Semana de 31 de outubro a 06 de
novembro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto o ministro Meirelles, travestido
em camelô de luxo, circula em um “road show” pelo mundo tentando vender o país
aos “investidores” estrangeiros, o presidente Temer, em mais um ataque de
bondades e indo contra a sua pregação de austeridade, libera alguns bilhões
para obras inacabadas e gasta meio milhão em uma festa de homenagem a
sambistas, onde anuncia o aumento da verba do ministério da cultura que ele
tentou reduzir à condição de secretaria. Isto para não falar da farra com os
jatinhos da FAB utilizados por vários ministros para passar o fim de semana em
suas casas.
Na outra ponta da sociedade a semana foi
marcada pela truculência da polícia de São Paulo, bem preparada pelo atual
ministro da justiça, contra o MST, com a invasão da Escola Nacional Florestan
Fernandes, em Guararema (SP). Outras operações foram executadas contra dois
acampamentos do Movimento no Paraná e em Mato Grosso do Sul, com prisões de
líderes. Temer cumpre o prometido. Outras violências estão a caminho.
Os estudantes que se cuidem.
Enquanto isso continua a repercutir o
resultado das eleições municipais que marcaram a derrota esmagadora do PT, o
que já era esperado. É lamentável que este resultado não produza nenhuma
reflexão entre os petistas que continuam a desperdiçar forças em defesa dos
seus corruptos.
Por seu lado, o governo, interpretando o
resultado eleitoral como uma vitória sua, acelera a execução de seus projetos.
Pressiona o senado para aprovação da PEC 241, carimbada com novo número, e
empurra o projeto de reforma da previdência. Sobre esta, o que se discute é o
caráter das mudanças que serão propostas, pois se espera muita reação do setor
sindical e dos grupos sociais atingidos. Já se fala em “reforma possível”,
diante do temor de esticar a corda além da tolerância da população.
Outras interpretações dos resultados
eleitorais acirraram as contradições entre os partidos da base do governo e
dentro deles. Já começa a disputa pela próxima eleição do novo presidente da
câmara disputado abertamente pelo DEM, centrão e PSDB.
Enquanto ferve o mundo político a economia
arrasta-se. Os arautos do governo continuam a proclamar o crescimento das
expectativas empresariais favoráveis e a lamentar o comportamento da realidade
econômica que teima em contrariar as aspirações. Procura-se então esconder os
dados. Apesar disso as notícias circulam. A Tendência Consultoria Integrada
estima que o poder de compra dos brasileiros vá encolher 7%, em 2016. Grandes
companhias de consumo têm estimativas pessimistas para as vendas e reduzem seus
investimentos. Embora comentem sobre as expectativas positivas reconhecem a
dura realidade. Para Ronaldo Iabrudi, presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA),
“No mundo real, no dia a dia da loja não se percebe essa recuperação”. Para
Bernardo Paiva, presidente da Ambev, “houve melhora nos indicadores
macroeconômicos no curto prazo, mas o consumo ainda está restrito”. Para Abílio
Dinis, presidente do CA da BRF, “o ambiente de negócios mostrou-se mais adverso
do que o previsto”. A Via Varejo, com as redes Casas Bahia e Ponto Frio “não
registra aumento no fluxo de clientes nas lojas”. No Ponto Frio as vendas
caíram 21% entre julho e setembro. Neste período a queda na Ambev foi de 4,1%
para as cervejas e 8,1% para os refrigerantes.
Para o quarto trimestre, a FGV prevê um
fraco desempenho para a indústria e os serviços. As avaliações dos empresários,
para outubro, mostram queda de confiança em 15 dos 19 segmentos pesquisados. O
Boletim Focus do BC, melancólico, constata que as expectativas positivas
construídas ao longo dos últimos meses ainda não tiveram efeito sobre a
atividade econômica.
Com efeito, a divulgação feita pelo IBGE,
dos dados de setembro, mostrou um acréscimo na produção industrial de apenas
0,5%, em relação a agosto. No entanto, para o terceiro trimestre o resultado
apontou uma queda de 5,5%. Meireles já mudou a conversa e agora fala em
recuperação apenas em 2017.
Vamos esperar para ver.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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