Semana de 18 a 24 de agosto
de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Desde o ano passado que os termos “confiança”,
“credibilidade”, “expectativa”, “humor”, “pessimismo”, vêm sendo utilizados
para dar significado ao lento e baixo crescimento brasileiro. Estes termos, ligados
aos aspectos psicológicos das decisões individuais, parecem desconectados dos
aspectos materiais que norteiam estas decisões. Se déssemos credibilidade a estas
alegações, poderíamos tirar a seguinte conclusão: se o “humor” dos agentes
econômicos melhorar, toda a atividade econômica se recuperará.
Mas o fato é que a “confiança”, a “credibilidade”, a
“expectativa”, o “humor”, o “pessimismo” dos agentes não derivam deles mesmos.
Ou seja, não escolhemos se hoje estamos mais ou menos confiantes, mais ou menos
crédulos, mais ou menos humorados ou mais ou menos pessimistas. As decisões
econômicas são tomadas a partir da observação, previsão e concretização de uma
realidade material.
Por
esta razão, caro leitor, ainda não trazemos boas notícias.
Há uma
grande expectativa quanto à divulgação das estatísticas referentes ao segundo
trimestre, a serem publicadas nos próximos dias pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística). Mas, os resultados das sondagens realizadas no
período e das prévias mensais, sobre os números do Produto Interno Bruto (PIB)
e da indústria, não são animadores. O IBC-Br, por exemplo, índice mensal de
atividade econômica do Banco Central apurou queda de 1,5% em junho, comparado a
maio. Se este número se confirmar, o PIB encerrará o segundo trimestre do ano
em queda de 1,2%, comparado ao primeiro trimestre.
A
recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda) estaria mais próxima com a
atualização dos dados do primeiro trimestre que só cresceu 0,2%. Surgiram
também sondagens menos pessimistas como a da Mauá Sekular, que espera uma queda
do PIB de 0,8% no segundo trimestre e a da equipe econômica do Itaú que prevê
uma queda do PIB de 0,4%.
A
produção de automóveis (setor que apresenta os números mais críticos) recuou,
segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),
11,6% no segundo trimestre. O indicador de confiança da indústria da Fundação
Getúlio Vargas (FGV) caiu 5,9%, também no segundo trimestre do ano.
As dificuldades enfrentadas pela indústria estão se
refletindo sobre o setor varejista. Segundo levantamento feito pelo jornal
Valor Econômico, com base nos balanços de 17 varejistas e grupos de shopping
centers, dez cortaram investimentos. Houve uma queda de 20,1% no investimento
semestral quando comparado ao semestre anterior. E a Pesquisa Mensal do
Comércio ampliada do IBGE, que inclui veículos e materiais de construção,
recuou 3,1% no segundo trimestre.
O
saldo final da redução da produção e das vendas será, provavelmente, de um
semestre estagnado e, mesmo que ocorra uma melhora no segundo semestre, esta não
será suficiente para recuperar o estrago ocorrido no primeiro.
O presidente da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, tratou de adiantar que
o ano está perdido para a indústria brasileira. Ele afirma não lembrar “... ter
passado um período tão difícil como o deste ano e do ano passado.” Segundo a
CNI, o crescimento anual do setor industrial não ultrapassará 0,8%.
A realidade econômica atual é cruel. O ano para a
economia está perdido de novo. Mas, novamente alheio à realidade, o nosso
ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua a achar que os seus discursos restaurarão
a “confiança”, a “credibilidade”, a “expectativa”, o “humor” e debelará o
“pessimismo” dos agentes econômicos, em especial dos empresários. Lembre caro
leitor, que em maio deste ano, ele tinha, não prometido, mas garantido um ciclo
de expansão econômica. Agora, o ministro foi além, declarando que não há uma
crise na economia e que já há, no segundo semestre, sinais de retomada do
crescimento. Segundo ele “a indústria levou um tombo em junho e em julho já
voltou. Agora (com as medidas recentes) vai ter mais crédito, as vendas vão
aumentar (...). O que vejo é uma economia saudável, estruturalmente sólida e
que se defronta com problemas conjunturais”.
Será que estamos falando do mesmo Brasil?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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