Semana de 16 a 22 de setembro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na quarta-feira da semana
passada, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, fez uma reunião para
decidir sobre a sua política de afrouxamento monetário. Todos sabem que estes
estímulos (QE – quantitive easing) consistem principalmente na compra de US$ 85
bilhões mensais de ativos, entre títulos do tesouro e obrigações hipotecárias.
As especulações sobre o fim do QE estavam deixando o “mercado” enlouquecido e
vinham provocando a migração dos capitais especulativos de volta para os EUA, a
valorização do dólar a oscilação das bolsas e o pânico dos emergentes, ao
sentir a fuga iminente dos “investidores”.
A decisão do Fed explodiu
como uma bomba provocando agora a corrida em sentido contrário. Tudo volta a
ficar como era, o dito fica como não dito e o derrame dos US$ 85 bilhões
continuará por tempo indeterminado. Claro que o dólar volta a desvalorizar-se,
os capitais voltam aos emergentes, as bolsas sobem e os países e empresas da
periferia apressam-se para ver quem primeiro lança títulos e papeis diversos,
para aproveitar a brecha de oportunidades. No Brasil, o BNDES foi o primeiro
com o lançamento de títulos no valor de US$ 2,5 bilhões, mas há outros na lista,
entre os quais estão Petrobrás, Banco do Brasil, Companhia Siderúrgica Nacional,
Klabin, Caixa Econômica Federal (US$ 2,5 bilhões), etc. Corremos
desesperadamente atrás da Colômbia, que já captou US$ 1,6 bilhão. Aposta-se em
quem vai “puxar o gatilho” mais rapidamente. Já se estima que, até o final do
ano, empresas brasileiras tentarão captar US$ 18 bilhões.
Os argumentos do Fed,
para sua decisão, tiveram por base o temor de que a débil recuperação da
economia americana fosse abortada. A austeridade fiscal (agora condenada até
pelo FMI) manifesta-se no crescente corte de despesas e elevação de impostos, que
vem ocorrendo no país, resultado da briga entre republicanos e democratas no
Congresso. O Birô do Orçamento do Congresso fala em “cortes de despesas
adicionais” da ordem de US$ 2 trilhões, ao longo dos próximos 10 anos, para
estabilizar a dívida. Os dados pouco animadores da economia fizeram o Fed
reduzir suas estimativas de crescimento do PIB, desse ano, para valores entre
2% e 2,3%.
Mas, por que a decisão provocou
tanta surpresa? O problema foi causado pelos pronunciamentos e insinuações, por
parte de dirigentes do Fed, de que os estímulos monetários iriam sofrer uma
redução progressiva. A maioria esmagadora dos agentes especuladores passaram a
jogar com esta hipótese e foram surpreendidos. Daí a irritação geral do
“mercado” e a pressão que está sendo exercida sobre Ben Bernanke, presidente do
BC americano, que foi obrigado a retrucar com irritação: “Não podemos deixar
que a expectativa do mercado determine nossas ações políticas”.
Com a decisão, a euforia
espalhou-se pelos países emergentes. Os preços das commodities e as bolsas
subiram. O Tombini, presidente do BC brasileiro, vê um cenário favorável no
quadro internacional. Fala-se na ajuda ao governo Dilma diante da possível
desvalorização do dólar e alívio da inflação, o que poderia permitir a subida dos
preços dos combustíveis.
O maior problema, porém
vem da economia. Os dados continuam a ser contraditórios. A FGV anuncia que o
terceiro trimestre foi fraco, mas há esperança de que o quarto melhore. Em
setembro, tem sido observado o aumento dos estoques o que faz a confiança dos
empresários cair. Poucas são as esperanças de que o grande mercado chinês volte
a demandar commodities em grande escala. A China tem estado envolvida com
modificações internas e, em particular, com uma reestruturação da propriedade
rural que ameaça expulsar milhões de camponeses de suas terras e provocar
violentos conflitos sociais. Da União Europeia também não são esperados grandes
estímulos uma vez que, por lá, a crise continua a arrastar-se.
Para massagear o ego
nacional nos restou apenas o cancelamento da visita da presidente Dilma aos
EUA, como resposta ao ultraje da espionagem feita por eles e o discurso
proferido, por ela, na Assembleia Geral da ONU, no mesmo sentido.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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