Semana de 01 a 07 de setembro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Novamente coube-me a vez
de escrever na semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão
do Banco Central (BC). O resultado da reunião foi o esperado, ou seja, a
manutenção da taxa básica Selic em 11% ao ano, assegurando ao país a posição de
campeão das maiores taxas de juros do mundo. Embora envergonhado por não
obedecer aos patrões, os banqueiros, a taxa foi mantida diante do quadro de
desaceleração da economia e mesmo de “recessão técnica” como eles mesmos
afirmam.
Os dados comprovam a
gravidade da situação. A economia continua desacelerando com taxas negativas de
crescimento o que significa crescer como rabo de cavalo, isto é, para baixo. Cai
o grau de utilização do potencial produtivo instalado e a produção, as vendas
se reduzem e os estoques crescem. A produção é superior à capacidade de consumo
da população, ou seja, a oferta é maior que a demanda. E aí surge a questão:
por que os preços continuam a subir?
A ciência econômica
oficial fica de quatro diante deste problema para o qual não encontra
explicação. Só resta aos bons meninos do BC brincar com as palavras e
expressões para enrolar o “mercado”. Desta vez eliminaram do comunicado oficial
a expressão “neste momento” usada em comunicados anteriores. Agora os analistas
se divertem debatendo o significado desta eliminação e com isto fazem suas
conjecturas e apostas sobre a evolução futura a fim de maximizar a
possibilidade de sucesso de suas especulações financeiras.
Mais uma vez, agindo em
sentido contrário, o governo tenta estimular o consumo facilitando o crédito e
procurando obrigar os bancos a aumentar a oferta de dinheiro. O que ninguém consegue
é convencer uma população endividada a contrair novas dívidas.
Enquanto isso, a situação
piora. A queda na venda de carros, em agosto, foi de 7,8%, em relação a julho.
No acumulado do ano, já atinge 10%. A Volkswagen teme entrar no prejuízo no
próximo ano. Em relação ao emprego, a situação também se agravou, em agosto. O
setor de veículos e máquinas agrícolas demitiu mais de 1,4 mil trabalhadores.
Desde o inicio do ano já foram liquidados 8.1 mil postos de trabalho, segundo a
Anfavea, associação dos fabricantes de veículos. Isto sem contar outros 3,7 mil
que estão afastados no regime de layoff. O setor de aços longos já estima uma
retração de 3% nas vendas, no total do ano. A produção de aço deverá cair 2,5%,
quando comparada com 2013. Em relação ao segundo trimestre de 2013, o deste ano
mostrou uma queda de 8,7% na construção civil e de 5,5% na indústria de
transformação. Se compararmos o segundo trimestre com o primeiro deste ano as
quedas são de 2,4% para a construção civil e de 2,4% para a indústria de
transformação.
As estimativas feitas por
economistas consultados pelo jornal Valor Econômico, para o Produto Interno Bruto
(PIB), ficaram em 0,4%, para este ano. Até o setor de serviços caiu 0,5%, na
passagem do primeiro para o segundo trimestre.
O agravante é que os
investimentos também se encontram em queda, o que compromete a retomada futura.
A formação bruta de capital fixo, indicador que mede os investimentos, caiu 5,3%,
no segundo trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Com isto a taxa de investimento caiu para 16,5% do PIB, a menor desde
2006.
Por outro lado, diante
das eleições, agosto mostrou que o governo vem elevando os gastos, e a meta de
1,9% do PIB, para o superávit primário, por ele mesmo estabelecida, está
comprometida, mesmo com a utilização das “receitas extraordinárias”.
Outro agravante da
situação é a conjuntura internacional que não apresenta melhora principalmente
na União Europeia e na zona do euro. A piora da situação com queda na produção
e deflação levou o Banco Central Europeu (BCE) a tomar medidas como a redução
das taxas de juros e a compra de títulos ABS (lastreados em ativos) e “covered
bonds” (lastreados em hipotecas e empréstimos). É um QE (afrouxamento
monetário) envergonhado.
O quadro que tende a se deteriorar
cria uma séria dificuldade para a campanha de reeleição da presidente Dilma.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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