Semana de 24 de fevereiro a 02 de março de 2014
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Nas vésperas do carnaval saiu o dado oficial do Produto
Interno Bruto brasileiro do ano passado. O esperado era um crescimento de 2,2%,
mas, surpreendentemente, o PIB cresceu ainda mais: “incríveis” 2,3%. Este 0,1%
foi motivo de muita alegria por parte dos integrantes do governo, especialmente
para a “presidenta Lula”, segundo as palavras da Ministra do Planejamento,
Miriam Belchior, na cerimônia de anúncio do corte de R$ 44 bilhões no orçamento
de 2014.
Por falar em Lula, um espectro ronda o Planalto Central. Muitos
analistas políticos falam de um movimento nos bastidores para o retorno dele ao
pleito deste ano. Dois seriam os motivos: o PIBinho da Dilma e a sua postura
muito à esquerda no gosto do “mercado financeiro”. O PIB não é culpa só dela,
mas em parte, da fase atual do desenvolvimento em ciclos do capitalismo. Já a
tentativa de reanimar a economia por meio da redução dos ganhos financeiros com
juros, é sim culpa dela e de sua equipe econômica.
Graças à fase de ascensão do ciclo econômico global, que
foi de 2003 a 2008, o crescimento médio do PIB brasileiro durante os governos
Lula foi de 4%, enquanto a taxa média de juros de referência, dada pela Selic,
foi de 15,5%. Ao fim do mandato, a Selic estava num patamar de 10,75%, depois
de ter caído a 8,75% na reação à crise em meados de 2009. No primeiro mês do
mandato da presidenta Dilma, os juros foram elevados dos 10,75% para 11,25%,
até atingir o teto de 12,5%, em julho de 2011. A partir daí começou a descida
dos juros, pois, apesar do crescimento de 7,5% em 2010, a crise econômica ainda
não havia passado completamente. O resultado foi o seguinte: a Selic atingiu o
menor patamar da história entre outubro de 2012 e março de 2013, apesar da taxa
de 7,25% ainda ter sido uma das maiores do mundo, na época (a maioria dos
bancos centrais colocaram suas taxas abaixo de 2%).
Mesmo com todo o esforço da presidenta, a taxa de
crescimento do PIB, em seus três anos de mandato, foi a metade da que conseguiu
seu antecessor. Diante disto, um dos principais trunfos para a reeleição de
Dilma Rousseff seria a redução da Selic a um patamar simbólico: menor do que
uma dezena. Este era seu legado econômico, já que o PIB não tinha mais jeito.
Outro problema, porém, apareceu: a inflação medida pelo IPCA. Como vimos em
análises passadas, a teoria oficial que fundamenta a política econômica tem
apenas um remédio para a alta dos preços, a saber: a elevação da taxa de juros.
Assim, o Banco Central resolveu não agradar a presidenta, mas convencer o
mercado de sua independência, e elevou, na última reunião, a Selic a um patamar
de 3 anos atrás, 10,75%.
Entre 1999 e 2002, no segundo mandato de FHC, o IPCA
registrou um aumento médio de 8,8%, enquanto a Selic média foi de 20,1% e o
crescimento médio do PIB foi de 2,2%. No primeiro governo Lula (2003-2006), o
índice médio oficial de crescimento dos preços foi de 6,4%, enquanto a Selic
média foi de 18,9% e a elevação média do PIB foi de 3,5%. No segundo mandato do
PT (2007-2010) o IPCA cresceu em média de 5,1%, a Selic média foi de 11,1% e o
crescimento médio da economia foi de 4,6%. Já nos três primeiros anos do
governo Dilma o crescimento médio dos preços foi de 6,1%, a Selic ficou em
média a 9,5% e o PIB cresceu em média 2%.
Não é que a inflação tenha galopado, ou algo do tipo, mas
o “mercado” já não confia mais na equipe econômica, muito menos no Ministro da
Fazenda, que teve sua saída pedida por muitos e até mesmo pelo Financial Time:
“Guido Mantega, o ministro da Fazenda, há muito perdeu a consideração por parte
dos investidores. Substituí-lo por um nome pró-mercado poderia fazer maravilhas”,
disse o editorial de 26 de fevereiro do corrente ano. Na verdade, este é um
ponto que se apresentará como fundamental aos candidatos à presidência do
Brasil: a conquista do “mercado financeiro”. Poucos são aqueles que criticam os
programas sociais do PT. Porém, muitos são os descontentes (principalmente do
setor financeiro) com a situação econômica do Brasil.
O resultado do PIB de 2013 ainda não é suficiente para
dar a Dilma uma imagem positiva diante dos empresários. Porém, não podemos
atribuir exclusivamente a ela este resultado pífio, mas à dinâmica mundial. Talvez
seu principal problema tenha sido confrontar interesses de um bloco que
atualmente domina a economia internacional.
Não podendo ser a presidenta do “PIBão”, tentou inutilmente
ser a presidenta da “Seliquinha”.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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