terça-feira, 6 de julho de 2010

As Formas de Manifestação das Contradições Internas do Capitalismo

Semana de 21 a 27 de junho de 2010


Os agentes econômicos continuam preocupados com a trajetória da economia mundial, visto que a situação na Europa permanece tensa. Uma compilação feita pelo Royal Bank of Scotland aponta que os empréstimos fornecidos pelo Banco Central Europeu cresceram € 332 bilhões desde junho de 2008. O que chama atenção é que 68% deste aumento, ou seja, € 225 bilhões, consiste em empréstimos a bancos da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Diante deste cenário, a preocupação com a austeridade fiscal fez o rendimento dos títulos gregos com prazo de 10 anos subir mais de um ponto percentual nesta semana, atingindo 10,42%. Os rendimentos dos títulos de Portugal e Espanha, por sua vez, subiram para 5,70% e 4,5% respectivamente, estando, este último, meio ponto percentual acima do patamar alcançado durante a turbulência financeira ocorrida em 10 de maio passado.
Nos Estados Unidos, a venda de imóveis usados, também em maio, caiu 2,2% em relação a abril, mesmo com os analistas esperando um aumento de 6%. Desempenho consideravelmente pior foi constatado nas vendas de imóveis novos, que caíram 33% no mesmo período, quando os analistas esperavam uma queda de 20%. Sabendo que os incentivos estatais para compra de imóveis duraram até abril, a magnitude da queda nas vendas aponta para o fato de que a destruição de capitais neste setor apenas foi adiada pelo governo norte-americano.
Um problema que passa despercebido, entretanto, é que esta situação da economia mundial serve de justificativa ao aumento da exploração da força de trabalho. Um indicador econômico que se presta muito bem à mistificação deste fenômeno é a produtividade do trabalho, visto que é comumente calculado apenas dividindo o que foi produzido pelo número de trabalhadores ativos. Mas, os entusiastas deste indicador, maliciosamente, nunca consideram o ritmo de trabalho ou a quantidade de horas trabalhadas por cada trabalhador, o que permitiria diferenciar aumento de produtividade e aumento de intensidade do trabalho.
Na economia brasileira, por exemplo, nos 12 meses encerrados em abril deste ano, a indústria teve um aumento de 4,2% no que se chama de produtividade. A credibilidade desta estatística, todavia, é colocada em xeque quando se analisa a evolução dos índices de horas trabalhadas e pessoal ocupado na indústria durante o mesmo período. Segundo pesquisas do IBGE e da CNI, enquanto o primeiro evoluiu, de 97,5, para 105,6 (com um pico que atinge 109,8 em março), o segundo (tendo o último valor como pico) passou de 99,46 para apenas 102,78. Claramente se observa, portanto, que o chamado aumento de produtividade, na verdade, esconde uma jornada de trabalho cada vez mais árdua para os trabalhadores. Para piorar a situação, a resposta dos trabalhadores via organização sindical conseguiu aumentos reais de salário de apenas 1,9% neste período. Se tal cenário se desenha em um dos países em melhor situação frente à crise, imagina-se como deve estar a situação do resto do mundo.
Na China, o aumento da dominação das relações capitalistas na economia, que têm como efeito colateral o aumento da organização da classe operária, tem gerado uma série de greves. A maior operação da Toyota, depois de três dias de paralisação, só foi reaberta na segunda-feira, dia 21, após acordo com trabalhadores de uma fabricante de autopeças. Entretanto, no dia seguinte, a companhia foi novamente forçada a fechar duas linhas de montagem em virtude de novas greves nos seus fornecedores. Já a Honda, devido às greves dos seus trabalhadores, foi obrigada a aumentar os salários em até 24%. Após este reajuste, o salário anual do trabalhador chinês passou à faixa que varia entre US$ 4.500 e US$ 5.500, quase o dobro do salário médio de um operário indiano e 33% maior que o de um operário tailandês. Assim, os mesmos fatores que levaram várias companhias a migrarem para a China farão com que estas migrem para outros países. Resta-nos saber o que acontecerá quando não houverem mais trabalhadores desorganizados em países de terceiro mundo que se submetam aos altos níveis de exploração que têm sido praticados.
Vemos, portanto, que a ocorrência no cenário da economia mundial, de acontecimentos como tensão nos mercados financeiros, destruição de capitais e conflitos de classe, permite claramente a observação das formas de manifestação das contradições internas do Modo de Produção Capitalista na atualidade.


Texto escrito por:

Antonio Carneiro de Almeida Júnior: Economista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR, PPGDE/UFPR, e pesquisador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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