Semana de 27 de janeiro a 02 de fevereiro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O mundo encontra-se
novamente de joelhos diante da economia americana. Desta vez o pânico foi
causado pelo anúncio feito pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano,
de que o “tapering” vai continuar. Já referimos nesta coluna que o “tapering” é
o início do processo de redução dos estímulos monetários (Quantítative easing –
QE) praticados pelo Fed, injetando US$ 85 bilhões na economia através da compra
de títulos do tesouro e papeis lastreados no mercado imobiliário. Estes US$ 85
bilhões já haviam sido reduzidos, em meados de dezembro, para US$ 75 bilhões e
agora o montante cairá para US$ 65 bilhões. O Fed anunciou que continuará com
esse processo nos próximos meses.
O resultado imediato foi
a queda no mercado de ações dos EUA e Europa. Daí, a turbulência alastrou-se
por todo o mundo. Os capitais especulativos intensificaram sua retirada dos países
em desenvolvimento provocando a desvalorização de suas moedas, o que vem
ocorrendo em países como México, Polônia, Hungria, Turquia, África do Sul, Brasil,
Índia, etc. A reação de desespero dos bancos centrais destes países está sendo
o aumento das taxas de juros, o que já ocorreu na Índia (aumento de 0,25% para
8%), Turquia (aumento de 7,75% para 12%) e África do Sul. O Brasil já se havia
antecipado com a elevação da Selic para 10,5%.
Apesar da turbulência,
cujas consequências ainda não se podem determinar, o Fed, mesmo mantendo as
taxas de juros próximas a zero, continua firme em sua política, demonstrando
confiança na recuperação da economia americana. Na Europa, o clima otimista
observado em Davos não conseguiu esconder que os indicadores da recuperação
ainda são tímidos. Há o temor do retorno da crise diante do desemprego elevado,
baixos salários, desigualdade crescente e perda de confiança. Espalha-se o
temor generalizado da deflação que pode se agravar se as medidas de estímulo
monetário forem retiradas.
A desaceleração da
economia chinesa, confirmada pela contração da indústria em janeiro, é agravada
pelos problemas do crédito e da instabilidade do sistema bancário. No Japão
continuam as dúvidas sobre os resultados do Abenomics (política implementada
pelo ministro Shinzo Abe). A situação econômica é agravada ainda pelos déficits
da balança comercial causado pelas importações de petróleo que cresceram 16%, como
decorrência da desativação dos reatores nucleares.
Apesar dessas
dificuldades, consolida-se a tendência para a estabilidade nos países
desenvolvidos. Esta estabilidade, com a ajuda do “tapering” do Fed está
exportando a turbulência para os países emergentes. Observa-se o deslocamento
dos capitais financeiros especulativos, na busca de segurança, em direção aos
países desenvolvidos, aumentando seu apetite pelo risco, mesmo quando se trata
de títulos da dívida soberana dos países chamados PIIGS (Portugal, Itália,
Irlanda Grécia e Espanha).
O reflexo desta situação
é sentido no Brasil, apesar da ação do Banco Central (BC) que elevou a Selic
para 10,5%, em meados do mês passado. O dólar sofre forte pressão de alta com o
aumento da demanda. Apenas entre os dias 24 e 28 de janeiro os estrangeiros
retiraram da Bovespa RS$ 1,2 bilhão. A indústria automobilística, mesmo com os
resultados não muito bons de 2013, remeteram lucros para o exterior num total
de US$ 3,29 bilhões, 34,7% a mais que em 2012. Além disso, enviaram mais US$
1,06 bilhão como investimentos em outros mercados. Agravando a situação, a
balança de serviços apresentou o maior déficit registrado desde 1947. O dólar
ultrapassou a cotação de R$2,40 contribuindo para aumentar o problema da
inflação.
É nesse ambiente que o
governo Dilma deve que navegar em ano de eleição. Se não bastassem os
acontecimentos políticos dos últimos meses o governo tem que conter a inflação,
a dívida pública e apresentar superávit primário para evitar a debandada dos
“investidores”. Precisa ainda estabilizar a moeda, apresentar melhores taxas de
crescimento do PIB, manter o desemprego baixo e conter a violência. Eis a
difícil carga que pesa sobre os ombros da presidente e do governo do PT.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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