Semana de 19 a 25 de dezembro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto 2016 termina sem deixar saudades,
mas desagradáveis lembranças, 2017 se aproxima carregado de nuvens de
tempestade.
Embora desejando a todos os nossos leitores
as maiores felicidades no novo ano, temos a desagradável missão, como analistas
de conjuntura que somos, de alertar para as dificuldades que nos esperam.
Se a desgraça alheia pode servir de
consolo, situação muito mais difícil é a do presidente Temer. Começa com a
desaprovação ao seu governo, pela população. A pesquisa Pulso Brasil, realizada
pelo Instituto Ipsos e divulgada no passado dia 22, mostrou uma situação
deplorável. Dos entrevistados, 77% desaprovam o presidente. Os que consideram
sua administração ruim ou péssima somaram 62% e só 8% consideram-na ótima ou
boa. 87% acreditam que o país está no rumo errado. Temer só perde para Renan
Calheiros, presidente do Senado, cuja desaprovação chega aos 79%.
Sob pressão, o presidente passou todo o
café da manhã promovido por ele no dia 22, a justificar seus ministros acusados
nas novas delações e a desculpar-se de suas desastradas ações. Em dado momento,
mesmo sem ser perguntado, desabafou: “Não tenho pensado em renunciar”. O sólido
apoio que o governo pode apresentar é o do Congresso onde ele ainda goza de uma
confortável maioria comprada a peso de ouro. Lamentavelmente este congresso é
talvez o mais corrupto que o país já conheceu. Há outro apoio que caracteriza a
essência do governo: o de todas as centrais nacionais dos empresários. Estamos
assistindo aos desmandos descarados de um governo a serviço dos capitalistas e
particularmente do capital financeiro.
Como resultado disso e da ação da “equipe
econômica dos pesadelos” vemos o país continuar a enterrar-se na crise. O
próprio governo reconhece que a recuperação poderá começar no último trimestre
de 2017, embora o ministro Meirelles tenha feito algumas insinuações que a
retomada poderá ocorrer ainda no primeiro trimestre.
A observação dos dados aponta para a
continuação da crise. Segundo o Ipea, a análise da Formação Bruta de Capital
Fixo (FBCF) mostra que os investimentos caíram 2,6%, em outubro, em relação a
setembro. No mesmo período, outros indicadores confirmam a queda. O consumo
aparente de máquinas e equipamentos caiu 1,5%. A construção civil 3,9% e a
produção de bens de capital recuou 2,8%. As vendas de aço plano recuaram 2,9%,
em novembro em relação a outubro segundo dados do Inda – Instituto Nacional dos
Distribuidores de Aço. Um estudo realizado pela Pezco Microanalysis mostrou que
os investimentos em infraestrutura, em 2016, foi o menor desde 2000 ficando
reduzido a 1,5% do PIB, o que mal dá para repor o desgaste dos equipamentos.
Segundo o IBGE, as vendas no varejo restrito diminuíram 0,8% e no varejo
ampliado (inclui veículos e materiais de construção) a queda foi de 0,3%. Pela
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) do IBGE, o
desemprego atingiu 11,8% e a massa salarial real recuou 3,2%, no trimestre até
outubro. Nos 10 primeiros meses do ano foram extintos 792,3 mil vagas de
trabalho.
No Senado, por poucos votos, Temer
conseguiu aprovar a PEC 55 que limita os gastos do governo e já começou a
chiadeira empresarial. Representantes do setor agrícola já se mostraram
preocupados com a possibilidade da redução dos subsídios à lavoura. Temem que
os créditos para custeio agropecuário, com juros subsidiados, também sejam
limitados pelo teto estabelecido pela PEC.
O governo recuou da urgência na aprovação
da reforma da previdência e da legislação trabalhista e para acalmar os ânimos
avançou com um pacote de bondades que não está a convencer ninguém. A liberação
de contas do FGTS terá pouco impacto no consumo e já irritou o setor
imobiliário. A Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)
já demonstrou sua preocupação com a falta de recursos que poderá ocorrer,
chamando a medida de “populista para desviar o foco de outras questões”.
Só o BC mostrou-se satisfeito com o
controle da inflação. Seu presidente, apelando para seus conhecimentos
náuticos, afirmou que conseguiu ancorá-la e completou com uma intervenção
cirúrgica: está quebrando sua espinha dorsal.
O perigo é ele errar o alvo e quebrar a
economia depois de ancorá-la, levando-a a um novo mergulho ao abortar a
possível recuperação.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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