Semana de 02 a 08 de setembro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Reuniu-se o Comitê de
Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) e, como todos esperavam, elevou
a taxa de juros de referência (Selic), que agora passou a 9% ao ano. A
justificativa foi a mesma: a ameaça da inflação que continua “resiliente”.
O BC pensa que, assumindo
uma posição mais dura, voltará a adquirir a “confiança” dos agentes econômicos,
pois, a teimosia da inflação se deve a uma questão subjetiva, às expectativas
decorrentes da falta de confiança.
Em abril, o BC elevou em
0,25% a taxa, mas a credibilidade não aumentou: a inflação continuou. O BC
passou a aprovar aumentos de 0,5% por reunião e, ao que parece, de nada tem
adiantado, pois, agora, as expectativas da inflação passaram de 5,56% para
6,12%, segundo o Boletim Focus do próprio BC.
Mas não é só o BC que
está desacreditado. A política fiscal do governo também. Ninguém acredita que
será mantido o percentual de 2,3% do PIB para o superávit primário, sacrifício
considerado necessário para pacificar o mercado. Apesar de tudo, este bajulado
mercado anda furioso com o Copom, agora por conta dos termos brandos (dovish)
com que alguns problemas foram tratados na ata divulgada. Por exemplo, a
afirmação de que “a política fiscal caminha para a neutralidade”. Mesmo com o
juramento do BC de continuar subindo a Selic ao ritmo de 0,5% o mercado anda
trombudo.
E não fica por aí. A
política cambial também não merece crédito. Ninguém sabe quanto estará o dólar
no dia de amanhã. Segundo os analistas toda esta tragédia é fruto de um
“desastroso gerenciamento das expectativas”. Tudo se resume a uma questão de
expectativas, de credibilidade.
Vejam os leitores, o
tamanho do subjetivismo dos comentaristas e analistas econômicos. Todos os
problemas que abalam a humanidade são resultado do sentimento otimista ou
pessimista das pessoas. A realidade objetiva não existe. Tudo se move graças
aos sentimentos, aspirações, sensações.
Podemos colocar boa parte
da culpa por este estado de coisas nos economistas com suas teorias subjetivas
carregadas de ideologia, que os levam a crer que economista engana capitalista.
Esquecem a sábia lição de Keynes sobre o “instinto selvagem” que orienta as decisões
dos empresários, ou a de Marx quando considera que os capitalistas são
personificadores do capital e que agem inconscientemente sob seu comando.
A realidade é bem outra.
É ela que cria as perspectivas. É o movimento objetivo das forças econômicas que
provocam o surgimento das ideias na cabeça dos homens.
As dificuldades que
abalam a economia e o governo Dilma baseiam-se em fatores objetivos.
Em primeiro lugar o
início da recuperação da economia mundial, particularmente dos EUA está criando
uma reordenamento dos fluxos de capitais rumo aos países desenvolvidos. A hora do
dinheiro fácil para os emergentes passou e quem apostou na especulação
financeira está quebrando a cara.
Em segundo lugar o
descontrole sobre a inflação que, ao contrário do que a ideologia econômica
dominante pensa, nada tem a ver com a lei da oferta e da procura, ou melhor,
com o excesso de demanda. Este diagnóstico furado leva ao uso do remédio do
juro objetivando reprimir a demanda. Não se lembram que, com juros altos,
ninguém pede empréstimos para consumir ou investir. Deste modo, sem
investimentos reduz-se a oferta piorando a situação de desequilíbrio. E
enquanto servem ao capital financeiro enchendo o bolso dos banqueiros esquecem
três grandes forças geradoras do fenômeno. Em primeiro lugar os preços externos
das commodities que, como a abertura da economia afetam a maior parte da
produção nacional. Em segundo lugar a existência dos monopólios dentro do país
que manipulam os preços reajustando suas margens de lucro sempre que o desejam.
E em terceiro lugar os preços administrados através dos quais o governo garante
boa remuneração às empresas concessionárias sem preocupação de novos
investimentos. Os juros não afetam nenhuma dessas fontes apenas esmagam a
produção nacional e privilegiam a especulação financeira, o que ocorre neste
momento. Com efeito, a produção industrial caiu 2% em
julho, em relação a junho e há dados sobre a desaceleração no terceiro
trimestre em relação ao segundo. A confiança da indústria já chegou ao pior
nível desde 2009.
Corremos o risco de
caminhar para o pior dos mundos: inflação com estagnação, ou seja, ela estaria
de volta, a estagflação.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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