Semana de 24 a 30 de março de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A presidenta Dilma está
na berlinda. A semana foi carregada e promete mais. A primeira schinellada veio
da Standard & Poor’s, a temida agência de rating (avaliadora de riscos).
Juntamente com as outras duas, a Moody’s e a Fitch estas agências arvoram-se em
avaliadoras da credibilidade dos países e empresas e da capacidade que eles têm
em saldar seus compromissos financeiros. Há duas semanas, noticiamos a visita
da Lisa Schinela, digo, Schineller, inspetora de quarteirão da Standard &
Poor’s, que nos visitou para fazer uma devassa nas contas do Brasil. Toda a
subserviência dos nossos ministros e das autoridades do Banco Central (BC) não
convenceu a senhora. A agência rebaixou a classificação do Brasil de BBB para
BBB-, o último nível exigido para conceder o tão desejado “grau de
investimento”. As razões alegadas foram: perspectivas de crescimento reduzido
nos próximos anos, descontrole da política fiscal com grandes despesas
agravadas pelo ano de eleições, baixo superávit primário e suspeita de que a
meta de 1,9% não seja atingida, descontrole da inflação agravado pela crise no
setor elétrico, aumento da vulnerabilidade externa. Resumindo: perda da
credibilidade do governo e de sua política econômica com o agravamento da
envolvente internacional adversa. Aproveitando o embalo a Standard & Poor’s
rebaixou igualmente de BBB para BBB- as notas de 13 entidades bancárias entre
as quais o Banco do Brasil, o Itaú Unibanco, o HSBC Brasil, o Bradesco, o
Santander Brasil, o Banco Citibank, o Banco do Nordeste e a Sul América
Seguros.
As consequências foram
imediatas: instabilidade interna, oscilação na bolsa, elevação dos juros,
desconfiança dos investidores, mau humor do mercado, etc.
Outra chinelada na
presidenta foi aplicada pela pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada.
36% dos entrevistados consideraram o governo bom ou ótimo, com uma queda de sete
pontos em relação a novembro de 2013. A rejeição ao governo passou de 20%,
também em novembro, para 27%. Esta derrota do governo animou os investidores
diante do aumento da possibilidade de vitória das oposições ou mesmo do
crescimento do movimento “volta Lula”. As condições para a manutenção da
candidatura Dilma estão se deteriorando, pois se fala que, ao entrar na faixa
de 30% de aprovação, a presidente atingiu a zona de tolerância para sua
permanência no páreo.
A situação torna-se mais
grave porque não se espera nenhum refresco da economia mundial ainda em estágio
de letargia. Na França, os altos impostos e a permanência do desemprego levaram
à derrota do governo do Sr Hollande nas eleições locais. A zona do euro
continua a preocupar a tal ponto que o conservador Jens Weidmann, presidente do
Bundesbank (banco alemão) admitiu a possibilidade do BCE adotar uma política de
afrouxamento monetário (Quantitative easing – QE), para estimular a recuperação.
Na China a preocupação do governo com a desaceleração levou ao aumento dos
gastos em infraestrutura e do crédito, na tentativa de obter 7,2% de
crescimento do PIB.
Com a situação interna se
deteriorando o governo do PT encontra-se em dificuldades. A economia está em
desaceleração enquanto a inflação acelera (será a stagflação?). No horizonte
surge a crise energética, os preços das commodities estão em baixa, os
escândalos na Petrobrás respingam na Dilma e acirram os ânimos no congresso, estremecendo
o bloco de sustentação.
Ora, todos sabem, e nesta
coluna muitas vezes temos repetido, que o movimento da economia é cíclico.
“Sempre há ciclo de expansão que vai desembocar em crise, e depois haverá
período de recessão. Economistas não conseguem cancelar essa lei capitalista inexorável.
Quando a economia está em sua expansão, e quando o ciclo é de euforia, como em
2007, economistas esquecem da crise. No início de 2008, o FMI disse que a
economia crescia solidamente. Isso de fato não se verificou”. Estas afirmações
entre aspas não são nossas, mas do ministro Mantega, em uma aula magna que
proferiu na Escola de Economia de São Paulo da FGV no dia 28 passado.
Finalmente Mantega, para
justificar o aperto em que se encontra, lembrou-se de uma velha lição dos tempos
em que era economista. Atirou a culpa pela difícil situação da economia sobre “inexorável”
lei da crise, que não é da sua responsabilidade. Mas, como ele observa que o
processo de recuperação está iniciando, ou seja, estamos entrando na fase de
reanimação do ciclo econômico, na mesma conferência, ele apresentou a
estimativa de que nos próximos oito anos a taxa de crescimento médio do PIB
será de 4%. Embora otimista esta taxa é viável, no entanto, o nosso ministro
agora esqueceu as lições de economia, pois a fase de reanimação do ciclo não
dura mais do que três anos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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