Semana de 11 a 17 de abril de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O governo foi derrotado e a Câmara aprovou
a continuação do processo de impeachment da presidente Dilma, que agora segue
para o Senado, a quem caberá a palavra final. O processo é bastante complicado
com a criação de nova comissão e várias votações. Na votação definitiva a
maioria de 2/3 deporá a presidente. Antes disso ela terá de afastar-se por até
180 dias enquanto decorrem as apurações finais. Neste caso o vice-presidente
Temer assumirá provisoriamente até a conclusão. Se o impeachment não for
aprovado a presidente reassumirá o governo. Temos, portanto, um longo processo
durante o qual o país ficará parado. Enquanto isso Temer mantém os
entendimentos que considera convenientes para constituir o seu possível
ministério.
O espetáculo que a Câmara dos Deputados
ofereceu ao país foi uma das coisas mais deprimentes de que se tem notícia. Uma
vergonha indescritível. O que se pode elogiar é o comportamento das duas
torcidas pró e contra Dilma que, apesar de ruidosas, souberam manter uma
convivência civilizada não se registrando agressões significativas. Agora,
enquanto uns comemoram a vitória e outros choram a derrota o país continua a
afundar-se na crise. Os dados mostram a queda nas vendas, o aumento do
desemprego, o aumento da inadimplência tanto das empresas como dos
consumidores, a queda da produção de cimento e de materiais de construção o que
mostra a desaceleração da construção civil, etc. A Confederação Nacional da
Indústria (CNI) já revisou para baixo suas estimativas para o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) e para a produção industrial. Calculam que a queda
do PIB será de 3,1% e a da produção industrial 5%.
A situação internacional também continua
com a mesma tendência. A divulgação do “Panorama Econômico Mundial”, publicação
do Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a constatar que a recuperação
global é desigual, lenta e está demorando mais que o previsto. Alertam para a
situação dos países emergentes e particularmente para a China. Estimam um
crescimento da economia mundial de 3,2%, em 2016. O diretor do departamento
monetário e de mercado de capitais do FMI defendeu a adoção de juros negativos
pelos BCs e de políticas monetárias não convencionais. Afirmou que as medidas
adotadas até aqui não foram suficientes e são necessárias “medidas adicionais”
sob pena da economia global cair em uma estagnação financeira. A Eurostat, agência de estatísticas da União
Europeia mostrou que, em fevereiro, a produção caiu 0,8%, a maior queda em 18
meses. Tanto o FMI como o Banco Mundial consideram que a situação política do
Brasil dificulta a superação dos problemas que a economia do país enfrenta.
Vive-se agora no país um período de ressaca
pós-impeachment. Dentro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), considerada “a casa do impeachment”, o seu presidente Paulo Skaf
procura desculpas para justificar junto a setores empresariais descontentes, o
envolvimento “inusitado” da entidade que “fugiu aos padrões” e não comenta o
custo da campanha que promoveu, sendo acusado de manipulação em função de sua
intenção de concorrer ao governo de São Paulo pelo PMDB. A CNI resolveu também
entrar na guerra contra o governo enviando carta a todos os parlamentares com a
sua posição. E as propostas para uma política econômica alternativa começam a
surgir. É claro que todas defendem os interesses dos empresários: rigorosa
austeridade fiscal, elevação de impostos, reforma da previdência,
flexibilização dos contratos de trabalho, simplificação do licenciamento
ambiental, revisão da política de salário mínimo, privatização de serviços
públicos, etc.
No lado oposto, as organizações sociais
preparam-se para a defesa dos seus interesses voltando a disputar as ruas e
preparando manifestações. Aproximam-se, portanto, grandes embates e há rumores
inquietantes em Brasília. Especula-se sobre a decretação de um “Estado de
Defesa” que seria autorizado pelos “Conselhos da República” e da “Defesa
Nacional” e aprovado pelo Congresso. Isto implicaria na suspensão das garantias
constitucionais e adoção de medidas de exceção.
Atenção! O golpe branco pode virar
vermelho!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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