Semana de 06 a 12 de agosto de 2012
Eric Gil Dantas [i]
O mês de agosto deve ser
lembrado como o aniversário das políticas de estímulo ao crescimento do governo
Dilma. Há um ano, as duas principais políticas anticíclicas começaram a ser
adotadas: o Plano Brasil Maior e a redução na taxa básica de juros, a SELIC.
A primeira parece não ter
tido o efeito esperado, pelo menos até agora. A renúncia fiscal deveria ficar
em torno de R$25 bilhões, mas cada vez mais setores reivindicaram a extensão
das benesses para si. Além das isenções de IPI, desonerações nas folhas de
pagamento e incontáveis afagos ao empresariado, nas próximas semanas, o governo
deverá anunciar a ampliação das ações, com a simplificação do PIS/Cofins, a
redução dos custos da energia elétrica (com a extinção de,pelo menos, três
encargos federais) e a ampla concessão de projetos de infraestrutura à
iniciativa privada. Esta última contará com o maior pacote, já visto pelo nosso
país, de privatizações de rodovias federais, num total de 5,7 mil km.
Mas, para o aniversário do
Brasil Maior, não temos muito que comemorar. A indústria chegou até a metade de
2012 com uma queda na utilização da capacidade instalada, que recuou para 80,2%
em junho, uma queda de quase 2%, se comparada a igual período do ano passado.
Um exemplo é a do setor de motocicletas, setor altamente dependente da renda e
do crédito da população em geral. A produção caiu 52,7% em sua comparação
anual. Já as vendas tiveram uma queda de 46,2%, também comparado a 2011.
Em relação ao outro
aniversariante, a taxa SELIC, referência para as taxas de juros do país, vimos,
em artigos anteriores, que a batalha de Dilma para a sua redução não tem tido
grandes consequências. Não podemos esperar que esta ação seja realmente
efetiva. Lembremos alguns números apresentados em análises anteriores. Três
meses de pressão do governo tiveram como resultado a queda do spread bancário, de
11%, para 10,9% no Bradesco e, de 13,5%, para 13,4% no Itaú, mostrando a
permanência dos juros altos. O efeito sobre a dívida pública também não foi
sentido. Simultaneamente à queda da SELIC, o governo reduziu a quantidade
relativa de títulos indexados a ela, ao nível de 1999, ao mesmo tempo em que
aumentou o volume de outros títulos públicos que pagam mais.
Do lado da situação
internacional, a coisa não está para brincadeira e impede qualquer otimismo sobre
a economia brasileira. A França, segunda maior economia da zona do euro, poderá
entrar em recessão oficial neste terceiro trimestre. O seu Banco Central já
aponta para uma contração de 0,1%.
A Itália também continua
a afundar. O setor de estatísticas do governo estimou que o PIB declinou 0,7%
no segundo trimestre e foi 2,5% inferior ao do mesmo período do ano passado.
Além da Itália, Espanha e Bélgica também anunciaram contrações para o segundo
trimestre de 0,4% e 0,6% respectivamente.
Nem a Alemanha, a maior
economia do Euro, demonstrou forças para salvar esta zona. A queda da sua produção
industrial foi de 0,9%, como consequência da perda de dinamismo da região. Em
junho, as exportações alemãs caíram 1,5%, após alta de 4,1% em maio.
Aos pífios números
europeus se junta a desaceleração na China. A expansão da produção industrial
do país desacelerou no mês passado, tendo o pior ritmo dos últimos três anos. Já
a inflação caiu pelo quarto mês seguido, mostrando o desaquecimento interno.
Bem, mas para tudo existe
o lado positivo. Toda esta crise na Europa e nos EUA está beneficiando a nossa
produção interna, ao menos das Havaianas! A explicação é que as sandálias de
borracha se adéquam ao atual orçamento enxuto dos europeus e estadunidenses. No
segundo trimestre de 2012, houve um aumento de 53% nas vendas internacionais da
empresa, relativo ao mesmo período do ano passado.
[i] Economista
e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
Nenhum comentário:
Postar um comentário