Semana de 03 a 09 de dezembro de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Aproxima-se o fim do ano e os dados confirmam, mais uma
vez, o grotesco erro do ministro Mantega. O Produto Interno Bruto (PIB) do
país, que, segundo ele, deveria ter um crescimento de 4,5%, agora está sendo
estimado em 1% ou menos. Os cálculos baseiam-se no desastroso terceiro
trimestre do ano, que mostrou um crescimento de apenas 0,6%, em comparação com
o trimestre anterior. No acumulado de janeiro a setembro, a taxa de crescimento
foi de 0,7%, em comparação com o ano anterior. Diante dos dados de outubro e
novembro, as perspectivas para 2012 são péssimas.
E o pior não é isto. Do setor industrial, quem anda
salvando a paróquia são os setores extrativos (que exportam as commodities), e
o de automóveis, beneficiado pelos grandes estímulos concedidos pelo governo.
Quando analisamos os investimentos e a indústria de
máquinas (bens de capital), o quadro é desolador. Em outubro, a indústria de
bens de capital teve a terceira queda consecutiva. Preocupada com a situação, a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) preparou um documento “101 Propostas
para Modernização Trabalhista”, entregue ao governo, onde se constata que a indústria
de transformação, que, em 1985, respondia por 35,8% do PIB, em 2011, contribuiu
com apenas 14,6%. A participação nas exportações, que era de 64,5%, foi
reduzida para 36%, em 2011. Por outro lado, a situação dos investimentos
continua preocupante, pois, em seis trimestres seguidos, eles vêm caindo.
O debate continua se aquecendo na busca pelos culpados.
Todos concordam que a situação internacional está na base de tudo. De fato,
como temos demonstrado, a economia mundial se arrasta sem alternativa. O
epicentro continua a ser a Europa, onde ninguém encontra uma saída e os
prognósticos para uma possível recuperação foram empurrados para 2014. Para a
zona do euro, espera-se uma contração de 0,5%, neste ano, e de 0,3%, em 2013, apesar
da taxa básica de juros estar no nível mais baixo da história (0,75%).
Os problemas não se limitam ao mundo desenvolvido. A
inquietação social estende-se à Ásia. Em Bangladesh, um incêndio em uma
indústria têxtil matou 112 operários, impedidos de fugir, pelos patrões, que
fecharam as portas temendo roubo de produtos. O escândalo alertou o mundo para
as condições desumanas de trabalho existentes nas empresas que operam sob
encomendas de grandes multinacionais como a Wal-Mart, Sears Holdings Corp. e
C&A. Como consequência do incêndio, os confrontos com a polícia envolveram
10.000 pessoas e obrigaram ao fechamento de 50 empresas. Na Tailândia, os
protestos levaram ao aumento do salário mínimo em sete províncias. A Malásia
está sendo obrigada a implementar o seu sistema de salário mínimo em janeiro do
próximo ano e em Singapura, que teve a sua primeira greve em 26 anos, os
aumentos salariais já inviabilizaram a produção de várias empresas. Na
Indonésia, as pressões por aumento salariais provocam o temor da fuga dos
investimentos que haviam sido atraídos pelas vantagens da mão de obra barata. Na
China, a inquietação social está levando o governo a adotar medidas para
melhorar a distribuição de renda interna nas cidades e mesmo no campo com a
proibição do confisco de terras pelas autoridades locais, sem indenização aos
agricultores.
No Brasil, o nervosismo aumenta no mercado. A queda dos
juros faz cair os lucros dos bancos e o preço das ações. Reduz também a remessa
de capitais para as filiais das multinacionais no país, sob a forma de
empréstimos, manobra usada para fugir do IOF cobrado sobre operações
financeiras de curto prazo.
Os temores do governo aumentam e novas medidas de
estímulo são adotadas. A desoneração das folhas de pagamento é estendida para a
construção civil, a TJLP é reduzida de 5,5% para 5,0% e o Programa de
Sustentação do Investimento (PSI) foi prorrogado até 2013. A gravidade da
situação faz surgir novos comentários sobre possíveis cortes da Selic até o
nível de 6,5%.
O governo está fazendo o impossível para provocar o
“instinto animal” dos capitalistas a fim de retomar o crescimento. Conseguirá?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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