Semana de 09 a 15 de setembro de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
São mais de cinco anos de dificuldades e a retomada da
economia mundial se arrasta. Poucos são os países que conseguem crescer a taxas
maiores que 2%. Os períodos de crescimento se limitaram aos primeiros anos
pós-crise e o desemprego, principalmente na Europa, atinge níveis recordes.
Cresce a suspeita de que há algo errado com os agentes
econômicos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Finanças
(IIF), que agrupa os maiores bancos do mundo, mostrou que companhias não
financeiras de alguns países ricos (sediadas nos Estados Unidos, Zona do Euro e
Japão), continuam precavidas quanto à realização de novos investimentos. O acúmulo
de dinheiro em caixa somou US$ 5,1 trilhões no primeiro trimestre, número que representa
uma alta de quase 40% comparados aos US$ 3,7 trilhões guardados em 2007,
primeiro ano da crise.
Segundo o secretário-geral
da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), há
aproximadamente, US$ 6 trilhões de recursos entesourados como caixa em todo o
mundo. Não há incentivo ou conversa bonita que alavanque os investimentos. Mesmo
o excesso de liquidez global, promovido pelas políticas monetárias
expansionistas e as baixíssimas taxas de juros tiveram quaisquer efeitos.
A utilização da capacidade instalada permanece baixa. Uma
pesquisa da Standard & Poor’s, apurou que as despesas de capital continuam
estagnadas. Quando será que as empresas vão gastar o seu caixa? Os novos
investimentos tardam a vir. Alguns acreditam que, reforçando a confiança dos
empresários, o impulso será garantido. Mas, só o mercado financeiro tem motivos
para comemorar. Até mesmo o ritmo global de fusões e aquisições (indicador
importante da fase de recuperação econômica), fechou o primeiro semestre em US$
979 bilhões, 30% a menos do que no mesmo período de 2012.
Os emergentes agora parecem acompanhar o ritmo mundial. O
Brasil apresentou, em julho, estabilidade da utilização da capacidade instalada,
que caiu 0,1 ponto percentual, comparado a junho (de 82,3% para 82,2%). Outro
indicador reforça a morosidade dos investimentos industriais. Empresas de
manutenção de máquinas e equipamentos estão animadas com demanda alta e
crescendo acima de dois dígitos ao ano. A procura maior por manutenção confirma
o baixo ritmo de crescimento do país, mostrando que as grandes indústrias não
têm perspectivas de realizar novos investimentos. Não comprando novas máquinas,
os reparos tornam-se necessários para prolongar a vida útil dos equipamentos,
elevar a produtividade e cortar custos.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV), confirmou que os
investimentos da indústria da transformação, entre os meses de julho e agosto,
desaceleraram. E mais: o cenário permanecerá assim no segundo semestre do ano. Segundo
sondagem realizada com 819 empresas, entre os meses de julho e agosto, 17%
informaram que não pretendiam investir. No levantamento anterior, entre abril e
maio, este número foi de 15%. Já 34% das empresas declararam que pretendem
aumentar seus investimentos, número que ficou abaixo dos 51% verificados nos
meses anteriores.
Veja caro leitor, que não se trata aqui de uma questão de
otimismo ou pessimismo. Estas são os dados da realidade. Contrariando esta
tendência, o economista Yoshiaki Nakano anunciou: “Novo ciclo de expansão está
aí!”. O autor acredita que embora tendo perdido o seu dinamismo, a economia
brasileira tem sim, perspectivas de rumar ao “crescimento sustentado”, e ainda
mais, pelos próximos 10 anos. Segundo ele, o programa de concessões das
rodovias, ferrovias e aeroportos, permitiria gerar efeitos multiplicadores que
aumentariam a produtividade e permitiriam um novo ciclo de expansão, se tudo
correr conforme o planejado, a partir de 2015.
Não se pode ignorar a crise e seus efeitos. O primeiro
sinal já foi dado. Nenhum concorrente se apresentou para o leilão de concessão
da BR-262. Os próximos estão correndo o risco de terminar do mesmo jeito. O governo
disse que vai agir.
De acordo com a dinâmica capitalista, podemos garantir
que uma nova expansão virá. Mas, com as condições observadas, ainda não podemos
prever quando.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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