Semana de 08 a 14 de
setembro de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Faltando poucos dias para a eleição, os candidatos à
presidência travam embates em relação à área econômica. O que surpreende é que
não há nada de novo nas propostas apresentadas pelos três primeiros colocados.
Todos são assessorados por economistas que partilham da mesma visão: a de que o
tripé macroeconômico (regime de metas de inflação, câmbio flexível e metas de
superávit primário) é o melhor remédio para a saúde da nossa economia. Até mesmo
a candidata à reeleição, que não adota o mecanismo em sua plenitude, sequer
cogita assumir que o abandonou ou que não o considera a melhor alternativa.
O que não podemos esquecer é que continuamos numa
conjuntura de crise. O resgate do tripé exigirá sacrifícios que acentuarão
ainda mais a recessão no país. Ainda mais com uma situação econômica que só
piora. O novo Boletim Focus projeta, para 2014, um crescimento do PIB de apenas
0,5%. A inadimplência continua a subir. Segundo levantamento do Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o número de consumidores com contas atrasadas
subiu 5,09%, em agosto, comparado a agosto do ano passado. E em relação a junho,
este indicador cresceu 0,28%. O setor automobilístico continua a registrar
queda das vendas e seus representantes passaram a admitir um declínio de dois
dígitos, no fim do segundo semestre.
Para
os candidatos de oposição não há nada a fazer a não ser os ajustes, as reformas
necessárias ou, melhor dizendo, o arrocho. O arrocho permitirá, segundo eles,
combater o baixo crescimento econômico, a alta inflação e o alto déficit em
conta corrente. Além do cumprimento total do tripé, o “mercado” e a maioria dos
economistas, consideram que se houver liberdade econômica e clareza no
comunicado das instituições governamentais, liberar-se-á, no futuro, uma maior
capacidade produtiva, que permitirá um crescimento “sustentado”, pois os
“investidores” ficarão mais confiantes e dispostos a investir.
Conclui-se
então, a partir desta argumentação, que a crise que amargamos foi causada por
erros dos gestores da política econômica e não das condições objetivas que
fazem parte da evolução do processo econômico e, que, não por acaso, se repetirão
continuamente.
Os
economistas e os analistas do “mercado”, maliciosamente, continuam a pressionar
e a responsabilizar o governo pela crise e pela piora dos “fundamentos
macroeconômicos”. Esta marcação cerrada já rendeu a demissão antecipada do
ministro da Fazenda, Guido Mantega. Acusado de ser irresponsável em suas
decisões e de partilhar de uma visão “desenvolvimentista”, o ministro deverá sair
do cargo, como bode expiatório, abandonado por Dilma e por Lula.
Enquanto
isso, o “mercado”, que já havia “marinado”, mantém a pressão costumeira e continua
a especular sobre o candidato que melhor atenderá, quando eleito, os seus
interesses.
Esta
semana, cerca de 500 clientes do Bank of America Merrill Lynch (BofA)
reuniram-se em um hotel em São Paulo, para que os coordenadores da campanha do PSB
apresentassem o programa de governo da candidata Marina Silva. As propostas,
segundo os participantes, agradaram. Mas não bastou. O mesmo público ainda quer
ouvir a candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) e o senador mineiro Aécio
Neves (PSDB).
Depois
desta, pareceu despropositado o embate que acontece entre Dilma e Marina sobre
os vínculos com os bancos e o crescimento dos lucros bancários. As duas
candidatas se autoacusam: Marina acusa a presidente e seu antecessor de ter
propiciado o aumento significativo dos lucros dos bancos e Dilma acusa a
adversária, por receber o apoio de Neca Setúbal, herdeira do banco Itaú.
Para
se ter ideia da influência do setor financeiro, a agência de rating Moody’s
revisou de “estável” para “negativa” a perspectiva da nota de crédito do
Brasil. Segundo a instituição o crescimento baixo, a piora nos indicadores da
dívida e a piora das expectativas dos investidores, motivou a mudança. Um
detalhe é que esta revisão só se concretizará daqui a 12 ou 18 meses. Mesmo assim
houve uma pressão imensa para que a presidente se pronunciasse. Ao lamentar a
possível decisão, a presidente declarou que sempre desejou o melhor para o
Brasil, mas que diante da conjuntura, os esforços não foram suficientes.
Só nos
resta a lamentar que o Brasil continue de joelhos frente ao mercado financeiro.
Quando
é que os interesses do povo serão discutidos?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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