Semana de 07 a 13 de outubro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto o planeta
continua em pânico, com as indecisões nos EUA, a economia brasileira evolui
lentamente e repleta de instabilidades. A decolagem ainda não começou o que
pode ser observado pelos dados divulgados. Apesar dos benefícios das
desonerações tributárias, os setores como têxtil, calçados, confecções, etc.,
continuaram a liderar as demissões de trabalhadores que ocorrem desde o início
do ano. Segundo pesquisa do IBGE, 17 segmentos da indústria de transformação
reduziram 0,8% a ocupação, entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período
do ano passado. E as perspectivas para o fim do ano não são boas. Ainda segundo
o IBGE, entre julho e agosto o emprego reduziu-se 0,6% sendo a quarta queda no
ano.
As pesquisas da CNI
trazem números diferentes e, para o mesmo período, apresentam um crescimento do
emprego de 0,8%. As discordâncias se estendem a outros indicadores como a
produção, faturamento, horas trabalhadas, etc. Os dados da CNI, de modo geral,
são mais otimistas que os do IBGE. Por outro lado, pesquisas feitas pelo Valor
Econômico mostram a tendência para a queda no setor de bens de capital que
vinha demonstrando dinamismo desde o início do ano. Segundo esta fonte, o
consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu entre 2% e 4%, no terceiro
trimestre, em relação ao segundo. Estes dados nos mostram que a recuperação da
economia do país causa preocupações. E, para tornar mais difícil a situação,
dados da FGV mostram que, apesar dos ritmos lentos da indústria, os estoques
estão se acumulando em 14 gêneros industriais, no período de julho a setembro.
A situação mais grave é nos setores de transporte e mecânica.
É exatamente neste
ambiente de dúvidas e instabilidade que, mais uma vez, o Copom, órgão do BC,
resolve aumentar novamente a taxa de juros básica, a Selic, em 0,5%, o que a
elevou a 9,5%. É bom lembrar que o nível das taxas de juros dos países
avançados continuam baixos: EUA – 0,25%, BCE – 0,75%, Japão – 0,1%, Inglaterra
– 0,5%, etc. O pior é que o ambiente internacional se apresenta ainda mais
hostil e com a espada americana no pescoço. O mundo espera petrificado o
resultado da arenga entre Democratas e Republicanos no congresso dos EUA em
torno das duas pendências: aprovação do orçamento (que está paralisando o
governo) e do aumento do teto do endividamento que está provocando o medo do
calote geral.
Mas, mesmo que os impasses sejam resolvidos, ainda
resta a dúvida sobre a política monetária que o Fed (Federal Reserve), BC
americano, vai adotar com a sua nova presidente recém nomeada pelo Obama, Janet
Yellen. Como se sabe, a política do Fed de afrouxamento monetário (Quantitative
Easing – QE), já está na sua terceira etapa o que significa a compra de US$ 85
bilhões de títulos do tesouro e papeis lastreados em hipotecas, por mês. É este
derrame que tem carreado para os países emergentes o tsunami de dólares que tem
provocado grandes desequilíbrios e especulações. O que os comentarista não
dizem é que, na verdade, estes recursos enchem os cofres dos bancos que têm a
oportunidade de se livrarem dos títulos podres que falseiam seus balanços.
Estima-se que o volume destes títulos rondava os US$ 14 trilhões e as compras
já feitas já levaram para os cofres do Fed US$ 3,6 trilhões. Mas o problema não
é apenas dos EUA. Este tipo de papeis, nos bancos da Europa, atingem o montante
de € 33 trilhões o que representa 3,5 vezes o PIB da zona do euro e que terão
de ser descartados. Isto mostra ainda a grande fragilidade dos sistemas
bancários dos países mais avançados.
É neste ambiente de
incertezas que, enquanto os outros BCs do mundo protegem os seus sistemas
econômicos com juros baixos, políticas fiscais flexíveis e afrouxamentos
monetários, o bravo BC do Brasil, aumenta as taxas de juros, clama por ajustes
fiscais e equilíbrios orçamentários. E, como fiel lacaio dos especuladores
financeiros, deixa no ar a quase certeza de que continuará subindo os juros,
além da barreira dos dois dígitos.
Em sua cabeça
ideologicamente enferma, com juros mais altos consegue-se combater a inflação
pois, a inflação no Brasil é uma inflação de demanda e por isso a maneira de
comprimir a demanda é restringindo o crédito, o consumo e
os investimentos para aumentar o desemprego e reduzir os salários. Ou seja,
estamos todos comendo muito, consumindo em excesso.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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