Semana de 21 a 27 de janeiro de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Esta semana, as discussões sobre as decisões de política
monetária voltaram à tona. Enquanto no Brasil a reflexão ainda gira em torno da
ata do Copom, no Japão outro problema preocupa: a deflação. O fenômeno que persegue
o Japão há 20 anos é a permanência de uma taxa de inflação anual baixa e que atualmente
gira em torno de 1%.
Mas o que causa a deflação japonesa? Há algumas
especulações. A primeira é a de que existe uma espiral deflacionária, ou seja,
os japoneses sabem que os preços irão manter-se baixos e adiam suas compras.
Com isto, as empresas vendem menos, o que provoca queda salarial, que por sua
vez reduz a demanda. A segunda seria o envelhecimento da população com idade
para trabalhar. Mas, o ministro das Finanças japonês logo lançou a solução para
o problema: “os idosos deveriam se apressar e morrer”. Resolveria a deflação e
principalmente os elevados gastos públicos com os serviços de saúde. A terceira
diz respeito ao atraso do Banco do Japão na adoção de afrouxamentos monetários.
Em meio a uma recessão, o governo e o Banco do Japão
resolveram, pela primeira vez, em mais de nove anos, adotar a política de
afrouxamento monetário, visando estimular a atividade econômica. Depois de duas
reuniões consecutivas, o Banco do Japão elevou o programa de compra de ativos
em 10 trilhões de ienes. Aliada a estas compras, o governo japonês pretende
aderir ao sistema de metas inflacionárias, para alcançar o patamar de 2% ao
ano. (Muito criativos esses japoneses!)
Enquanto isso, no Brasil, cresce as perspectivas de
aumento da inflação. O país, que fechou 2012 com uma inflação de 5,8%,
apresentou, além de inflação mais alta, um PIB menor se comparado, por exemplo,
às economias do Chile, Colômbia, México e Peru, países latino-americanos que também
usam o regime de metas inflacionárias.
No início de 2013, mesmo com a negociação do governo para
o adiamento do reajuste das tarifas do transporte urbano em São Paulo e no Rio
de Janeiro, o IPCA-15 (prévia para o resultado do mês) será o maior resultado
do mês de janeiro, desde 2003. Outra luta travada pela presidente Dilma, para
reduzir a inflação, é garantir a redução da conta de energia elétrica. Em rede
nacional, ela anunciou que a redução será maior do que a prometida e a
diferença será financiada pelo Tesouro Nacional.
Mesmo assim, contrariando a maioria dos analistas, o
Copom decidiu manter a taxa de juros em 7,25% ao ano. O texto da ata do Copom
deve ter deixado de cabelo em pé os adeptos do regime de metas. Após a
manipulação feita pelo governo para garantir a meta de superávit primário, em
2012, agora é a vez do Copom admitir inflação acima da meta tanto em 2013, quanto
em 2014.
Outro aspecto da ata chama a atenção. No texto, o Copom
afirmou que a política de juros não deve ser usada no intuito de estimular o
PIB. Nada se pode fazer para atenuar o problema, pois a limitação atual é do
lado da oferta. As ações da política monetária (diga-se a manipulação da taxa
de juros), segundo o Copom, é instrumento de controle apenas da demanda.
Obviamente, a responsabilidade pelo fracasso da política
monetária cai sobre a presidente Dilma, que, além de ser incapaz de despertar a
voracidade dos empresários para investir, tem que enfrentar as pressões
políticas. A presidente marca terreno e diz que seu mandato é de oito anos.
Mas, o ex-presidente Lula, nos bastidores, manipula a sua candidatura em 2014, descontente
com a forma como Dilma conduziu as renovações das concessões das elétricas e
com a indiferença demonstrada por ela durante o julgamento do mensalão. Há
rumores de que a relação entre os dois não demorará a “azedar”.
Deixando de lado as questões políticas, o que continua nos
causando espanto é que ninguém cogita que a crise é a grande responsável pelo
atual nível da atividade econômica interna.
As tentativas do governo
são válidas, mas as políticas monetária e fiscal não serão suficientes para
deflagrar os investimentos. A taxa de investimento só crescerá quando os empresários
perceberem a reversão desta fase do ciclo econômico.
Como já dissemos, economista não engana capitalista.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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