Semana de 05 a 11 de janeiro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A situação da economia
mundial continua a agravar-se. Apenas nos EUA se anuncia uma débil recuperação,
insuficiente para que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, decida
aumentar as taxas de juros atualmente próximas a zero. Aliás, a presidente da
instituição, Janet Yellen, já avisou que só após abril o assunto seria
considerado, acalmando os “mercados”. Nos demais países as medidas de
intervenção continuam sendo aplicadas desmentindo o ministro Levy que, em uma
entrevista, declarou que “os estímulos fiscais e monetários saíram de cena”.
Parece que ele se esqueceu de combinar com os presidentes dos BCs dos outros
países.
Com efeito, o agravamento
da situação na Alemanha, França e Itália, os três grandes da União Europeia
(UE), e a ameaça de deflação tornam iminente a deflagração do Quantitative
Easing (Q.E.) do Banco Central Europeu (BCE). O Japão já vem atuando neste
sentido há algum tempo e agora é a vez da China que decidiu investir US$ 1,1
trilhão em projetos para impedir a queda do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo
dos 7%.
A situação é mais grave
nos países mais fracos. Na Ucrânia, com a guerra, a desaceleração do PIB faz
crescer o risco de calote. Na Grécia, o perigo de abandono da zona do euro vem
aumentando, o governo caiu e as próximas eleições trazem a possibilidade de
vitória para o partido da esquerda. A situação da Espanha também torna iminente
a vitória de um novo partido de esquerda que altera o panorama eleitoral do
país. Na Rússia, o perigo é a recessão.
Por mais que desagrade o
“homem da tesoura” (o ministro Levy), a sua austeridade, está caminhando na
contra mão, pois o mundo desenvolvido continua dependente de gigantescos
estímulos monetários.
Este quadro adverso em
nada contribui para aliviar a situação interna. A indústria continua
desacelerando e as demissões aumentando. Os trabalhadores reagem e já há greves
em São Paulo contra os despedimentos na Volkswagen e Mercedes Benz. A
Fenabrave, entidade que representa as montadoras, já prevê que em 2015, as
vendas cairão 0,5%. Em 2014, na comparação com 2013, o número de veículos
licenciados caiu 7,1%.
Enquanto isso, o
escândalo de Petrobrás ainda não atingiu o ponto máximo e já apresenta
desdobramentos. A empresa será obrigada a fazer correções nos seus balanços
para expurgar as propinas pagas e contabilizadas. Por seu lado, o Ministério
Público prepara ações contra as empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Mendes
Junior, UTC, Galvão Engenharia, Engevix e seus diretores. Como estas
empreiteiras tem outros contratos com o governo isto poderá provocar paralisação
de obras o que ameaça a sobrevivência dessas empresas. Isto já está acontecendo
com a OAS, que ficou oficialmente inadimplente ao não pagar uma dívida de R$
100 milhões. A Engevix procura vender parte de seu portfólio para não cair na
mesma situação.
O ministério Público
ainda pretende convocar cindo grandes bancos (Bradesco, Itaú-Unibanco, HSBC e
Santander) para explicarem a não comunicação ao Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, um conjunto de
operações irregulares, ligadas à operação Lava-Jato, pois há suspeitas de
conivência de funcionários e gerentes com as fraudes.
Se, do ponto de vista
econômico, a situação do país é adversa, do ponto de vista político é ainda
pior. Os ministérios de Dilma são um verdadeiro saco de gatos. Além da traição
às promessas de campanha (a equipe econômica), há os feudos partidários (PT,
PMDB, PDT, PSD, PC do B, etc.) que devem “garantir a governabilidade”, além da
acomodação dos contrários Katia x Patrus.
Em plena desaceleração o
programa de austeridade deverá agravar em muito o quadro. As medidas prometidas
incluem restabelecimento e elevação de impostos, aumento de juros, contenção de
despesas, restrição do crédito, aumento de preços administrados, etc. As
consequências inevitáveis serão aumento do desemprego, queda dos salários e
redução do consumo.
Imaginem quem primeiro pagará
por isso?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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