Semana de 04 a 10 de abril de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
É penoso falar de economia no momento
atual. A nação ferve e os ânimos exaltados colocam em confronto duas opções
opostas: “Fora Dilma” e “Não vai ter golpe”. Nesta dicotomia terá de haver um
derrotado. Não há terceira solução. Ninguém a quer. A direita “democrática”,
enquanto finge que não vê, açula os bolsomineons que ladram como cães raivosos
em meio aos apelos ao golpe militar e à restauração da ditadura. O governo joga
todos os seus trunfos para sobreviver. Todos aguardam ansiosos o primeiro
defunto.
Enquanto isso, a economia segue o seu curso
que não é perturbado por maiores interferências, enquanto todos brigam. O
governo não tem tempo para governar, ocupado em esquivar-se dos golpes que
recebe de todos os lados, e a oposição, enquanto critica o imobilismo do
governo, tudo faz para impedi-lo de mover-se.
A vontade que se tem é entrar no debate
político e deixar de lado esta fria e apática economia onde nada de novo
acontece. No entanto, a função desta coluna é analisar a conjuntura. Não nos
resta outra alternativa senão dar conta desta espinhosa missão. Vamos a isso!
As
observações que temos feito em relação à situação precária da economia mundial
continuam a se confirmar. As reações são visíveis. Para estimular a economia o
Banco Central Europeu (BCE) mantém sua ação de comprar papéis de dívida de
corporações. Estima-se que, só de “covered bonds”, títulos de dívida emitidos
por bancos, o estoque do BCE já atinge 200 bilhões de Euros, cerca de 28% do
total do mercado. Agora, a intenção é comprar também papéis de empresas não
financeiras. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê um crescimento
“decepcionante” do comércio mundial este ano, inferior a 3% em volume. Os
dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da OMC, do Banco Mundial
(BM), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), e da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), reuniram-se com a premier alemã
Angela Merkel, em Berlim, e concluíram que “o crescimento continua medíocre,
frágil e permanecerá abaixo das tendências históricas”. Calcularam que 197
milhões de pessoas estavam desempregadas, em 2015, e mais 3 milhões perderão o
emprego nos próximos dois anos. Nos EUA, levando em consideração esta situação
e a lenta recuperação da economia americana, o Federal Reserve (Fed), banco
central americano, adiou a elevação dos juros afirmando que “os acontecimentos
econômicos e financeiros globais continuam representando riscos”. Com a
preocupação de tentar estimular a economia mundial, todas as propostas são bem
vindas. Adair Turner, presidente do Institute for New Economic Thinking, centro
de estudos fundado por George Soros, propõe a solução conhecida como
“helicopter Money” (jogando dinheiro de helicóptero). Os BCs emitiriam notas
que seriam distribuídas às pessoas de qualquer forma como, por exemplo,
depositando US$ 1.000,00 na conta corrente de todos os cidadãos.
A situação da economia nacional é ainda
mais delicada. Os dados são abundantes e preocupantes. Afirma-se o quadro de
uma típica fase de crise do ciclo econômico. As montadoras têm, no primeiro
trimestre, a pior produção dos últimos 13 anos, de acordo com a Anfavea. No
caso dos caminhões, o prazo sobe para 16 anos e, neste setor, só 20% da
capacidade produtiva instalada está sendo usada. Espera-se uma queda de 10% na
produção de motos e, na de barcos de recreio, a queda já se situa em torno dos
50%. Na construção civil o prejuízo, no ano passado, foi de R$ 2,91 bilhões. A
crise estende-se ao comércio e ao setor de varejo. Cerca de 10% das lojas nas
cadeias de shoppings estão em situação difícil e aumenta o número de empresas
que pediram recuperação judicial ou mesmo falência. No primeiro trimestre os
pedidos de recuperação aumentaram 165,7%, segundo a Serasa. A consequência é o
aumento do desemprego, queda dos salários e da renda e o empobrecimento da
população. Sem demanda, não há vendas, os estuques aumentam e as fábricas
param. Por enquanto não surge nenhuma indicação de que tal quadro tenda a se
inverter.
2016 é um ano perdido qualquer que seja a
solução do conflito político. E é bom rezar para que a economia mundial não
entre em nova fase de crise.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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