Semana de 12 a 18 de março de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os mais importantes fatos
da semana continuam a confirmar as grandes tendências da economia, que temos
apontado em nossas análises.
A economia americana
continua ensaiando uma recuperação que não se define, apesar da manutenção da
taxa de juros básica, pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano,
entre 0% e 0,25% ao ano. O impasse da União Européia (UE), epicentro da crise
atual, também permanece, e as medidas tomadas não conseguem reverter o quadro,
mas contribuem para agravar a situação dos demais países, particularmente os
emergentes, entre os quais o Brasil está incluso.
A Itália “decretou” a
recessão depois que o PIB, que já havia desacelerado no terceiro trimestre de
2011, recuou mais 0,7% no quarto. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima
que, em todo o ano, a queda do PIB, neste país, será de 2,2%. Na Grécia, a
produção industrial caiu 5%, em janeiro, em comparação ao mesmo mês de 2011 e,
em todo o ano, espera-se uma queda de 4,4%, sendo o quinto ano consecutivo de
crescimento negativo da indústria.
Na Espanha e em Portugal,
os empresários reclamam que os bancos não estão emprestando dinheiro, apesar do
derrame dos bilhões de euros feito pelo BCE. Os bancos espanhóis cortaram o
crédito em 3,3%, em dezembro, e pretendem comprar títulos da dívida do governo
espanhol por causa dos elevados juros que pagam.
Enquanto isto, a
consultoria britânica Tax Research publicou um estudo no qual demonstra que a evasão fiscal na UE atinge 1
trilhão de euros por ano, o que seria suficiente para pagar todas as dívidas
dos 27 países-membros em menos de 9 anos.
Por outro lado, as
notícias da China alertam para um agravamento da situação, pois, após 10 anos
de superávits gigantescos, em janeiro, a balança comercial fechou no vermelho,
e os primeiros dados de fevereiro mostram um novo déficit de US$ 31,5 bilhões.
Esta instabilidade da
economia mundial reflete-se no mercado do ouro. A procura pelo metal já levou
os especuladores a acumularem 2,407 toneladas métricas, no valor de US$ 131
bilhões. Mas, não é só a instabilidade e a insegurança que aumentam a demanda
pelo ouro. Com o derrame de dólares e euros pelos BCs, agrava-se o temor da
inflação com a consequente elevação do preço do ouro que, este ano, já subiu
mais de 8%, atingindo US$ 1.700 a onça (31,10 gramas).
Há outro aspecto a
destacar. A crise, em um mundo globalizado, favorece o deslocamento desenfreado
dos capitais em busca das melhores condições de produção, para reduzir os
custos. O deslocamento das empresas de várias partes do mundo para a China, em
busca da mão de obra barata, começa a se alterar. Como era de se prever, as
grandes concentrações de operários que foram criadas forçaram o desenvolvimento
da consciência de classe, o que levou os operários à organização de sindicatos.
As greves e manifestações têm tido como resultado elevações consideráveis de
salários, o que vai empurrando as empresas para outros países mais pobres e
atrasados e com trabalhadores mais dóceis e desorganizados. O deslocamento
agora está se dando para a Tailândia, Indonésia, Sri Lanka, Malásia, Vietnã,
etc. Países da América Central como o Haiti e do mundo árabe, como a Jordânia e
Egito, já entram na linha de interesses das grandes multinacionais como a Nike
Inc., a Adidas AG, a Dell Inc, etc. Empresas de confecção dos EUA, como a New
York & Co. Inc., já transferiram suas instalações da China para o Vietnã,
onde os salários são mais baixos. Já a Charming Shoppes Inc., optou pelo Vietnã
e Indonésia. Este é um dos aspectos cruéis do capitalismo atual. A globalização
conduz ao nivelamento por baixo, a igualdade da miséria e da submissão.
Como vemos, o ambiente
externo apresenta-se muito conturbado. Os capitais especulativos estão
desesperados a procura de rendimentos fáceis. As altas taxas de juros
praticadas no Brasil são um atrativo irresistível e, pelo que se comenta, o
tsunami de dólares mal começou a chegar às nossas contas. O BC vem derrubando a
Selic, mas dificilmente ultrapassará os 9%, o que vai obrigando o governo a
utilizar as tíbias medidas macro e micro prudenciais que os agentes
financeiros, em pouco tempo, conseguem burlar. Agora se fala em uma taxa de
câmbio ideal, que seria de R$1,80 por dólar, para tentar acalmar o setor
exportador.
Enquanto isso, a
indústria, que ainda permanece instalada no país, amarga a perda dos mercados
externos e internos, e o Brasil vai se reconvertendo em um país primário
exportador, fornecedor de commodities para o resto do mundo.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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