Semana de 03 a 09 de agosto de 2015
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Com a avaliação de que a
presidente Dilma Rousseff perde as condições para governar o país, Michel
Temer, vice-presidente, passa a ser, na visão de líderes políticos, a última
garantia de governabilidade. A transição negociada já é a principal solução
encontrada para abreviar a saída do governo eleito no ano passado. A tônica dos
protestos marcados para o dia 16 de agosto continuará sendo o processo de impeachment e o movimento por novas
eleições que tem sido encabeçado, principalmente, por aliados do senador Aécio
Neves (PSDB). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), continua com seus
atritos como o poder Executivo. Além da briga com Rodrigo Janot,
procurador-geral da República, o novo alvo do peemedebista é o advogado-geral
da União, Luis Inácio Adams.
Nos últimos dias, os resultados econômicos vêm perdendo
espaço para a crise política e o possível afastamento da presidente Dilma. Até
mesmo jornais especializados em economia têm dado mais atenção ao desenrolar
das discussões em Brasília. Mesmo assim, alguns resultados, nada animadores,
foram divulgados. O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,62% em
julho, maior taxa para o mês, desde 2004. No ano, o acumulado é de 6,83%,
enquanto que nos últimos doze meses a inflação brasileira avançou 9,56%. Já a
Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) do IBGE voltou a recuar
em junho e caiu 6,3% no semestre. O índice mostrou redução de 0,3% frente a
maio e de 3,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. As montadoras de
veículos tiveram queda de 14,9% na produção, em julho. A Marcopolo, fabricante
de carrocerias, manterá a redução de jornada por mais três meses. A Volkswagen
renegociou acordo de reajuste salarial e congelou os salários dos operários, em
Taubaté. O índice de inadimplência da indústria de componentes automotivos
cresceu 32,6%, em comparação a igual período do ano passado.
Não faltam críticas ao ajuste fiscal proposto pelo
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e endossado pela presidente Dilma. Para o
economista da Unicamp, Pedro Paulo Zahluth Bastos, o governo “não tem como
fazer o ajuste que eles haviam imaginado. Os cortes que eles fizeram e
continuam fazendo já são maiores do que era previsto e não houve reversão. Ajuste
fiscal em meio à desaceleração é contraproducente. O que eles fizeram foi um
desajuste fiscal.” e complementa, dizendo que “se a dívida pública for
aumentar, é melhor que aumente por um programa de gastos que tire a economia da
recessão, do que por um programa de corte de gastos que produza uma recessão”.
No que concerne à política monetária, a expectativa era a
divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). A questão central
era a utilização ou não do termo “vigilante”, o principal protagonista da
decisão. As apostas do mercado financeiro se concentravam na sua aparição, pois
indicaria uma política monetária mais dura. Não demorou a tardar e “vigilância”
apareceu, o que na linguagem “bancocentralez” é traduzido como a existência de
uma possibilidade de nova elevação da Selic. Na visão de analistas do mercado
financeiro, o BC apontou o fim de alta do juro, mas continua “vigilante”
(obviamente) e preparado para responder a qualquer percalço apresentado pela
taxa de inflação.
Para concluir, vale a pena apresentar alguns
contrassensos do atual momento político brasileiro. Dos 27 senadores que
compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que irão votar a
recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, 13 deles possuem
inquérito aberto pelo próprio procurador. O relator da CPI do BNDES na Câmara,
José Rocha (PR), teve 69% de todo o dinheiro utilizado em sua campanha doado
por quatro empresas que deveriam ser investigadas. José Dirceu, um dos
principais nomes do PT foi preso, mais uma vez, com a suspeita de ter
continuado recebendo dinheiro ilegal enquanto já cumpria pena por ter sido
condenado no escândalo do Mensalão.
E, por fim, sai Lula, entra João Santana. O marqueteiro
do PT é, atualmente, a principal esperança do Partido. Sua grande missão no
momento é convencer a todos que as coisas vão melhorar.
Na falta de ações concretas pelos líderes do partido,
vale apelar para todos os possíveis salvadores e continuar a “espera de um
milagre”.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
3 comentários:
Análise informativa, serena, imparcial e muito bem escrita. Parabéns PROGEB! Parabéns Rafael!
Não me identifiquei. Sou Elivan Rosas Ribeiro.
Postar um comentário