Semana de 22 a 28 de outubro
de 2012
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Quando, em 2008, no Brasil se falava em “marolinha”, o conjunto
das sete economias mais desenvolvidas do mundo apresentava uma redução de 0,3%
no PIB. Em 2012, agora com todos atingidos pelo tsunami, espera-se que o PIB
dos países avançados não cresça mais do que 1,4% e o do Brasil, menos de 1,5%.
Apesar da situação não estar tão ruim quanto no início da crise, não podemos
falar em recuperação mundial e, muito menos, em recuperação brasileira.
Vamos começar pela Europa, cujo crescimento, apesar das
intensas e controversas medidas de política econômica, ainda não deslanchou. A
fraca procura por mercadorias, o desemprego elevado e a impagável dívida de
alguns países mostram que a recessão, na Zona do Euro, se aprofunda. As
atividades industriais e de serviços, em outubro, reduziram-se ao mais baixo ritmo
de crescimento desde junho de 2009. Para piorar, os empresários do setor
manufatureiro reduziram suas expectativas de crescimento, visto que houve uma
contração na atividade também nos EUA e na Ásia.
Mesmo a maior economia do Bloco, a Alemanha, desacelerou,
mas foi ultrapassada pela França, país que sofreu uma queda na produção ainda
maior. A Bélgica, onde a Ford anunciou o fechamento de uma fábrica, demitindo
4.500 trabalhadores, também sofreu uma baixa. Já a Espanha, que viu o
desemprego em seu território ir acima dos 25%, teve uma retração no PIB do 3°
trimestre de 2012 de 1,7%, quando comparado com o mesmo período de 2011. A
situação chegou a tal ponto que resolveram criar o “Bad Bank”, que reunirá
vários ativos “tóxicos” de instituições financeiras. O problema, porém, é operacionalizar
esta brilhante ideia, pois quem se responsabilizará por ele?
O Japão, por sua vez, como se não bastassem os problemas
econômicos que já atingem a Ásia, arrumou outro: o problema diplomático causado
pela compra de uma parte das ilhas que formam um arquipélago no Mar da China
Oriental. Há anos, Taiwan, China e Japão travam uma disputa pela soberania do
território. Não é por menos: estima-se que existam entre 1 e 2 trilhões de pés
cúbicos de gás natural e até 100 bilhões de barris de petróleo na região. Com a
aquisição da ilha, pelos japoneses, por R$ 52 milhões, os chineses decidiram
boicotar as empresas nipônicas. O resultado é uma possível perda de 0,8% no
crescimento do PIB do Japão em 2012, só por causa disto.
Para completar o quadro internacional, as empresas
estadunidenses apresentaram fracos resultados trimestrais. Desde 2009, havia
uma tendência de fraco crescimento. Mas, apesar de ainda haver crescimento, segundo
a Thomson Reuters, espera-se que ocorra uma queda de 1,8% no lucro das maiores
empresas do país no terceiro trimestre de 2012.
Com o mundo apresentando tais indicadores, é natural que
o fluxo internacional de capitais diminua. Em relação ao primeiro semestre de
2011, a queda, nos seis primeiros meses de 2012, foi de 8%, uma cifra de US$
668 bilhões. A China, porém, ultrapassou os EUA como maior receptor, com US$
59,1 bi contra US$ 57,4 bi dos americanos.
No Brasil, a situação não é muito diferente. Apesar de
ter tido um fluxo positivo de Investimento Estrangeiro Direto no acumulado de
2012, a economia do país ainda não decolou. Isto se reflete nos três maiores
bancos privados que atuam por aqui. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander,
juntos, apresentaram um lucro líquido, no terceiro trimestre, 8,8% inferior ao
mesmo período de 2011, ganhando apenas R$ 6,82 bilhões em três meses. As causas
foram os atrasos nos pagamentos de empréstimos e a redução da expansão do
crédito. A esperança é de que, no fim do ano, com as compras natalinas, isto
não se repita.
Em meio a este cenário, o Ministro Mantega escancarou o
que todos já sabem: arrancou um pé (o câmbio flutuante) do tripé macroeconômico,
ou seja, sempre que o dólar se aproximar de R$2,00, o governo intervirá para
que ele suba. Todavia, segundo Delfim Netto, “O câmbio flexível nunca existiu.
É uma ideia de economistas”.
A Fecomercio, por outro lado, pede maiores desonerações
fiscais, especialmente a redução generalizada do IPI. O governo manteve esta
redução para os automóveis até o fim do ano. Este incentivo foi um dos principais
motivos para a moderada melhora nas encomendas de aço brasileiro, já que os
setores de construção civil e bens de capital não estão respondendo aos
estímulos.
Como um todo, há uma expectativa de melhora por parte da
indústria, porém, diante dos fatos, a CNI afirma: “é cedo
para falar em retomada”.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
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