Semana de 28 de março a 03 de abril de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, esta coluna semanal continuará
repetitiva por um longo tempo, pois não há sinais de recuperação da atividade
econômica interna. Pelo contrário, todos os cenários só se agravam. Segundo
estimativa do Banco Central, a produção industrial este ano recuará 5,8% e o
PIB, 3,5%. Estas projeções estão cada vez mais próximas da realidade. Em
fevereiro, o consumo de energia elétrica industrial, caiu 7,2% comparado a
janeiro, segundo a Empresa de Pesquisa Energética. Para este mesmo mês, dados
da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram a elevada capacidade ociosa
da indústria, fechando em 77,6% e a queda de 9,9% no faturamento real das
empresas.
As perspectivas sombrias para o ano chegam, de
maneira mais intensa, ao mercado de força de trabalho. Em fevereiro, foram
fechadas 104,6 mil vagas formais de emprego, conforme pesquisa do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e
Emprego. E, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a taxa de
desemprego passou de 7,6%, em janeiro, para 8,2%, em fevereiro. O comércio e os
serviços passaram a acompanhar o ritmo de fechamento de empregos da indústria.
O comércio fechou 55,5 mil vagas, em fevereiro, número que somado ao de janeiro
chega a 125,3 mil vagas fechadas no bimestre. A faixa de trabalhadores mais
jovens, entre 18 e 24 anos, é a que apresenta o maior nível de desemprego
(20,8%). Em fevereiro, o rendimento médio real do trabalhador caiu 0,3%.
Com rendimentos e nível de emprego em queda, a crise
não se reverterá. A demanda continuará a cair, com impacto negativo sobre as
vendas. A atividade varejista vai arrefecer e os consumidores não usarão o crédito
para consumir já que não terão como pagar pelo consumo adicional.
Evidentemente, o setor produtor não aumentará a produção. O desemprego vai
aumentar, os estoques vão subir juntamente com a capacidade ociosa e os
investimentos produtivos serão adiados. Há quatro anos seguidos que a
Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos registra queda nas vendas do
setor. Em 2016, a instituição prevê queda de 12% na Formação Bruta de Capital
Fixo.
Tal cenário, não foi produzido pela Operação
Lava-Jato nem pela crise política.
Todos, sem exceção, deveriam saber disso. Antes mesmo de estes últimos
acontecimentos virem à tona, a economia já andava mal. É claro que os dois
fatos afetam negativamente a economia. As descobertas da Lava-Jato provocaram a
rescisão de contratos com as empreiteiras envolvidas nos escândalos, o que
parou obras e gerou desemprego no setor da construção civil. E a crise política
engessou quaisquer decisões de âmbito econômico que deveriam passar pelo
Congresso Nacional. Porém, atribuir à crise econômica apenas os fatores
políticos é, no mínimo, ignorância ou má fé.
O fato é que, desde 2008, o governo tenta minimizar
os efeitos da crise econômica que afetou o mundo e o Brasil. Políticas
anticíclicas foram utilizadas e por algum tempo, produziram efeitos. Veja-se
que, após 2009, o crescimento do PIB foi baixo, mas positivo. Entretanto, o
custo veio sobre a forma de déficit público e, para saná-lo, exigiu-se o ajuste
fiscal, o que seria a solução de todos os nossos problemas. Na perspectiva de
finalmente ter de bandeja as reformas da Previdência, tributária e trabalhista,
o setor empresarial vibrou com a contratação de Joaquim Levy. As decisões
fiscais somadas à política de juros altos permitiram que a crise mostrasse a
sua força.
Mesmo assim, estes fatos não convencem grande parte
dos economistas que ainda teima em atribuir, à política econômica, a culpa pela
crise. Intervenções heterodoxas, segundo estes, provocaram a quebra da
confiança do empresariado e dos consumidores e a economia, diante destas
“experiências”, foi lançada ao precipício.
Agora, de mãos atadas, o governo testemunha o
afundamento da economia e enquanto a batalha do impeachment convulsiona a nação
em uma luta fratricida, todos parecem alheios a uma nova crise internacional que
se aproxima.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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