Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2012
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, em época de crise, é impossível trazer boas
notícias. Como já sabemos, o continente europeu agoniza frente a uma velha
dificuldade apresentada pelo capitalismo. As notícias por lá vão de mal a pior,
ou seja, o circo continua pegando fogo. Constatado isto, concentrarei esta
análise na conjuntura econômica interna.
Para entendermos a dimensão da crise, basta acompanharmos
o desempenho dos mais diversos setores industriais e a divulgação das
estatísticas econômicas nacionais. As montadoras estão comemorando o aumento
das vendas, impulsionado pela redução do IPI. Segundo a Fiat, a General Motors
e a Ford, as vendas mais que dobraram, se comparadas a um fim de semana normal.
A Volkswagen registrou aumento de 30%. Mas, com a queda que tem ocorrido no
consumo, e consequentemente, o aumento dos estoques, as montadoras estão
diminuindo a remessa de lucros para suas matrizes no exterior. Até abril as
remessas caíram em 70%, comparados ao primeiro quadrimestre do ano passado.
Há mais de 50 anos, no Brasil, a Mercedes-Benz, pela
primeira vez, anunciou que vai interromper os contratos trabalhistas de 1.500
trabalhadores, na unidade de São Bernardo do Campo. A Randon, empresa produtora
de autopeças, deu férias coletivas a 1.300 funcionários, que serão acompanhadas
de algumas paradas gerais em datas já definidas. As montadoras de motocicletas
do país, diante da queda de 11% nas vendas, no acumulado do ano, já demitiram
1.064 trabalhadores e também programaram férias coletivas, no mês de junho.
A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos
Eletroeletrônicos (Eletros), pediu novamente ao governo que as salve,
reivindicando que o IPI seja fixado em 4%, para todos os produtos da linha
branca, já que, para alguns, a taxa, sem qualquer isenção, atinge 20%. Segundo
alguns produtores do setor, houve desaceleração das vendas. No ano passado, o
crescimento atingiu dois dígitos, e, neste ano, estão crescendo a um dígito.
Não é à toa que os mais poderosos empresários brasileiros
estão avaliando estas questões. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,2%, no
primeiro trimestre de 2012, em relação ao quarto trimestre de 2011, segundo o
IBGE. Comparado ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB brasileiro
apresentou alta de 0,8%. Houve expansão de 1,7% do setor industrial e queda da
agropecuária de 7,3%. Mas, segundo o governo, o PIB brasileiro, neste período,
ainda é um dos melhores do mundo, ou seja, estamos mal, mas os outros estão piores.
O IEDI divulgou uma queda na atividade industrial, de
2,9%, no primeiro trimestre de 2012, em relação a 2011. Em maio, o estoque
industrial subiu em 6 dos 14 setores pesquisados, segundo a FGV. Já a Fiesp
prevê uma queda de 2% na atividade industrial de São Paulo e queda de 1% na
indústria do país.
As projeções continuam ladeira abaixo. O Boletim Focus do
Banco Central já projeta uma taxa de 2,99% para o PIB, este ano. A projeção
inicial era de 4,5%. Alguns já estimam em 2,3%.
A equipe econômica, afirma estar 300% preparada para
enfrentar a crise, mas, há um grande temor que a situação da Espanha contagie o
Brasil, pois ela é o terceiro maior investidor no país. Por isto, o governo tem
monitorado, diariamente, os dados econômicos europeus e acompanhado de perto as
notícias da Europa.
No início da atual crise, o então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, minimizou os seus efeitos, em nossa economia, dizendo que, se no
exterior ela era um tsunami; aqui seria uma marolinha, que não daria nem para
esquiar. Resultado: a força da crise se revelou em 2009 com o PIB crescendo
apenas 0,3%. Com a forte intervenção que aconteceu, tanto interna quando
externamente, parecia estarmos livres do incomodo, em 2010. Crescemos 7,5%. Mas
o pífio crescimento de 2,7%, em 2011, mostrou que o fenômeno está mais vivo que
nunca e, apesar dos esforços do governo, o cenário este ano tende a se repetir.
Mesmo assim não faltam fórmulas mágicas para acabar com a
crise. Paul Krugman, em seu novo livro intitulado “Acabem com esta depressão,
agora!” determina sua extinção. Mas, a História Econômica tem mostrado que não
é tão simples assim. Certamente não escaparemos dela, assim como não escapamos
em 2009. Enganam-se os economistas que acham que domam a Economia.
Pior que está, vai ficar!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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