Semana de 06 a 12 de junho de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. O novo governo que se forma, continua a
tentar convencer os seus governados de que as velhas ideias tratadas como
novas, tirarão o país do atoleiro. O mercado financeiro recuou do otimismo
desenfreado inicial e a classe trabalhadora, sem lobistas, assiste inerte às
discussões das reformas que passarão pela flexibilização das relações de
trabalho. Já o setor empresarial, capitaneado por seu representante, Paulo
Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e
notável apoiador do impeachment, se apressou na autodefesa junto ao presidente
interino Michel Temer. Em um almoço que reuniu cerca de 200 empresários, foi
manifestado o apoio à nova equipe econômica condicionado, é claro, ao
atendimento de uma lista de reivindicações que passam pela necessidade de
redução da taxa de juros, de expansão do crédito, principalmente para
exportação, e do andamento rápido do programa de concessões em infraestrutura.
Paulo Skaf foi bastante direto em relação ao aumento da carga tributária: “...
Nossa posição é muito clara. Somos radicalmente contra”.
Os números da indústria só reforçam o cenário
desolador. Entre março e abril, a produção industrial subiu apenas 0,1%. O
gerente responsável pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, disse que o
número já foi pior, mas não confirma a recuperação da indústria brasileira.
Dados sobre o investimento da indústria de transformação em máquinas,
equipamentos e instalações, reforçam esta afirmação. Pesquisa da Fiesp,
realizada com 1.120 empresas, apurou que 56,6% delas não realizaram
investimentos em 2015 e que 73,2% não irão investir este ano.
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, reafirmou a
previsão sombria para a economia brasileira, que terá provavelmente, segundo
ele, a maior queda de sua história no biênio 2015-2016. Mas, o salvador da
Pátria está a postos e consertará os erros do passado. Meirelles acredita que
se o Congresso aprovar as medidas anunciadas não há “... dúvidas de que
chegaremos nos próximos trimestres a retomar o crescimento do Brasil de uma
forma e com um ritmo que pode surpreender.” Ele é mais um dos que acreditam no
automatismo, assim como Guido Mantega e Joaquim Levy. Nada mudou.
A inflação, segundo o IBGE, acelerou em maio
influenciada pelo aumento das taxas de água e esgoto. Nesse mês, o IPCA (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta de 0,78%. As projeções dão
conta de que a inflação, no fim do ano, ultrapassará os 7%. Outros reforços da
aceleração inflacionária acontecida em maio vieram do IC-Br o (Índice de
Commodities Brasil) apurado pelo Banco Central e do IGP-DI (Índice Geral de
Preços – Disponibilidade Interna) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O
ICBr que envolve os preços das commodities agrícolas, metálicas e energéticas
subiu 1,47%, em maio, após queda de 3,09%, em abril. Já o IGP-DI cresceu de
0,36%, em abril, para 1,13%, em maio, aumento que foi provocado pela subida dos
preços dos produtos agrícolas. A última decisão de Tombini à frente do Banco
Central foi a de manter a taxa de juros inalterada, na última reunião do Copom.
A nova equipe do órgão, a ser comandada por Ilan Goldfajn, terá como desafio
manter o combate à inflação. E como o diagnóstico não mudou provavelmente será
administrado aquele único purgante conhecido, o aumento das taxas de juros.
Portanto nada mudou. Grande parte dos personagens do
novo governo está envolvida em denúncias de corrupção. O Congresso continua a
manter os cargos dos seus corruptos-mor. O diagnóstico econômico é o mesmo. A
equipe econômica tomará as mesmas decisões de antes. Até a avaliação do novo
presidente se assemelha à da gestão anterior. Pesquisa de opinião contratada
pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que 54,8% avalia que o
governo Temer é igual ao anterior e 46,6% dizem que o nível de corrupção é o
mesmo do da gestão anterior. O índice de aprovação do governo foi de 11,3% para
Temer. Na gestão de Dilma, o último índice foi de 11,4%.
Nada mudou. Trocaram seis por meia dúzia (talvez um
pouco mais podre).
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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