Semana de 25 a 31 de agosto de 2014
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Com a proximidade das
eleições, as campanhas eleitorais passam a assumir um papel cada vez mais
relevante no comportamento do mercado financeiro. A bola da vez é a candidata
Marina Silva (PSB). Após a divulgação das pesquisas eleitorais que apontaram
Marina como vitoriosa na disputa eleitoral, o “efeito marina” fez com que o
mercado se apresentasse de forma mais otimista. A confiança dos gestores na
equipe econômica que a assessora, Eduardo Giannetti e André Lara Resende, é o argumento
principal para tamanha euforia. Já se escuta falar em “kit Marina”, aqueles setores
e empresas que possivelmente irão se beneficiar com uma eventual eleição da
candidata do PSB. Nesse “kit” encontram-se empresas como Petrobras, JBS e sucroalcooleiras.
Do outro lado da briga,
Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) buscam meios de conter o avanço
conquistado por Marina desde a efetivação da sua candidatura à presidência da
república. A reviravolta ocorrida na disputa presidencial pegou todos de
surpresa, fazendo com que novas estratégias sejam utilizadas nos próximos
debates. O que, sem sombra de dúvidas, é ponto comum na cartilha dos candidatos
do PT e PSDB é a tentativa de desconstrução de Marina Silva, a responsável pela
sacudida no cenário eleitoral.
Para a presidente Dilma
há uma dificuldade a mais: a economia apresentou um fraquíssimo resultado, no
segundo trimestre.
O panorama econômico
nacional apresenta um quadro que é definido como de “recessão técnica”, caracterizado
por uma queda por dois trimestres consecutivos do Produto Interno Bruto (PIB).
O primeiro trimestre apresentou recuo de 0,2%, enquanto que no segundo
trimestre o PIB retraiu 0,6%, em relação aos períodos imediatamente anteriores.
Os economistas não chegam a um consenso se tal situação é realmente
caracterizadora de recessão técnica. Os que defendem essa posição seguem a tese
de que dois semestres consecutivos de queda do PIB já configuram recessão. No
entanto, os que se opõem, se apegam ao argumento de que tais quedas necessitam
de percentuais mais altos e com desemprego, o que não ocorre atualmente. De
qualquer forma, é visível que, na melhor das hipóteses, o Brasil se encontra em
um quadro de estagnação.
Outra importante notícia
no cenário econômico foi o reajuste, para o ano de 2015, de 8,8% no salário
mínimo. A alteração, proposta pelo Governo, já consta no Projeto de Lei
Orçamentária Anual (Ploa) de 2015, que, se aprovado, garantirá ao salário
mínimo o valor de R$ 788,06 a partir de janeiro do próximo ano. Na avaliação do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
que leva em conta os preceitos constitucionais no estabelecimento do salário
mínimo vigente, ou seja, aquele capaz de atender as necessidades básicas e vitais
do trabalhador e sua família, o mínimo necessário deveria ser de R$2.915,07,
bem longe dos R$ 724,00 pagos atualmente.
A economia mundial ainda escorrega.
Enquanto bons sinais emergem da economia americana, como a estimativa de
crescimento de 4,2% para o PIB, no segundo trimestre, a estagnação é a tônica
da zona do euro. A situação internacional pode ser resumida, nas palavras da
Claudia Safatle, da seguinte forma: “A economia americana prossegue avançando
na recuperação, a Europa patina, o Japão decepciona e a China, com crescimento
estável na casa de 7,5%, saiu do primeiro plano”.
As especulações e
previsões acerca do futuro presidente do Brasil ocupam papel principal no humor
dos especuladores financeiros. O mercado financeiro elegeu Marina como uma “boa”
presidente, mais pela real possibilidade de derrotar Dilma do que por suas
propostas de governo. Um dos setores que possivelmente será beneficiado com uma
eventual vitória da ex-senadora é o de bancos comerciais, uma vez que Neca
Setubal, herdeira do Itaú, é a responsável por comandar o seu programa de
governo, que defenderá mudança da política de crédito do governo federal,
salvaguardando os interesses dos bancos privados.
E, como “o mercado não
elege ninguém, mas é difícil eleger alguém contra o mercado”, frase cunhada por
um dirigente de um grande banco, a vida do PT não será nada fácil nas próximas
semanas.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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