Semana de 08 a 14 de agosto de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Não há maiores novidades na economia
mundial. Tudo continua no mesmo ritmo. Os EUA caminham lentamente o que leva o
Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, a adiar a elevação das taxas de
juros. A União Europeia (UE) também se arrasta, acompanhada pelo Japão (com
crescimento zero) e a China com a economia em desaceleração. A atitude do Banco
Central Europeu (BCE) e demais bancos centrais continua de afrouxamento
monetário (Quantitative Easing), jogando dinheiro nos bancos através da compra
de títulos podres. Com o Brexit, a situação da economia do Reino Unido piorou e
as consequências estão se amplificando.
Aqui no Brasil as coisas também seguem o
mesmo rumo. A preocupação do governo continua a ser de criar a impressão de que
as expectativas estão melhorando e com isto virá a recuperação. Alguns dados,
no entanto, apontam em direção contrária. A publicação “Prisma Fiscal”, do
Ministério da Fazenda, mostra piora nas projeções do mercado para os déficits
primários de 2016 e 2017. O ministro da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, Marcos Pereira, do PRB, ameaçou demitir-se se o governo não
implementar o prometido ajuste fiscal. Isso mostra queda na credibilidade do
governo diante das concessões que têm sido feitas aos políticos e que implicam
em aumento das despesas. Até o
carrancudo Meirelles mostra dificuldades em tirar do papel suas tão propaladas
medidas de austeridade. A prometida restauração do sacrossanto tripé
macroeconômico já está manca. O pé do “câmbio flutuante” foi arrancado quando o
BC, diante da explosiva valorização de 26% do real, no acumulado do ano,
interveio no mercado elevando de US$ 500 para US$ 750 milhões a oferta de swap
cambial reverso (corresponde à compra de dólares no mercado futuro), no dia 11
passado, e mais US$ 750 milhões, no dia seguinte. O BC não sabe o que fazer com
a especulação do capital financeiro internacional que, diante de excesso de
liquidez mundial, das baixas taxas de juros internacionais e elevadas taxas no
Brasil realiza operações de “carry trade” trazendo bilhões de dólares, obtidos
a juros baixos, para aplicações no Brasil.
Outros indicadores mostram que a situação
econômica continua em desaceleração. O faturamento dos supermercados, em julho,
caiu 1,2% ante junho e o acumulado do ano mostra queda de 8,2%, em relação ao
mesmo período de 2015. Os pedidos de falência e recuperação judicial, no
acumulado de janeiro a julho, cresceram 75%, segundo a Serasa Experian, em
relação a 2015. O Grupo GTFoods, do Paraná, a terceira maior empresa do país
produtora de frangos, pediu recuperação judicial. O crédito caiu 4,4%, em 12
meses. Mesmo com estes sintomas de desaceleração, a inflação, medida pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), entre junho e julho,
subiu de 0,35% para 0,52%.
Este preocupante quadro só tende a se
agravar com as intrigas e rumores que se multiplicam de Brasília. O interino
Temer entrou descaradamente na batalha do impeachment pressionando senadores.
Há negociações com o novo presidente da Câmara para adiar o julgamento de
Eduardo Cunha para depois da votação do impeachment, com medo que, numa delação
premiada, o deputado comprometa o resultado da votação dos senadores. Circula
também a existência de um acordão para a aprovação de uma anistia para os
políticos da lava jato diante de outra delação, a de Odebrecht, que poderia
afetar 200 parlamentares.
Neste ambiente, o presidente interino Temer
concedeu uma entrevista ao Jornal Valor Econômico. Como vitórias, apresentou a
aprovação na Câmara da meta fiscal de R$170 bilhões e da DRU. Como metas
futuras, restaurar a confiança e depois incentivar os investimentos. Afirmou
que não tem política industrial e pretende privatizar “tudo que houver para
vender”. Depois de sua confirmação no cargo dará início às reformas trabalhista
e da previdência. Perguntado se isso não provocaria reações afirmou que “Sim,
vai ser uma luta feroz”. Só não acrescentou que já havia preparado o terreno
para isso com o seu trio da repressão: Alexandre de Morais, na Justiça (O
truculento ex-secretário de segurança de SP), Raul Jungman, na Defesa (o
ex-comunista) e o General Sergio Etchegoyen, no GSI e Abin (sobrinho e filho de
generais ligados a torturadores). Parece uma boa equipe para enfrentar a
ferocidade esperada. Os trabalhadores que se cuidem.
A guerra está declarada.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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