Semana de 21 a 27 de março de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Para nós e nossos leitores não é nenhuma
surpresa constatar que a situação econômica continua a se deteriorar. Podemos
agora afirmar que ainda não chegamos ao fundo do poço e, como é normal, as
grandes empresas passam a sentir o peso da desaceleração e reduzir ou encerrar
as suas atividades. Citaremos apenas algumas manchetes dos noticiários para
confirmar nossa observação.
As grandes empreiteiras, diante do jejum de
obras públicas, encerram atividades e demitem trabalhadores. Só no ano passado
isto significou 175 mil vagas eliminadas, reduzindo o contingente de
trabalhadores ao menor nível desde 2008. Pedro Celestino, presidente do Clube
de Engenharia, afirmou: “Ou muda a política econômica ou a indústria de construção
pesada no país vai para o ralo”. A indústria de autopeças perdeu 18% do
faturamento no ano passado. A Petrobrás teve, em 2015, o pior prejuízo da sua
história: R$ 34,83 bilhões, causado em parte pela “baixa contábil” de R$ 48,3
bilhões, em seu balanço. As tais “baixas contábeis” atingiram não só a
Petrobrás, mas a Vale, Usiminas, Gerdau e BM&FBovespa. Todas juntas
apresentaram um montante das perdas que somou mais de R$ 90 bilhões. O mesmo
ocorreu com Grendene, Embraer, Natura, Tractebel, Senior Solution e Mills. São
bilhões de reais destruídos pela crise o que é um efeito esperado e necessário,
inerente a este fenômeno.
Entre as montadoras a Randon parou a
construção de nova fábrica em Araraquara (SP) e a produção de semirreboques
rodoviários em Guarulhos. A Mercedes-Benz suspendeu a programada operação do
segundo turno de sua fábrica de carros de luxo em Iracemápolis (SP).
No setor de eletrodomésticos e
eletroeletrônicos a situação não é mais favorável. Segundo a Associação
Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), em janeiro,
referido a janeiro de 2015, caíram as vendas nas seguintes percentagens: TVs
45%, eletroportáreis 50%, ar condicionado 58%, micro-ondas 34%, móveis e
eletrodomésticos 24,3%. A Whirlpool, fabricante das marcas Brastemp, cônsul e
Kitchen Aid, projeta uma retração de 10% nas suas atividades. A Mabe, dona das
marcas Continental e Dako, pediu falência.
A situação no comércio e nos serviços levou
ao fechamento de 104,6 mil empregos, em fevereiro. Os serviços encolheram 2,5%,
em 2015.
Em relação à economia mundial, as notícias
continuam preocupantes. O Banco Central Europeu (BCE) e os agentes econômicos
ainda consideram insuficientes as recentes medidas de “relaxamento monetário” e
redução dos juros (atualmente entre zero e -0,4). Também se considera difícil
mais flexibilização fiscal diante do exagerado endividamento. A solução
encontrada foi apelar para medidas que estimulem investimentos em pesquisa e
desenvolvimento, melhorias do “capital humano”, aumento de salários, mais
contratações e aprimoramento dos recursos humanos, melhorias no ambiente de
trabalho, assistência aos filhos dos empregados, etc. Medidas semelhantes têm
sido propostas pelo Banco Central do Japão (BoJ).
Todo este ambiente econômico adverso, que
tende a se agravar, não aplaca a ira dos agentes políticos engalfinhados em uma
luta de vida ou morte para roer os ossos do país e usufruir as benesses do
poder. Como diz o cientista político alemão Jens Borchert, da Universidade de
Frankfurt, em visita ao Brasil “A democracia brasileira está se
desintegrando.”.
Em meio a tudo isto estoura mais um
escândalo: o listão da Odebrecht. E desta vez estão arrolados mais de 200 nomes
de políticos de quase todos os partidos. O descaramento é de tal ordem que as
empreiteiras tinham constituído cartéis que tinham nomes e estatutos: “Sport
Clube Unidos Venceremos” e o “Tatu Tênis Clube”. Estava para concluir quando
explodiu a notícia do desembarque do PMDB do governo. Uma vibrante reunião com
a participação ativa de um dos mais corruptos políticos do país, o presidente
da Câmara, que, ao mesmo tempo, comanda o processo de impeachment da presidente
e impede o andamento de seu próprio processo de cassação.
É inacreditável!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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