Semana de 13 a 19 de maio de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Continua a economia mundial a navegar nos mares revoltos
da crise econômica. Os 17 países da zona do euro já afundaram no que eles
mesmos definiram como “recessão”, quando o PIB decresce por 2 trimestres
consecutivos. No primeiro trimestre deste ano, a economia decresceu 0,2%,
resultando em uma taxa anualizada de -1% de queda. Esta é a mais longa recessão
da história do bloco. A França, com o seu governo “socialista” que se
desmoraliza a passos largos, está novamente em recessão com uma queda do PIB de
0,2%. A Itália e a Espanha caíram 0,5% e Portugal 0,3%. As economias da Bélgica
e da Áustria continuaram estagnadas e as da Holanda e Finlândia continuaram
também a cair. O Banco Central Europeu baixou os juros ao menor nível histórico
mas, apesar deste catastrófico quadro, a Alemanha, que por pouco escapou da
classificação de “recessão”, ao ter um crescimento de 0,1%, sob o comando da
enferrujada Ângela Merkel, continua batendo na tecla da austeridade. Os
protestos contra a tal austeridade espalham-se por toda parte e recebem apoio
até do FMI, cuja diretora Christine Lagarde reconheceu que houve um “erro de
apreciação sobre o impacto da austeridade”.
Das regiões d’além mar, a leste e a oeste, as notícias
que chegam também não são animadoras. A economia dos EUA mantém-se patinando
sobre indicadores contraditórios sem sinais de recuperação. A desaceleração da
China continua a ser prevista por todos os analistas e da América Latina não
sopram bons ventos.
Em resumo, a barra está pesada e a crise continua a se
arrastar sem que se vislumbre alguma saída no horizonte, pelo menos até finais
de 2014. Cresce a unanimidade de que, com austeridade, não será possível
superar a recessão.
Esta situação reflete-se no comércio mundial que vem
desacelerando nos últimos trimestres. As exportações de todos os países
desaceleram obrigando as empresas a buscarem saída nos mercados domésticos esmagados
pelas medidas de austeridade. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já baixou
suas previsões de crescimento das exportações, de 4,5%, para 3,5%, este ano,
inferior à média anual dos últimos anos, que é de 5.2%. A expansão das
exportações dos emergentes caiu de 6%, em janeiro, para 4,8% em fevereiro e, na
América Latina, houve uma contração de 2,9%, em fevereiro, e 4,4%, em março.
Mas, onde entra o samba em nossa história?
Não é de samba de carnaval que estamos falando. É de um
belo e sofisticado programa de computador, criado pelo competente “time de
primeira linha”, que forma o Departamento de Pesquisa Econômica (Depep), do
Banco Central (BC). Segundo se comenta, este programa é um “modelo de projeção
econômica de última geração”, que é utilizado para fazer previsões sobre a
evolução da economia e, particularmente, da inflação. O termo Samba é uma sigla
formada pelas iniciais das palavras que formam o nome dado ao programa.
É assim, que, sambando, o BC
encontra justificativas científicas para aumentar os juros, o que já se planeja
para a próxima reunião do Copom. O pretexto é sempre o mesmo: a ameaça do
crescimento da inflação. Pouco interessa a desaceleração da economia, a
desindustrialização em marcha, a invasão dos produtos importados, favorecidos
pelo câmbio e pelas condições desumanas de exploração de trabalhadores dos
países asiáticos (veja-se a recente tragédia de Bangladesh), etc. A
Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou a informação de que a
participação dos produtos importados no consumo nacional, de 2012 para 2013,
passou de 21,6% para 22%, atingindo seu mais alto valor, desde 1996. Mas, o que
as pessoas esquecem é que o mais sofisticado Samba é composto por doutores
economistas formados em universidades dos EUA e que aprenderam seus doutos
conhecimentos na mesma cartilha fortemente ideologizada e criada para servir ao
sistema dominante. A teoria que a inspira é a mesma teoria que afirma que o
desemprego involuntário não existe, e que os milhões de trabalhadores que estão
desempregados encontram-se nesta situação por que, entre o trabalho e o lazer,
optaram por este último.
São uns curtidores do ócio!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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