Semana de 13 a 19 de janeiro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A situação da economia
mundial continua a evoluir a passos de tartaruga, empurrada lentamente pela
locomotiva dos EUA, que a todos irrita com sua lentidão.
Desta vez a palavra está
com Cristine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI),
que classificou como “frágil” a recuperação global, admitindo que “esta crise
ainda persiste”. Felizmente ela deu uma pequena injeção de ânimo afirmando que
“o otimismo está no ar”... “e o horizonte mais claro”.
Nesse discurso, feito no
National Press Club, em Washington, ela lamentou que o crescimento mundial
continue abaixo do “potencial” que se situa em torno de 4%.
Continuando, Lagarde
alertou para dois perigos: a inflação, que ela chamou de “gênio da garrafa”, e
nós, mas apropriadamente chamamos de dragão, e a deflação, considerada por ela
igualmente perigosa e apelidada de “ogro”. Deste modo o futuro da humanidade
está ameaçado por duas figuras míticas: o gênio da garrafa (dragão) e o ogro
(Shrek). Parece que os dois inimigos agem de forma combinada. Enquanto o Shrek
ataca os países mais avançados, o dragão encarrega-se dos mais atrasados, entre
os quais, os emergentes. Lamentavelmente ele tem uma predileção especial pelo
Brasil e está se tornando uma terrível dor de cabeça para o governo petista.
Dirigindo-se aos países
mais desenvolvidos Lagarde alertou os Bancos Centrais para não retirarem os
estímulos monetários, a exemplo do Q.E. (Quantitative Easing) do Federal
Reserve (Fed), banco central americano, até “um crescimento robusto estar
firmemente enraizado”. Colocando o carro a frente dos bois, ou invertendo a
relação causa-feito, ela copia o erro grosseiro da ideologia econômica
dominante de achar que é a deflação que causa a crise e não o contrário.
Sendo mais realista que o
rei, o Japão tem se mostrado muito criativo sob o comando do ministro Shinzo
Abe e a aplicação da sua chamada “abenomics”. O afrouxamento monetário
praticado por ele não é apenas um Q.E., mas um Q.Q.E. (Quantitative and
Qualitative Easing). O temor é que a “abenomic” conduza o país a um “abegedon”,
ou seja, um Armagedon em que as metas, de elevar a inflação para 2% e fazer
crescer o PIB em 1,5%, não sejam atingidas e, além disso, a economia saia de
qualquer controle e o caos se instale no país.
No caso do Brasil, a
batalha continua contra o dragão da inflação. Parece que o Shrek não se sente
bem abaixo da linha do equador. Segundo os dados, o ministro Mantega não
conseguiu cumprir o seu único compromisso publicamente expresso: ter uma taxa
de inflação inferior à do ano passado. Apesar de ficar abaixo do teto da meta
(6,5%), a taxa do ano de 2014 atingiu 5,91%, ficando acima dos 5,84% do ano
passado. Isto, apesar de todo o esforço do governo para conter a alta dos
preços administrados (combustíveis, transportes, energia, etc.) Há economistas
que afirmam que se esse esforço não fosse feito, a taxa teria ultrapassado os
7%.
Aterrorizado e
continuando com sua crise de autoafirmação o Banco Central brasileiro, na
reunião da quarta feira da semana passada, manteve a sua marcha irracional para
abortar todos os esforços de recuperação da economia feitos pelo governo: subiu
a taxa de referência Selic para 10,25%, com uma elevação de 0,5%. O Banco
Central continua teimosamente na contramão de todos os BCs do mundo e mesmo da
América Latina, sem que sua ação tenha produzido qualquer resultado na redução
da taxa de inflação.
O dragão anda à solta!
A ideologia econômica que
justifica esta decisão é sempre a mesma: a inflação é causada pelo excesso de demanda.
As pessoas estão consumindo muito e isto provoca a subida dos preços. Ora,
todos nós sabemos que o sonho de qualquer capitalista é ter demanda para sua
produção. Por que será que os empresários brasileiros, tendo à sua disposição
um mercado tão forte, não aumentam sua produção? Esta pergunta elementar nunca
é feita ou respondida pelas inteligências do BC. Qual a justificação para
tamanha estupidez? Quem sabe, o BC obedece às determinações do Capital
Financeiro.
Desconfiamos que, para
nossa infelicidade puseram a raposa para tomar conta do galinheiro!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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