Semana de 03 a 09 de novembro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Afinal, a herança maldita
ficou para a própria presidente Dilma. Ela está herdando de si mesma um país
com inflação rondando o teto da meta; com o dólar sofrendo uma pressão de alta,
já ultrapassando os R$ 2,50; com uma balança comercial deficitária; com um
orçamento estourado, com um superávit primário quase zerado; com uma indústria
em desaceleração e com um Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento próximo a
zero.
E tudo isto dentro de uma
conjuntura internacional adversa, embora o Armínio Fraga não consiga ver. Por
toda parte sucedem-se as ações para combater a recessão. Preocupado com a
estagnação da economia, o Banco do Japão (Boj) ampliou seu programa de compra
de títulos (Quantitative Easing – Q.E.) com o objetivo de aumentar a base
monetária de 60 trilhões de ienes para 80 trilhões ao ano.
Remando na mesma direção
e com preocupações semelhantes, o Banco Central Europeu (BCE), na sua reunião
da semana passada manteve as taxas de juros de referência na mínima histórica
de 0,05% e, por unanimidade, declarou sua disposição de adotar “instrumentos
não convencionais adicionais”, o que foi interpretado pelo mercado como um
sinal da proximidade da adoção do Q.E. De fato, a Comissão Europeia reduziu
suas previsões para o crescimento do PIB da região, de 1,7% para 1,1%. Para as
economias mais dinâmicas do bloco as reduções foram de 2% para 1,1%, para a
Alemanha e de 1,5% para 0,7%, para a França.
Mesmo a economia
americana, que tem sido a esperança de recuperação da economia mundial, dá
sinais de fragilidade. Em setembro, o déficit comercial cresceu 7,6% atingindo
US$ 43,03 bilhões, o setor imobiliário desacelerou e as encomendas para as indústrias
caíram 0,6%. Teme-se que a desaceleração mundial comprometa a recuperação dos
EUA.
Contribuindo para agravar
o quadro de desaceleração da economia nacional o BC brasileiro elevou a taxa
Selic de 11% para 11,25%, com as consequências que seriam de esperar. Os juros
de todo o sistema financeiro foram ajustados para cima dificultando ainda mais
o crédito e os financiamentos. Apesar de algumas medidas tomadas pelo governo
como a liberação de R$ 95 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos, o
volume dos financiamentos apresenta tendência de queda.
Estranhamente, mesmo
neste ambiente adverso, a taxa de desemprego continua a cair, segundo a
Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A taxa que era de 7,1%, no primeiro
trimestre, caiu para 6,8% no segundo. A maior geração de emprego foi o fator
que mais contribuiu para a queda.
Se a redução do
desemprego é um fenômeno que desafia os analistas, há um setor que continua
tendo um brilhante desempenho: o setor bancário. O baixo crescimento econômico
não tem afetado o crescimento dos maiores bancos, Itaú, Bradesco e Santander
que, juntos, lucraram R$ 27,4 bilhões, nos nove primeiros meses do ano, um
crescimento de 26,9%, comparado com 2013. Com a ajuda do BC, que tem elevado a
Selic, a pretexto de combater a inflação (teimosamente classificada como
inflação de demanda), o setor bancário continua a apresentar excelentes
resultados. Outra ajuda veio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal
que reduziram suas atividades e, além disso, elevaram também suas taxas de
juros.
Mas, isto ainda não
satisfaz a ganância do capital financeiro e o “mercado”. Os especuladores estão
furiosos com a dubiedade dos termos da ata da reunião do Copom que decidiu
sobre o aumento da Selic, por não terem encontrado uma orientação clara sobre a
tendência futura. Com isto, as pressões sobre a presidente Dilma cresceram para
a indicação dos nomes da nova equipe econômica. Há a esperança de uma guinada
para a “austeridade” na política econômica que é combatida por um grupo de 422
economistas, em um manifesto encabeçado por Maria da Conceição Tavares e Luiz
Gonzaga Belluzo e assinado por professores de várias universidades. Os
assinantes defendem que há “alternativas além da austeridade fiscal e
monetária”.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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