Semana de 18 a 24 de abril de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, a sorte está lançada! É quase
impossível que o Senado Federal reverta a situação política em favor da
presidente Dilma. Agora, o vice-presidente, Michel Temer, que no fim do ano
passado se auto-ofereceu como aquele que teria “a capacidade de reunificar a
todos”, já está compondo o seu governo debaixo do nariz do atual governo do
qual ele faz parte. Quero dizer, está tentando compor. Nas possíveis
alternativas estão as figuras do seu próprio partido, além do PP e do PSB, que
oferecem nada mais que uma série de listados na Operação Lava-Jato.
Vários nomes já estão cotados para os ministérios.
Para a Casa Civil, Moreira Franco; Eliseu Padilha, para o Ministério da
Infraestrutura; Nelson Jobim, para a Defesa; Cesário Melantonio para o
Ministério das Relações Exteriores e para o Ministério do Trabalho e
Previdência Social, Roberto Brant. Mas o problema está em quem vai assumir o
Ministério da Fazenda. O nome mais cotado deu um grande não a Temer. Armínio
Fraga ainda afirmou que o mercado internacional e o impacto do impeachment
mascaram a real situação da economia brasileira, que segundo ele, é
“dramática”. Restam agora a Temer três opções: Murilo Portugal, atual
presidente da Febraban, o senador José Serra e Henrique Meirelles.
O PSDB, de olho em 2018, afinou o discurso de que
vai “contribuir” e “ajudar” o novo governo. Este comprometimento
“descomprometido” deixa claro que o partido vê, na possibilidade de fracasso de
Temer, sua chance de ser o salvador da pátria nas próximas eleições. Fontes
próximas ao vice-presidente afirmam que para gerir o gasto público, o mesmo
proporá uma Desvinculação das Receitas da União (DRU) ampliada, que trará, por
exemplo, a desindexação dos programas sociais da variação do salário mínimo
além da reforma da Previdência Social, que flexibilizará o mercado de trabalho.
O “pato” então vai ser pago da pior forma possível, pelos trabalhadores, já que
os últimos números do mercado de força de trabalho dão a dimensão da crise
econômica.
A taxa de desemprego atingiu os dois dígitos, 10,2%,
e fechou o trimestre, encerrado em fevereiro, com 10,4 milhões de pessoas
desempregadas, o que representa uma alta de 40% no número de desempregados,
quando comparado ao mesmo período do ano passado. A situação dos trabalhadores
e da economia em geral, ainda vai piorar este ano, mas alguns economistas veem
sinais de que o fundo do poço está próximo. Elementos como o recuo da inflação,
a confiança estável e a melhoria do setor externo são citados como fatores que
trazem em si os embriões da recuperação. O economista Francisco Lopes, por exemplo,
indica alta do PIB de 1,6%, em 2017, em virtude do crescimento do setor de bens
de capital e do setor externo. Estas opiniões estão ancoradas na teoria dos
ciclos econômicos, que prevê a evolução da economia em períodos de elevação e
queda da atividade econômica. Segundo esta teoria, em algum momento a economia
passará da fase de crise à reanimação e a seguir ao auge. Analistas estimam que
esta passagem poderá se dar em algum momento do ano de 2017.
Mas, ainda há um cenário a considerar. Sam Zell,
investidor americano que previu a crise do mercado imobiliário nos EUA, afirma
que os baixos preços do petróleo, a queda na demanda por importados nos países
emergentes, a volatilidade nos mercados financeiros, a deflação, as taxas de
juros negativas e as flutuações no câmbio, provocarão em 2017, uma nova crise
na América.
Portanto, para os próximos dois anos de um possível
novo governo no Brasil, há alguns cenários a considerar: o fracasso total do
governo Temer, ao não conseguir em tão pouco tempo recuperar a economia; o
retorno da crise mundial em 2017, que enterrará qualquer recuperação que se
manifeste internamente. Nestes casos o governo Dilma será responsabilizado pela
“herança maldita”. Na terceira hipótese de uma efetiva recuperação econômica em
2017, sem os estragos causados pela economia mundial, o governo Dilma será
responsabilizado pela crise anterior.
Em qualquer caso, a presidente Dilma será coroada a
mais azarada gestora que o país já teve.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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