram do seguinte modo: agricultura 13,4%, indústria 0,9% e serviços 0,0%. Olhando estes dados concluímos que sem a colaboração de São Pedro e da natureza não haveria crescimento nenhum do PIB e, portanto, nada a comemorar.
Se olharmos para o trimestre em curso (abril a junho) as perspectivas não são nada animadoras. Os dados até agora divulgados mostram números negativos para a indústria e serviços e da agricultura não se espera a repetição do feito excepcional. Parece que as bases do crescimento não são tão sólidas e sustentáveis como proclamado. Considerando-se que as reformas se arrastam a duras penas, a sintonia com o congresso é comprada a peso de ouro e a sociedade ainda não fez ouvir seus clamores, resta muito pouco das afirmações presidenciais.
Mas, não são apenas os dados econômicos que desmoralizam o governo. Do lado político a situação não é nada confortável. A continuação dos processos deflagrados pelas delações dos irmãos Batista traz novos fatos. A tentativa de troca de poleiros entre os ministros da Justiça e da Transparência, Serraglio e Torquato, resultou em um tiro no pé do governo. Serraglio não aceitou e reassumiu sua cadeira de deputado tirando a imunidade do homem da mala Rocha Loures que foi imediatamente preso surgindo daí a ameaça de delação. Além disso, foi retomado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o julgamento da impugnação da chapa Dilma-Temer.
O desenvolvimento das ações judiciais faz aumentar os rumores de que a Lava-Jato está a caminho da extinção para que a paz possa voltar a reinar no segundo país mais corrupto do mundo.
Com efeito, um estudo divulgado pela IMD, uma das escolas de administração mais famosas do mundo, com sede em Lausanne, classificou o Brasil como o vice-campeão da corrupção, em uma lista de 63 países estudados.
Aleluia!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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