quinta-feira, 23 de maio de 2013

Recessão e austeridade dão samba?


Semana de 13 a 19 de maio de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Continua a economia mundial a navegar nos mares revoltos da crise econômica. Os 17 países da zona do euro já afundaram no que eles mesmos definiram como “recessão”, quando o PIB decresce por 2 trimestres consecutivos. No primeiro trimestre deste ano, a economia decresceu 0,2%, resultando em uma taxa anualizada de -1% de queda. Esta é a mais longa recessão da história do bloco. A França, com o seu governo “socialista” que se desmoraliza a passos largos, está novamente em recessão com uma queda do PIB de 0,2%. A Itália e a Espanha caíram 0,5% e Portugal 0,3%. As economias da Bélgica e da Áustria continuaram estagnadas e as da Holanda e Finlândia continuaram também a cair. O Banco Central Europeu baixou os juros ao menor nível histórico mas, apesar deste catastrófico quadro, a Alemanha, que por pouco escapou da classificação de “recessão”, ao ter um crescimento de 0,1%, sob o comando da enferrujada Ângela Merkel, continua batendo na tecla da austeridade. Os protestos contra a tal austeridade espalham-se por toda parte e recebem apoio até do FMI, cuja diretora Christine Lagarde reconheceu que houve um “erro de apreciação sobre o impacto da austeridade”.
            Das regiões d’além mar, a leste e a oeste, as notícias que chegam também não são animadoras. A economia dos EUA mantém-se patinando sobre indicadores contraditórios sem sinais de recuperação. A desaceleração da China continua a ser prevista por todos os analistas e da América Latina não sopram bons ventos.
            Em resumo, a barra está pesada e a crise continua a se arrastar sem que se vislumbre alguma saída no horizonte, pelo menos até finais de 2014. Cresce a unanimidade de que, com austeridade, não será possível superar a recessão.
            Esta situação reflete-se no comércio mundial que vem desacelerando nos últimos trimestres. As exportações de todos os países desaceleram obrigando as empresas a buscarem saída nos mercados domésticos esmagados pelas medidas de austeridade. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já baixou suas previsões de crescimento das exportações, de 4,5%, para 3,5%, este ano, inferior à média anual dos últimos anos, que é de 5.2%. A expansão das exportações dos emergentes caiu de 6%, em janeiro, para 4,8% em fevereiro e, na América Latina, houve uma contração de 2,9%, em fevereiro, e 4,4%, em março.
            Mas, onde entra o samba em nossa história?
            Não é de samba de carnaval que estamos falando. É de um belo e sofisticado programa de computador, criado pelo competente “time de primeira linha”, que forma o Departamento de Pesquisa Econômica (Depep), do Banco Central (BC). Segundo se comenta, este programa é um “modelo de projeção econômica de última geração”, que é utilizado para fazer previsões sobre a evolução da economia e, particularmente, da inflação. O termo Samba é uma sigla formada pelas iniciais das palavras que formam o nome dado ao programa.
            É assim, que, sambando, o BC encontra justificativas científicas para aumentar os juros, o que já se planeja para a próxima reunião do Copom. O pretexto é sempre o mesmo: a ameaça do crescimento da inflação. Pouco interessa a desaceleração da economia, a desindustrialização em marcha, a invasão dos produtos importados, favorecidos pelo câmbio e pelas condições desumanas de exploração de trabalhadores dos países asiáticos (veja-se a recente tragédia de Bangladesh), etc. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou a informação de que a participação dos produtos importados no consumo nacional, de 2012 para 2013, passou de 21,6% para 22%, atingindo seu mais alto valor, desde 1996. Mas, o que as pessoas esquecem é que o mais sofisticado Samba é composto por doutores economistas formados em universidades dos EUA e que aprenderam seus doutos conhecimentos na mesma cartilha fortemente ideologizada e criada para servir ao sistema dominante. A teoria que a inspira é a mesma teoria que afirma que o desemprego involuntário não existe, e que os milhões de trabalhadores que estão desempregados encontram-se nesta situação por que, entre o trabalho e o lazer, optaram por este último.
            São uns curtidores do ócio!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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