Semana de 17 a 23 de novembro de 2014
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Os escândalos na
Petrobras continuam a ocupar as páginas dos principais meios de comunicação
nacional. A cada nova fase da investigação vem à tona mais nomes de pessoas e empresas envolvidas no que, possivelmente, pode ser o maior
caso de corrupção da história do país. São diretores da estatal, executivos de
empreiteiras, doleiros e “laranjas” que encabeçam uma lista cada vez maior.
Entre as empreiteiras investigadas por envolvimento no esquema fraudulento do
doleiro Alberto Youssef encontram-se: OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz
Galvão, Mendes Júnior, Engevix, UTC, Iesa e Galvão Engenharia.
Uma observação das doações
recebidas, pelos partidos, para a eleição deste ano, e os nomes das
empreiteiras envolvidas, permite encontrar números bastante curiosos. Segundo
dados levantados pelo Jornal Valor Econômico, o grupo todo contribuiu com R$
217 milhões para comitês eleitorais, excluindo-se as contribuições feitas
diretamente aos candidatos. A Iesa não efetuou doações eleitorais e a Mendes
Júnior concedeu valores apenas para candidatos. Seis delas aparecem como doadoras
a comitês: a Camargo Corrêa, entregou metade dos R$ 3,1 milhões que doou na
campanha ao DEM; a Odebrecht, diretamente ou por meio de empresas controladas,
foi a maior financiadora do grupo com o total de R$ 57,9 milhões, dos quais R$
13,7 milhões foram para o PSDB; a OAS destinou R$ 13,2 milhões ao PT; a Queiroz
Galvão contribuiu com R$ 15,8 milhões ao PMDB; a Galvão Engenharia irrigou os
cofres do PSB em R$ 4,4 milhões; a UTC destinou R$ 3 milhões à seção paulista
do PCdoB. Não bastassem as volumosas quantias recebidas pelos comitês
financeiros dos partidos, as empreiteiras investigadas pela PF realizaram
doações para 255 deputados eleitos. Os seis maiores beneficiados foram:
Alexandre Leite da Silva (DEM-SP), Nelson Meurer (PP-PR), Lucio Vieira Lima
(PMDB-BA), Alberto Fraga (DEM-DF), Carlos Zarattini (PT-SP) e Arthur Bisneto
(PSDB-AM).
A situação é tão complexa
e envolve cifras tão altas que levou o ministro do STF, Gilmar Mendes, a afirmar
que o mensalão é “pequenas causas” frente à Operação Lava Jato. No entanto, a
dificuldade do governo não para por aí. O projeto de lei que visa alterar a
meta de superávit primário para esse ano está encontrando dificuldades para ser
votado. O mercado financeiro continua pressionando a Presidente para que seja
colocado um de seus representantes no Ministério da Fazenda e o nome de Joaquim
Levy já aparece como virtual novo ministro, o que agrada o “mercado”.
Se servir de alento, ao
que tudo indica, a inflação ficará dentro do teto da meta. O Índice de Preços
ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, desacelerou de
0,48% para 0,38%, entre outubro e novembro, e pode facilitar o cumprimento da
meta de inflação, neste ano. No acumulado de 12 meses o índice voltou a ficar
dentro do permitido 6,42%. A taxa de desemprego voltou a cair em outubro, passando
de 4,9% para 4,7%, de acordo com Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Mesmo
havendo redução nas contratações com carteira assinada, o avanço do emprego por
conta própria foi o responsável pela queda da taxa.
Ao redor do globo a
situação não se encontra nada boa. A baixa demanda na região do euro aparenta
ter desacelerado a ponto de quase pará-la. A atividade industrial chinesa
reduziu-se em novembro para seu menor nível em seis meses, de acordo com dados
preliminares. Há pressão para que Pequim adote medidas de estímulo ao
crescimento. E, no Japão, o “Abenomics”, programa que até poucas semanas é tido
como exemplo para o resto do mundo, desandou. Uma contração de 1,6% do PIB
japonês no terceiro trimestre já gera algumas alterações nas políticas
econômicas por lá adotadas.
Por aqui resta esperar os
desdobramentos das investigações do “Petrolão”. Os maiores escritórios de
advocacia do Brasil transformaram Curitiba em suas sedes provisórias. É lá que está
o processo da operação, sob a tutela do Juiz Federal Sergio Moro, maior
especialista em lavagem de dinheiro da Justiça brasileira. Enquanto tudo isso
ocorre, de forma discreta e melancólica, a refinaria de Abreu e Lima deve
começar a produzir até o final desse mês.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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