Semana de 21 a 27 de dezembro de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Neste último dia do ano, com toda a
sinceridade, desejamos a todos os nossos leitores as maiores felicidades e
sucessos no ano que se inicia.
Como analistas de conjuntura o rigor
científico nos obriga, no entanto, a prevenir e avisar a todos que 2016 não
será um ano fácil. As dificuldades que caracterizaram 2015 devem continuar e o
quadro econômico deve se agravar, nesse novo ano.
O panorama internacional não apresenta boas
expectativas, com a economia da União Europeia (UE) ainda sem definição e
importantes mudanças políticas ocorrendo em vários países. De fato, governos de
centro direita vem sendo derrotados em sucessivas eleições. É o caso da Grécia,
Polônia, Portugal e Espanha, onde os partidos antiausteridade ganharam a
maioria dos parlamentos e teme-se que o fenômeno se propague.
Nos EUA, o sinal para o aumento dos juros
pelo Federal Reserve (Fed) continua aceso, mas a recuperação segue a ritmos
muito lentos. O gigante chinês desacelera e suspeita-se que sua taxa de
crescimento não atingirá os 7% almejados, sendo a menor taxa em 25 anos. Além
disso, o país é abalado pelo desemprego, fechamento de empresas, etc. o que tem
provocado fortes convulsões sociais.
A ameaça do terrorismo do Estado Islâmico
(EI) continua a pesar sobre todo o mundo ocidental desafiando as grandes
potências militares que lançam toneladas de bombas na Síria e no Iraque, mas,
por baixo do pano, financiam os fanáticos através de seus fieis aliados como a
Arábia Saudita e a Turquia, a grande compradora do petróleo sírio extraído pelo
EI, e contrabandeado através de suas fronteiras. Neste clima não se pode
esperar nenhum alento vindo da economia mundial.
Internamente, a situação é ainda pior.
Todos os indicadores econômicos apontam para uma deterioração da conjuntura.
Estamos pagando o preço da canhestra política econômica anticíclica que
transformou o tsunami, iniciado em 2008, em “marolinha”, por alguns anos. A
atual política econômica, que tem por base a austeridade fiscal e monetária,
sendo uma política pró-cíclica, agrava ainda mais a situação. Tudo indica que a
substituição do ministro Levy pelo Nelson Barbosa não provocará grandes
alterações. A ideologia econômica dominante não encontra outro remédio senão o
aumento dos juros e a austeridade fiscal. Continuamos na contramão do mundo. O
pior é que o fanatismo ideológico assume foros de verdade única e natural e as
receitas passam a serem repetidas pelos comentaristas e jornalistas econômicos,
políticos, TVs, jornais, rádios, etc. O país ajoelha-se diante de dois grandes
problemas: a inflação e o equilíbrio do orçamento da nação. A inflação (que não
é inflação, mas estagflação) está fora de controle e o Banco Central (BC) já
prepara sua carta ao congresso com desculpas esfarrapadas para justificar o seu
fracasso e, certamente, ameaçará com o único remédio que a sua primária teoria
conhece, “o instrumento clássico de combate à inflação”: a elevação da taxa de
juros, que deverá ser mais rigorosa. Isso depois de ter apontado como fatores
fundamentais para a perda de controle, o reajuste de 18% nos preços
administrados e a depreciação cambial de 30%, fatores que não são atingidos
pela taxa de juros.
O equilíbrio do orçamento, pelo lado da
receita volta-se contra os menos favorecidos com o aumento de taxas e impostos.
Pelo lado da despesa também cai sobre a população ao atingir os orçamentos da
saúde, educação, previdência e programas sociais. Ninguém fala no aumento dos
impostos sobre os ricos, nem na cobrança dos débitos fiscais das grandes
empresas, nem nas taxas de juros que enriquecem o capital financeiro. Para
agravar a situação continua o massacre político da presidente Dilma com a ameaça
de impeachment a qualquer custo e a utilização de todo tipo de recursos, os
mais escusos, visando sabotar qualquer iniciativa do governo para tentar a retomada
do crescimento.
Aliando-se à crise, a histeria da direita
mais reacionária, que atinge até o nosso Chico Buarque, prenuncia um 2016 de
conflitos e ódio.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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