Semana de 10 a 16 de março de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Ela vem aí! Tremei,
senhores! Preparei vossas bundas que Lisa acaba de chegar e com a schinella na
mão. È visível o nervosismo geral. Correm esbaforidos ministros, secretários,
diretores, funcionários (até o encarregado do cafezinho). O governo está em
polvorosa. Mas, quem será a Lisa? Garanto que não é a presidenta dos EUA, nem a
secretária geral da ONU, nem a generala comandante das forças atômicas da OTAN,
nem uma ET que aterrou distraída. Então por que ela põe um país de joelhos?
Por mais inacreditável
que pareça, e para vergonha nossa, Lisa Schineller é uma reles economista da
agência de rating Standard & Poor’s que vem “dissecar as contas do Tesouro”
e “conversar” com as autoridades locais ameaçando rebaixar a classificação do
Brasil, de BBB e retirar o “grau de investimento” que nos concederam desde
2008. Como os leitores sabem, existem três grandes agências que fazem a classificação
do risco que os países apresentam para pagar seus compromissos: a Fitch (que já
enviou seus fiscais) a Moody’s (que os enviará em abril) e a Standard &
Poor’s que se encontra em pleno processo de fiscalização comandada pela temida
Lisa. Aos pés dessa senhora derrete-se o ministro Mantega e toda a sua equipe
prestando contas do dever de casa realizado. O Banco Central também é chamado à
ordem. Seu presidente, o Tombini, Insaciável, Schineller continua seu périplo
por Brasília, São Paulo e Rio ouvindo economistas, banqueiros, executivos,
diretores de empresas e do setor financeiro. Nem a Petrobrás e o BNDES escapam
das schinelladas da madame.
Esta é uma demonstração
do poder do capital financeiro. É preciso dar garantias aos especuladores que
todos continuarão pagando os juros a fim de obter novas esmolas. Temos um país
vergonhosamente de joelhos ante o novo deus do planeta. Estamos todos pagando
as penitências e prometendo um bom comportamento futuro para que, uma empresa
de idoneidade duvidosa, não rebaixe a classificação do país.
Enquanto oramos e
trememos o velho mundo continua a sua marcha. Nos Estados Unidos, o novo
vice-presidente do Federal Reserve (Fed) banco central americano, Stanley
Fischer, recomenda a manutenção de uma política monetária expansionista para
não prejudicar a claudicante recuperação. No Japão, com medo da recente
elevação do IVA (imposto sobre valor acrescentado), de 5% para 8%, o BC manteve
a compra de ativos no valor de 60 a 70 bilhões de ienes, apesar do volume em
carteira já ultrapassar um trilhão de ienes. Na Itália, o novo primeiro
ministro Matteo Renzi sinaliza para o fim da austeridade, provocando irritação
nas autoridades da Comissão Europeia que exigem o cumprimento dos compromissos
assumidos. Na China, a situação continua a agravar-se com a desaceleração de
todos os setores da economia nos dois primeiros meses do ano e o primeiro caso
de insolvência de uma empresa incapaz de pagar US$ 14,7 milhões de juros de
empréstimos contraídos. Suspeita-se que este será o primeiro de uma sucessão de
outros estouros pois as dívidas das empresas e governos locais ultrapassam
centenas de bilhões de dólares. As consequências espalham-se pelos mercados da
Ásia com a venda precipitada de ações das empresas chinesas e queda nos preços das
commodities que o país importa.
Resumindo tudo isto, a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) divulgou sua previsão
sobre a desaceleração das economias dos emergentes e a expansão moderada da
economia mundial. O Banco Internacional de Compensações (BIS) alertou para o perigo
da elevação das taxas de juros nos emergentes (conselho que nosso BC não ouviu)
ao mesmo tempo em que chamou a atenção para o montante global dos títulos de
dívidas que já ultrapassa os US$ 100 trilhões, 42% maior que em 2007. Cálculos
feitos pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) mostram que a dívida
total do mundo, incluindo os setores públicos e privados, chega a US$ 223
trilhões, ou seja, 313% do PIB mundial.
No Brasil a produção
industrial continua a rastejar e, em ano eleitoral, a presidente Dilma vem
sendo pressionada a fazer uma política econômica de austeridade.
E no meio disto tudo, e
das chantagens políticas, ela precisa ganhar as eleições!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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